02- O Prazer é Meu

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Tomei um banho e nos sentamos no sofá pra comer, mas acho que mesmo assim eu ainda parecia um trapo humano e digo isso pela minha postura corporal, sei lá. Minhas pernas estavam cruzadas debaixo da mesa de centro, minha coluna estava envergada e meu olhar estava perdido no nada.

– Ta tão ruim assim? – Me perguntou ela.

– Eu não consigo entender o que aconteceu, acho que isso é pior do que se ele tivesse me dado algum motivo realmente válido.

– Mas o que ele disse?

– Ele só fala que não ta funcionando mais e que eu mereço alguém melhor na minha vida. – Meus olhos lacrimejaram.

– Oh, meu anjo, deita aqui um pouquinho, vem.

Deixei meu corpo despencar de lado e deitei minha cabeça sobre as pernas dela. Por mais que eu prefira sofrer sozinha, aquele cafuné acalentou meu coração, mesmo que em meio à lágrimas, já que elas eram inevitáveis. Débora sempre foi uma boa amiga, em todos os sentidos, embora eu não pudesse conviver muito com ela fora do trabalho porque o Guilherme tinha ciúmes.

Como pode a pessoa ter ciúmes e do nada terminar um namoro de cinco anos às vésperas de seu aniversário? Aniversário de namoro, no caso. Eu não conseguia compreender, ou aceitar, que não havia nenhum outro motivo além dos que ele me apresentou... talvez fosse muita burrice da minha parte, vai saber.

– Vai ser difícil, até porque você estavam juntos a bastante tempo, mas vai passar, você é forte.

– Eu sei, mas saber disso não ta amenizando o que to sentindo agora. – Falei.

– Por isso que eu quis vir pra cá, mesmo sabendo que você prefere ficar sozinha quando não ta legal, eu quis vir pra tentar amenizar, nem que seja um pouco, essa dor que você ta sentindo.

Eu me sentei, a olhei e disse:

– Eu agradeço muito, embora não precise.

– Eu sei que não precisa, mas eu quis fazer isso por você, até porque você me deu muita força quando a Tatiane terminou comigo, mas se você quiser que eu vá embora, você pode dizer, não tem problema.

– Não, não, pode ficar, acho que vai ser bom.

– Alguém mais sabe do término? – Perguntou Débora.

– Ainda não contei pra ninguém, nem pra minha família e esse é o bom de morar sozinha, senão iam estar me enchendo de perguntas, ou falando um monte de coisa que não me faria bem agora... eles não são muito bons pra consolar.

– Entendo. – Sorriu. – Embora que a minha nem se deu a esse trabalho quando aconteceu comigo.

Aquela frase me bateu em um lugar muito diferente, porque foi a mais pura verdade, ainda mais porque eu estava lá e vivenciei a falta de interesse da parte deles quanto ao que houve com ela. Deve ser muito triste passar por isso, eu nem faço ideia, não por não fazer parte da comunidade, já que eu faço, mas como nunca tinha tido um relacionamento com uma mulher, não cheguei a passar por algo assim e nem sei se passaria, porque minha família sabe da minha sexualidade, mas nunca agiram de forma ruim ou estranha comigo por isso.

– Sinto muito. – Falei.

– Ao invés de sentir por mim, come a comida que eu trouxe porque custou dinheiro, hein. – Sorriu.

Me aproximei, com o rosto todo molhado, beijei sua bochecha com muito carinho, a olhei nos olhos, e disse:

– Muito obrigada, de verdade.

– Não precisa agradecer, agora come, porque se te conheço bem você deve estar o dia inteiro sobrevivendo de vento.

– Quase isso. – Brinquei fazendo uma careta.

– Pois é, então come. Eu trouxe exatamente o que você mais gosta, só pra ajudar nessa tristeza toda, mas não acostuma não. – Riu.

– Eu vou comer, mas com uma condição.

– Qual?

– Eu sei que você não gosta, mas quero que você durma comigo me fazendo cafuné. – Sorri com carinho.

Débora ficou em breve silêncio me olhando com um sorriso sutil no rosto, até que disse:

– Foi muito bom eu ter vindo.

– Por quê?

– Porque aposto que esses são seus primeiros sorrisos desde o que aconteceu... missão cumprida.

– Missão cumprida coisa nenhuma, você vai ou não me fazer cafuné? – Brinquei.

– Tem outro jeito, garota? Eu faço esse sacrifício, mas agora come, tu já é magra, se ficar sem comer daqui a pouco vai sumir... não vou ficar repetindo. – Sorriu, enquanto tentava manter uma cara de brava.

– Sim senhora. – Sorri.

Realmente, ter a presença de Débora estava me dando uns minutos de paz que não sentia desde a mensagem de término. Obedeci a minha chefe e comi aquela delícia que ela havia trago pra mim. O que dizer? Cansamos de almoçar juntas e ela sabia exatamente o quanto eu amava aquela comida.

De banho tomado, alimentada e exausta, foi assim que me deitei, de frente pra Débora e, enquanto sentia seus dedos em minha cabeça, comecei a sentir uma sonolência e uma tranquilidade há dias ausente.

– Obrigada. – Agradeci, quase inconsciente.

Ela me beijou a testa e respondeu:

– O prazer é meu.


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