19- Sinto Sua Falta

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Nada aconteceu, absolutamente nada, embora tenha havia um clima ou outro, e olha que nós passamos o final de semana inteiro juntas, fazendo várias coisas, incluindo coisinhas de casal, como ver filme agarradinhas e etc., mas todas as vezes que havia alguma possibilidade, ou algo nos atrapalhava, ou uma de nós fazia isso, fosse de propósito, ou por burrice... a burrice, no caso, fica por minha parte.

Nosso domingo foi mais um dia chato e de despedida, até porque, mesmo que não tenhamos saído do campo da amizade, era essa a nossa base e vê-la indo embora era algo doloroso, mas necessário. Nós nos abraçamos forte e, em meio àquela emoção, falei:

– É incrível como o tempo voa quando estamos em boa companhia.

– Concordo.

Nos olhamos e ela disse:

– Semana que vem não vou poder vir pra cá na sexta, porque vou ter que viajar por causa do trabalho, então só devo estar de volta no sábado à noite.

Aquela informação me angustiou por mais de um motivo. Eu teria que enfrentar a sexta e o sábado sozinha e não iria vê-la fora do trabalho. Fiquei triste, mas não tinha jeito, a única coisa que fiz foi perguntar:

– Quando você viaja?

– Quinta à noite, é um congresso que vai acontecer na sexta à noite, mas aí já vou na quinta e volto no sábado.

Eu a abracei de novo e, com toda sinceridade, disse:

– Já to com saudade.

– É rápido, você consegue ficar sem mim. – Brincou. – Agora preciso ir, pra não ficar muito tarde.

Depois que Débora se foi e entrei em meu apartamento, senti novamente o mesmo vazio do outro final de semana, então comecei a enxergar o que estava acontecendo comigo, e foi aí que tive mais medo. Ela era o mais próximo de uma melhor amiga pra mim, mas eu sabia que tava sentindo além disso por ela, ah eu sabia, mesmo que tenha tentado ignorar, só que eu tinha que tirar aquilo da minha cabeça... do meu coração.

Meu medo era estar confundindo tudo por conta da separação, mas não que meu sentimento fosse mentira, eu me refiro ao motivo que estava fazendo ele nascer e era esse o meu medo, de não ser algo genuíno, sem dizer que não sabia se, sentimentalmente, eu seria correspondida, e não queria estragar nossa amizade por isso... faz sentido?

Enfim, só sei que, deixando alguns sentimentos de lado, aquela semana foi muito normal, até consegui voltar a fazer musculação, o que foi um grande avanço emocional, mas, falando sobre isso, não consegui escapar do convite de Flávio e marcamos, o nosso queijos e vinhos, pra sexta-feira.

Pra ser bem sincera eu nem queria escapar do convite dele, não sei o porquê, mas queria sim ter essa experiência, pois meu último homem havia sido o meu ex e, no final, nem estávamos mais tão conectados como antes... é, parece que eu finalmente comecei a enxergar essa verdade, ou seja, meu namoro já havia terminado antes mesmo de acabar.

Então foi isso, na quinta passei o dia incomodada com a viagem de Débora e foi mais uma angústia ter que me despedir antes de ir embora do trabalho, mas era isso, ela tinha que ir e eu tinha que esquecer o que estava acontecendo dentro de mim.

A sexta-feira chegou, fui normalmente malhar, encontrei com Flávio, que parecia super animado, e dali, depois de um banho na própria academia, fomos pra minha casa. Era estranho, confesso, pois fizemos coisas semelhantes, como por exemplo nos sentar no chão da sala pra beber e comer, e isso me gerou um pequeno gatilho.

– Você ta bem? – Me perguntou ele.

– To sim, ta tudo bem. – Tentei sorrir, pra disfarçar.

– Que bom, mas é que te senti um pouco distante quando sentamos aqui.

– Ah, é que despertou algumas memórias, mas ta tudo bem, não precisa ficar preocupado com isso, não.

Ele se inclinou um pouco mais na minha direção e, com um sorriso malicioso, disse:

– Nós podemos criar novas memórias, se você quiser.

Eu o olhei por um segundo e me senti reflexiva, mas ele tinha razão e eu queria sim criar novas memórias, mas, principalmente, precisava esquecer outras que estavam me afligindo. Nós nos beijamos e era um beijo gostoso, não vou negar, assim como o restante, porque sim, nós fomos aos "finalmentes".

Flávio conseguiu ter uma mistura de safadeza com carinho que poucos parecem ter e foi muito gostoso transar com ele, mesmo que eu não tenha gozado como em uma certa outra ocasião... se é que consigo me fazer entender.

Ao final, confesso que queria que ele fosse logo embora, porque tava me deixando com um sentimento muito estranho ficar abraçada a ele. Precisei me manifestar a respeito e pedi que me deixasse só, dizendo que ainda era delicado aquele tipo de situação e ele pareceu compreender.

Não gosto desse tipo de situação, é sempre muito estranho e parece que estou ferindo os sentimentos de alguém, até porque não sei quais eram as expectativas dele quanto a mim naquela noite, talvez tenha achado que eu iria ficar carinhosa, sei lá, mas não foi essa a minha reação, pelo contrário, minha necessidade era realmente de ficar sozinha comigo mesma e pensar, refletir, sobre tudo que havia acabado de acontecer.

Já só, com roupa de cama trocada e de banho tomado, me deitei em minha cama e fiquei olhando pro teto. Lágrimas silenciosas desceram por meus olhos. Como explicar tudo que estava sentindo? Complicado... tudo era muito complicado. Definitivamente eu me sentia mais perdida do que nunca.

Olhei meu celular, abri minha conversa com Débora, que estava silenciosa, e fiquei me perguntando se estava tudo bem por lá... na verdade pensei se ela tava pensando em mim, mas achei muito presunçoso esperar que o fizesse, ainda mais durante um evento que deveria ser importante pra empresa, já que gastaram pra ela ir até lá.

Repousei meu telefone sobre o meu peito e voltei a olhar pro teto, enquanto aquela tristeza me envolvia. Eu havia acabado de transar e estava me sentindo triste. É incrível como as coisas acontecem pra nos deixar ainda mais confusas do que já estamos. Respirei fundo, olhei meu celular novamente, o abri e, pra Débora, enviei:

– "Sinto sua falta."


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