04- Pareceu Mesmo

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Por fim o expediente acabou, ou seja, não precisaria mais tentar ser simpática com as pessoas ao meu redor... pelo menos não mais por aquele dia. Eu e Débora fomos embora juntas em seu carro e logo chegamos na minha casa. Tomei meu banho, pedimos uma pizza, e nos sentamos no chão da sala, encostadas no sofá, pra comer.

Ficamos em silêncio, no começo, e aquilo foi algo extremamente interessante pra mim, porque não foi ruim, pelo contrário, aquele momento estava me fazendo sentir uma paz que não havia sentido durante todo o dia.

– Como foi o dia pra você? – Me perguntou ela sem me olhar.

– Um balanço geral?

– Tipo isso.

– Foi bom, embora muito difícil. Claudinha cismou que eu tenho que seguir logo a vida e deve ter avisado o Henrique sobre isso, porque ele veio me chamar pra sair.

– Sério? O Henrique? – Sorriu.

– Sim... ai, sei lá. – Bufei.

– Você não quer sair com ele?

– Eu acho que não quero sair com ninguém agora, na verdade. Gente, eu acabei de terminar um namoro... na verdade terminaram comigo, eu não tive nem escolha.

– Eu acho que você deve respeitar o seu tempo, fazer só o que te der realmente vontade de fazer.

– Tu acha mesmo? Porque é isso que eu sinto... sei lá.

– Eu acho sim, até porque já passei por isso, você sabe. Cada pessoa é de um jeito, cada um reage de um jeito, então não se force a algo que você não queira e nem fica chateada com a Claudinha, porque talvez esse seja o jeito dela e aí ela vai tentar te passar isso achando que assim vai estar te ajudando.

– Pode ser... confesso que na hora fiquei chateada sim, mas nem cheguei a falar nada, me enfiei no trabalho e fiquei quieta na minha, só tava doida pra vir embora e ficar quieta.

– Tu querendo ficar quieta e eu aqui te enchendo. – Riu.

– Não, você não ta me enchendo, você sabe que gosto da sua companhia.

– Que bom, porque eu só vim pra cá por causa disso.

– Por sinal, foi uma surpresa você ter vindo, mas eu gostei, me senti melhor, mesmo que um pouco.

– Era essa a intenção. – Sorriu. – A hora que quiser que eu vá embora você pode falar, mas de qualquer maneira eu vou assim que sentir que você ta um pouco melhor.

Segurei em sua mão e, olhando em seus olhos, depois de segundos de reflexão, respirei fundo e falei:

– Obrigada... de verdade.

– Não precisa agradecer, eu fico feliz de poder retribuir o bem que você me fez há um tempo atrás.

– Por falar nisso, como você ta? Não pensa em namorar de novo não? – Perguntei.

Débora pareceu diferente com a minha pergunta, mas imaginei que talvez fosse por aquele ainda ser um assunto sensível, mesmo que já houvesse um tempo desde o rompimento, afinal, como a gente tava falando, cada um tem seu processo e seu próprio tempo pra lidar e digerir as coisas.

– Eu to bem, – Respondeu um pouco sem graça. – e sobre voltar a namorar, eu penso sim, mas sei lá, não quero fazer isso de qualquer maneira... espero que seja com alguém especial.

– Torço por isso, você merece. – Sorri com carinho.

– Merecemos. – Ergueu sua taça de vinho.

Brindamos àquilo, porque ela tinha razão, nós merecíamos encontrar alguém legal, que nos fizesse bem, que nos trouxesse paz, que nos valorizasse e que não nos trouxesse mais as mesmas dores de cabeça que nossos ex haviam nos trago. Seria possível encontrar alguém assim?

Continuamos nossa conversa, mas agora falando de coisas aleatórias, inclusive sobre histórias engraçadas do passado. Nós nos conhecíamos há bastante tempo, passamos por vários processos juntas dentro do trabalho, então o que não nos faltava eram histórias para relembrar.

Terminamos de comer e fomos pra cozinha limpar aquela bagunça. Enquanto eu lavava a louça, Débora secava e guardava. Graças ao vinho, minha sensação era de leveza, por mais que ainda existisse uma nuvem escura no canto da minha consciência. Era engraçado a tranquilidade que nascia dentro de mim, o que era ótimo, porque comecei a enxergar as coisas com mais clareza sobre a minha própria história.

Paramos, juntas e rindo, encostadas lado a lado na pia, com nossas taças vazias em mãos. O tempo parecia parado, mas ao mesmo tempo ele voava como se pressa tivesse. Olhei pra Débora ali, bem ao meu lado, sorrindo por conta de algo engraçado que falamos e pensei: "ela fica linda sorrindo desse jeito".

Ela me olhou e acho que percebeu minha admiração, tanto que colocou a taça sobre a pia, se virou pra mim ainda sorrindo, e disse:

– Acho que você já bebeu demais, não acha?

Eu sorri, sem graça, mesmo sem entender o porquê me senti daquele jeito, mas sim, ela tinha razão, nós já havíamos bebido demais... eu acho. Sabe quando sentadas não parece tanto? Pois é, foi depois que levantamos, que realmente parecia que o álcool havia batido com força, afinal, eram ao menos duas garrafas vazias nos fazendo acreditar, ou confirmar, a respeito.

Débora, então, segurou meu rosto com carinho e, depois de beijar minha testa, sorrindo, me disse:

– Vou te levar pro quarto.

Fomos lá pra dentro, me deitei confortavelmente, mas senti que ela estava saindo da cama. Segurei-a pelo braço, antes que se afastasse e, já de olhos fechados, pedi:

– Fica aqui comigo essa noite?

Houve um breve silêncio, mas logo percebi a movimentação sobre a cama que me dizia que sim, ela iria ficar comigo. Débora se deitou, me abraçou, respirou fundo, e disse:

– Sempre.

– Isso me lembrou a cena de um filme. – Brinquei, já quase dormindo.

– Pareceu mesmo.


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