Depois daquela conversa eu me senti ainda mais confusa, mas preferi guardar pra mim aquele sentimento. Nós não transamos mais, ficamos como amigas, porque era isso que éramos, apenas amigas, independente do que havia acontecido... isso era muito estranho, confesso.
Não falamos mais do assunto, mas terminamos a noite abraçadas, só que de roupa, como nos outros dias. Foi difícil dormir, pois fiquei um bom tempo pensando em tudo que havia acontecido, mas ela tinha razão, eu estava carente e meu julgamento tava prejudicado por causa disso, o único problema é que eu tinha gostado... gostei muito.
No dia seguinte acordamos, almoçamos e ficamos assistindo televisão, mas o pior momento foi quando ela levantou e foi arrumar suas coisas, já perto do final da tarde. Eu fiquei na sala, ainda processando aquele sentimento estranho que estava tendo por causa daquilo... eu não queria que ela fosse embora, mas já sabia que isso ia acontecer... já sabia que isso tinha que acontecer.
– Tudo pronto. – Disse ela voltando do quarto e parando na entrada da sala.
– Que bom. – Falei, tentando sorrir.
Débora se aproximou e se sentou novamente ao meu lado. Nosso comportamento era de amigas, não houve mais nada, nem beijo, nem nada, embora eu estivesse sentindo vontade de me jogar sobre ela.
– Você vai ficar bem? – Me perguntou ela.
– Vou sim, sou grandinha. – Brinquei tentando ser o mais natural possível.
– Você ta com uma cara estranha.
Era óbvio que ela iria perceber, pois eu estava inquieta, minha perna não parava de balançar e isso era um reflexo de como estava o meu interior, principalmente a minha mente, que não me deixava em paz nem por um segundo.
– Acho que só to um pouco ansiosa. – Falei.
– Você sabe que pode me ligar a qualquer momento, não importa a hora, não sabe?
Eu a olhei e seu rosto demonstrava uma preocupação genuína, o que me fragilizou e, após respirar fundo, perguntei:
– Eu sei, mas posso te pedir uma coisa?
– Claro.
– Você se incomoda de voltar no final de semana que vem?
– Não me incomodo, mas isso não vai te atrapalhar?
– Fins de semana, acho que vão ser os mais complicados daqui pra frente. Não to nem falando de vir todo final de semana pra cá, mas pelo menos o próximo sim, se puder... e quiser, é claro.
– Eu venho sim, não tem problema não. – Me respondeu.
– E você já vai agora? – Perguntei, com o coração partido.
– Vou, porque amanhã a gente trabalha, aí é bom chegar cedo e já deixar as coisas organizadas pra sair amanhã.
– Ta bom, então.
Nos levantamos e, enquanto Débora ia ate o quarto pegar sua mochila, eu já me dirigi até a porta e fiquei ali esperando. Parecia que um buraco se abria no meu peito novamente, mas era isso, não tinha o que fazer, aquilo tinha que acontecer, ela precisava voltar pra casa dela e eu precisava ficar sozinha pra me realinhar... eu acho.
Débora voltou me olhando com um olhar tristonho, mas com um sorriso no rosto, provavelmente pra tentar me animar, porque tava nítido o meu sentimento a respeito dela ir embora. Seria errado pedir pra ela ficar? Seria errado querer que ela não vá embora? Por que eu tava me sentindo assim?
Nos abraçamos em um abraço apertado e cheio de carinho. Tive vontade de lhe dar um beijo, mas precisei me conter, precisei fingir que aquilo não passou por minha mente, porque o beijo que queria dar não era de amizade, o que me gerou ainda mais confusão. O que tava acontecendo comigo?
– Se cuida. – Me disse ela, comigo ainda em seus braços.
– Vou me cuidar. Fica bem também.
– Vou ficar... a gente se vê amanhã.
Segurei seu rosto com ambas as mãos e o beijei entre o nariz e a bochecha. Depois a olhei, com os olhos marejados, e disse:
– Obrigada por ter vindo me ajudar.
Ela ficou emocionada e disse:
– Não tem pelo quê agradecer, como já disse, o prazer foi meu.
Débora pegou sua mochila, eu abri a porta, e fomos pro corredor, pra esperar o elevador. Enquanto a porta se fechava, parecia que ela levava um pedaço de mim junto com ela. As lágrimas desceram, ali mesmo onde estava. Abaixei a cabeça, respirei fundo e, comigo mesma, disse:
– É isso.
Voltou pro meu apartamento e nossa, minha casa nunca pareceu tão vazia e silenciosa como estava parecendo. Fechei a porta e fui até a cozinha, peguei o vinho que tava na geladeira, coloquei em qualquer copo que vi pela frente, até porque esse negócio de taça é pra gente chique e pra momentos especiais, e fui pra sala.
Afundada no sofá e com qualquer coisa passando na televisão, fiquei ali bebendo, gole por gole, enquanto pensava e pensava, enquanto as lembranças jorravam como uma cascata, enquanto sentia meu corpo desejar repetir tudo que havíamos vividos nas ultimas quarenta e oito horas.
Eu estava carente, mas se tava tão carente assim, por que não senti a mesma coisa com o Caio? Se meu problema era esse, foi ele quem me beijou primeiro. Seria por causa da proximidade? Seria por causa da própria amizade? Era por isso que eu tinha mais abertura, ou menos impedimentos?
Havia muita coisa pra pensar, pra processar, pra assimilar, mas naquele momento o meu problema era o que sua ausência estava me causando, ainda mais depois de termos ficado. Eu tinha muita coisa em mente e tinha muito o que esquecer, mas, pelo visto, agora, além de um namoro de cinco anos, eu tinha a Débora pra esquecer, também.
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LGBT - Ao Meu Lado
RomanceDepois de cinco anos de relacionamento, Andréa, uma mulher adulta e bissexual, se vê solteira, triste e confusa com seus próprios pensamento e sentimentos. Em meio ao seu caos, existe uma mão amiga pra lhe trazer o mínimo de paz, além de outras emoç...