– "To mais ou menos, e você?" – Enviei em resposta.
Eu podia dizer que estou bem, mas seria mentira e daria uma impressão errada, e não era isso o que queria, ainda mais depois do último acontecimento. Talvez essa coisa de dar espaço é que seja o erro, embora que é lógico que depende da situação e sei que é difícil julgar quando estamos dentro da história, mas enfim, só acho.
– "To mais ou menos também." – Me respondeu ela, em seguida.
– "Mais uma vez, me perdoa por não ter te contado sobre o Flávio."
– "Acho que a pessoa confusa agora sou eu." – Riu.
– "Te entendo." – Mandei com carinha triste. – "Você é muito importante pra mim."
– "Você também, mas não vamos falar sobre isso, ainda mais por mensagem. Pode ser?"
– "Pode sim."
– "Vou dormir, amanhã preciso acordar bem cedo. Boa noite pra você."
– "Pra você também."
Havia um sentimento de culpa me incomodando e isso me fazia pensar de várias formas diferentes, porque, em um momento eu a compreendia e me sentia muito mal pelo ocorrido, mas em outro minha mente tentava me justificar dizendo que eu era solteira e que o que houve foi antes de voltarmos a ficar, mas eu sabia que, no fim, a segunda opção iria só piorar as coisas.
Acho que acontece muito isso, existem sentimentos que nos machucam mesmo sem termos uma completa razão naquilo, como no caso de Débora, que sabia das minhas justificativas, mas isso não a fazia se sentir menos chateada do que estava. Quando situações assim ocorrem, qual postura deveríamos adotar? Não sei, mas acho o que já disse, tentar me sentir melhor não iria fazê-la se sentir melhor e eu entendia seus motivos.
Pensei muito nessas coisas enquanto tentava dormir e isso dificultou muito o meu sono. Por que será que nunca tive um relacionamento com mulheres, mesmo sabendo que gosto delas? Me lembro de vários empecilhos, como por exemplo a minha família não saber sobre a minha sexualidade, assim como também a meu próprio respeito.
Existem pessoas que sabem desde cedo a respeito dessas coisas, mas já percebi que existem outras pessoas que levam anos pra se entender, e eu fui uma dessas pessoas. Minha adolescência girava em torno dos meninos, por mais que houvessem meninas que mexessem comigo, mas tentava me convencer que beijar uma amiga não significava ser parte da comunidade.
Lembro de uma fase em que eu dizia que gostava beijar garotas, mas só me apaixonava por homens. Acho que passei muito tempo em negação e isso me atrapalhou muito, até porque minha geração era outra, então acredito que isso precise ser levado em consideração também.
Depois que cheguei na fase adulta e revelei minha sexualidade pra minha família, foi onde comecei a me conhecer melhor e percebi essas coisas sobre as quais estou mencionando. Eu sempre fui bi, mas a influência externa me atrapalhava demais e, por isso, não conseguia me permitir viver as experiências que me surgiam.
Antes do meu namorado, eu vivi muito tempo solteira e sempre rodeada de amigas e amigos héteros, ou, no máximo, homens gays. Enfim, não to dizendo que seja por isso, mas acredito que muita coisa ao nosso redor nos influencia, mesmo que de forma inconsciente, e essa era a minha realidade, então talvez isso tenha me afetado também.
Só sei que o que estava sentindo por Débora era algo muito novo pra mim, algo que nunca havia sentido por outra mulher, e nem digo só pelo tesão, mas por tudo que nos envolvia, já que, antes dessa explosão de emoções, nossa relação era baseada em muito carinho e amizade.
Até aquele momento eu não havia me dado conta disso e ainda era difícil conseguir enxergar com clareza, mas meu sentimento sempre esteve presente, mesmo que nomeado de diversas outras maneiras. Nós nos conhecíamos há anos, nós éramos amigas há anos, mas eu não fazia ideia de há quanto tempo ela sentia algo diferente por mim.
Havia tantas lembranças passando por minha mente... tantas memórias... tantos momentos onde devo ter confundido seus sentimentos com tudo, menos com o que realmente era. Débora era um tipo raro de pessoa, daquelas que respeita o seu espaço, seu tempo, sem você nem fazer ideia do que está, de fato, acontecendo.
Fico pensando também no Guilherme, porque se eu já sentia essas coisas antes, não era realmente justo com ele e, talvez por essa razão, é que ele tenha terminado comigo e não por ter ficado afim de outra pessoa, embora que também não desse pra descartar essa outra hipótese.
Será que só eu que passo por esse tipo de conflito? Será que ninguém mais consegue entender o que eu estava sentindo? Seria absurdo da minha cabeça tudo isso que vivi e senti? Será que posso ser julgada por tudo isso, ou será que alguém consegue compreender tudo isso?
Chorei, confesso, no silêncio do meu quarto, chorei como criança, chorei de soluçar, porque eu queria tanto ter absoluta certeza das coisas, mas meu medo era tão grande que isso me travava de uma maneira absurda. Havia apenas um fato a esse respeito, eu precisava me resolver, porque do jeito que a coisa tava, não havia mais volta, não era só o possível amor da minha vida que estava em risco, mas também uma das melhores amizades que já tive na vida.
Sem conseguir dormir, me levantei e fui até a cozinha. Com um copo de água em mãos, me apoiei na pia e me perdi em lembranças. Era inevitável não reviver aquela noite do pós bar... a cada memória, sentia meu corpo reagir em arrepios. Definitivamente eu não podia mais chamá-la de amiga, mas de que a chamaria então?
– "Eu só queria dizer que eu gosto muito de você... muito mesmo." – Enviei.
Desliguei a internet do eu celular, pra que não visse, caso ela me respondesse e voltei pro quarto, depois de lavar meu rosto no banheiro. Me deitei, deixei o aparelho de lado carregando e fui tentar dormir, porque, como sempre digo e já repeti, adultos não tem nem tempo pra chorar... eu só queria a Débora de volta.
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LGBT - Ao Meu Lado
RomansaDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...