Dormimos juntas de novo e, no dia seguinte, fomos trabalhar. Confesso que, por pior que me sentisse, a presença de Débora realmente me fazia me sentir melhor. É tão bom quando temos uma amizade que nos preenche e nos ajuda, mesmo a gente sendo do tipo que prefere sofrer sozinha, como eu.
Entramos separadas, pra não chamar atenção pra nós, como ela me havia pedido, e fui pra minha baia. Me sentei em paz, estava sozinha, e comecei meu dia como gostaria de ter feito desde o começo... em silêncio.
Meu rendimento foi bem melhor naquela manhã, pois Claudinha precisou faltar. Falando assim parece que não gosto dela, mas eu gosto sim, o meu único problema estava sendo sobre suas opiniões, tanto a respeito do meu pós término, quanto sobre os comentários feitos no dia anterior.
Pensei muito nisso e é bem chato quando desvalorizam minha sexualidade por causa de coisas como aquelas, pois não é porque não falo de mulheres que não as desejo, mas também consigo compreender o pensamento, só não sei realmente o porquê acontece isso comigo, de falar mais sobre homens... enfim.
– "Almoça comigo hoje?" – Me perguntou Caio através do chat.
Fiquei alguns minutos refletindo a respeito, porque não sabia o que queria fazer e pensei logo na Débora, embora não tivesse o porquê pensar, já que nunca foi do nosso costume almoçarmos juntas, ou seja, eu sabia que só fizemos isso porque ela tava preocupada comigo e ta tentando gerar um ambiente menos ruim pra mim.
– "Vou almoçar com o Caio, tudo bem pra você?" – Perguntei pra ela.
– "Claro, sem problemas." – Me respondeu.
Por um instante me senti estranha com sua resposta, como se em algum lugar dentro de mim eu estivesse esperando por alguma resposta diferente, não sei. Pro Caio enviei confirmando e acho que seria legal, já que sempre nos demos muito bem e já almoçamos algumas vezes juntos, mesmo que em grupo... acho que precisava conversar com pessoas diferentes.
Na saída pro almoço eu o encontrei, sozinho, no corredor dos elevadores e estranhei, pois como disse, nunca fomos sozinhos, então perguntei:
– Cadê as meninas? Elas não vem?
Ele pareceu meio enrolado pra responder, talvez um pouco constrangido, e disse:
– Elas estão terminando umas paradas ainda, aí falei que ia na frente.
Achei aquilo estranho, mas não comentei mais nada a respeito e fomos. O restaurante era selfservice próximo ao nosso trabalho. Entramos, pegamos nossa comida e fui seguindo-o. Estranhamente ele quis se sentar em uma mesa mais afastada das demais pessoas e, depois de me esperar sentar, ele se sentou ao meu lado e não a minha frente, como sempre fizemos.
Durante a refeição e da nossa conversa, eu sentia seu comportamento diferente, como se houvesse uma inclinação na minha direção, além de um olhar que parecia mais insinuante do que o de costume, e isso me gerou um pouco de ansiedade, mas ao invés de falar algo, eu me calei, porque não queria chateá-lo caso fosse apenas minha impressão.
Tudo ia relativamente bem, até que ele realmente se inclinou, devagar, na minha direção, e me beijou. Eu me senti paralisada por alguns segundos sem saber o que fazer, até porque não sabia nem o que queria... fiquei confusa. Por instinto me afastei, o olhei séria e perguntei:
– O que foi isso?
– Não gostou? – Pareceu preocupado.
– Não é que não tenha gostado, mas por que você fez isso?
– Andréa, eu sou afim de você há muito tempo, pensei que já tivesse percebido.
– Eu nunca percebi. – Era sincero. – Você nunca falou nada a respeito.
– Tudo bem, – Sorriu. – mas agora você sabe. – Respirou fundo. – Você acha que tenho chance?
– Olha, Caio, não sei, nesse momento eu não sei de nada, eu acabei de terminar um namoro de cinco anos, então eu realmente não sei.
– Fui muito rápido, então?
– É melhor a gente voltar. – Falei já me levantando.
Eu realmente me senti muito confusa e parecia que meu motivo ia além dos meus cinco anos de namoro, mas não conseguia entender o porquê estava me sentindo daquele jeito, só sei que estava incomodada, como se tivesse feito algo de errado, embora eu soubesse que não tinha nada de mais no que havia acontecido.
Subimos, ambos constrangidos e em silêncio, ao menos a maior parte do tempo. Entramos e nos despedimos, fomos cada um pro seu lado, mas ao invés de ir pra minha mesa, eu fui direto pra copa, pois precisava de um café... precisava pensar, e lá era sempre um ótimo lugar pra isso.
– Você ta bem? – Me perguntou Débora.
Eu a olhei assustada, pois não esperava vê-la ali. Gaguejei, não sei o porquê e, tentando sorrir, perguntei:
– Por quê? Não pareço bem?
– Parece que viu um fantasma. – Brincou.
– To bem sim, só to pensativa. Você já almoçou?
– To indo agora, e você? Foi tudo bem no almoço com o Caio?
Aquele momento que você implora pra que não te façam perguntas difíceis. Tentei manter a naturalidade e respondi:
– Foi sim, foi tudo bem.
– Ta bom então, vou indo lá.
– Vai sozinha? – Perguntei antes dela sair.
– Vou sim, mas tudo bem, não tenho problemas com isso. – Sorriu. – Vou lá, qualquer coisa me liga.
Débora saiu e eu fiquei vendo-a se afastar pelo corredor enquanto cumprimentava as pessoas que passavam por ela... eu tava estranha e não entendia o porquê, mas meu sentimento era de que eu devia ter esperado pra ir com ela. Respirei fundo, balancei a cabeça e voltei pra minha baia... eu tinha que ter esperado... tinha, ou queria?
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LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...