24- Casal?

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– Por que você acha isso? – Perguntei, tensa e surpresa.

Como assim ele já desconfiava de nós antes mesmo de eu ficar solteira? O que tava acontecendo que eu perdi? Aquela informação deu um nó na minha cabeça, porque enquanto ele me explicava, comecei a visualizar as tais situações que ele ia mencionando e, realmente, pra quem visse de fora, poderia parecer, ainda mais porque Débora é assumidamente lésbica.

– Eu só não levava fé porque você nunca pareceu gostar da fruta, mas depois que vi sua reação naquele dia do bar, fiquei ainda mais em dúvida.

– Qual reação?

– Você tava com ciúme dela, enquanto ela parecia super de boa.

E eu realmente senti ciúmes dela naquela noite, por causa da mulher que ela beijou e que acabei vendo, justamente por ter ido atrás dela. Não prolongamos mais o assunto, desconversei dizendo que precisava voltar, mas não respondi nem que sim e nem que não àquela dúvida a nosso respeito.

Voltamos pro nosso andar e, enquanto ele ia pro setor dele, eu ia pra copa, pois existem momentos que só um bom café pra conseguir nos realinhar... coisa de adulto. Me encostei em uma parede e fiquei beliscando o meu pequeno copinho. Meu olhar estava perdido e minha mente tão perdida quanto, embora cheia de pensamentos aleatórios por causa do que tinha acabado de ouvir.

– Você ta bem? – Me perguntou Débora, ao se aproximar da copa.

Eu a olhei com um olhar vago e pensativo, pois era justamente sobre ela que eu tava pensando, mas não sabia se era momento pra falar a respeito, ou se precisava de mais tempo pra absorver tudo que estava gritando dentro de mim. Será que meu namoro era uma farsa? Como que eu nunca percebi nada disso que as pessoas me falavam?

Meu namoro não era mágico como eu pensava e, por isso, acho que estava presa a uma ilusão da minha cabeça e não a uma realidade. Se não houvesse concordância da minha parte, será que me sentiria da maneira com a qual estava me sentindo? Será que, de alguma forma, o sentimento que explodiu agora já existia dentro de mim, mas era abafado por eu estar em um relacionamento? Será que isso fazia de mim uma traidora?

Não creio que o faça, até porque nem havia consciência a respeito de nada disso, mas me perguntei se esse não pode ter sido um dos motivos do meu término, já que o Gui demonstrava sentir ciúmes da minha amizade com a Débora. Será que ele percebeu aquilo que nem eu tinha notado?

– Pelo visto não ta, já que nem me respondeu. – Disse ela parecendo ficar preocupada.

– Desculpa. – Falei, voltando pra realidade. – É que existem coisas que começam a fazer sentido e que eu nunca tinha percebido, aí to aqui processando isso.

– Tipo o quê?

Insisti na ideia de manter aquela parte da informação pra mim e, desviando o assunto, disse:

– Ultimamente mais de uma pessoa já me disse que meu namoro era como se não existisse e parece que só eu não percebia isso.

– Ah sim... isso acontece, tem coisa que a gente só se dá conta depois que começa a olhar de fora.

– Pois é, e eu to começando a enxergar isso... enfim, eu to bem, só to processando algumas ideias novas, nada demais.

– Foi tudo bem no almoço com o Caio, então?

– Foi sim, ele perguntou se tinha chance comigo, mas eu disse que era só amizade mesmo.

– Ah é, você disse? – Disse sorrindo, de forma maliciosa.

Dei um empurrão de brincadeira e disse pra ela parar de graça, porque entendi a intenção com a qual falou daquela maneira. Ela achou graça e disse que estava indo almoçar. Rolou um clima entre nós, que estávamos sozinhas na copa, mas preferimos segurar, até porque ali era nosso ambiente de trabalho.

Débora saiu e fiquei vendo-a se afastar. Minha cabeça tava uma bagunça, mas aquele era um processo importante que eu precisava passar e sabia disso, minha única dúvida era sobre o que realmente sentia por ela, já que, aparentemente, nem era de hoje que tudo isso vinha acontecendo.

Voltei pra minha baia e me sentei, por sorte, sozinha, e tentei voltar a trabalhar, mas minha mente ainda tava confusa com tudo aquilo. Claudinha voltou do almoço e se sentou em sua mesa. Eu me virei pra ela e perguntei:

– Você acha que eu e Débora parecemos um casal?

– Eita, do nada isso?

– Só pensa e me responde, por favor.

– Olha, casal eu não sei se digo, mas ela sempre teve um comportamento diferente com você, isso é verdade.

– Como assim?

– Ah, sei lá, eu acho que ela sempre te tratou como se vocês fossem alguma coisa, mas daí a chamar vocês de casal, não sei.

– Entendi.

Bom... levando em consideração a opinião dela sobre a minha sexualidade, aquela resposta era bem semelhante a do Caio, com a única diferença de que Claudinha não estava com a gente no bar daquela noite e vivia em negação sobre o que eu gosto ou deixo de gostar.

Aquele era um bom dia pra esse tipo de reflexão, já que iria dormir sozinha, e foi o que fiz, pois Débora me deixou em casa, no final do dia, e não falei sobre ela subir, pois realmente precisava daquele momento pra mim. Cheguei em casa, tomei meu banho, me sentei na sala e fiquei refletindo.

– Oi. Você não vem mais pra academia? Saudade de você, moça. – Me mandou Flávio.

Pois é, ainda tinha isso.


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