25- Eu Achei

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No dia seguinte respondi ao Flávio dizendo que iria, mas não dei conversa porque ainda não tava me sentindo bem psicologicamente, eu apenas fui pro trabalho porque a vida de adulto é assim, você sofre cumprindo obrigações sem ter muito tempo livre pra chorar... realidade nossa de cada dia.

Passei meu dia introspectiva, inclusive com relação a Débora. Por mais que meu fogo ainda estivesse acesso, era como se houvesse um bloqueio mental a respeito, já que realmente fiquei preocupada sobre vários fatores, como por exemplo, o motivo que de fato fez o meu relacionamento chegar ao fim.

Quase não nos falamos e sinto que eu a evitei durante todo o tempo, mesmo querendo muito falar com ela, ou ter algum tipo de intimidade, mas evitei, dando respostas curtas e vazias pra todas as mensagens que ela me mandava, fosse pelo celular, ou pelo chat da empresa.

É óbvio que Débora percebeu que havia sim algo de errado entre nós, mas achei incrível que ela não me pressionou a contar a respeito, o que, confesso, me fez questionar sobre seu interesse sobre mim. É impressionante como nunca estamos satisfeitas com as coisas, porque, normalmente, se existisse uma insistência, isso iria me incomodar, mas como não existia, isso também me incomodava... é um caso a se pensar.

Saí do trabalho antes dela e fui direto pra academia, não porque quisesse me encontrar com Flávio, mas sim porque precisava colocar aquela adrenalina pra fora e aquele era o melhor lugar pra isso, principalmente através da musculação. Comecei a fazer meus exercícios, enquanto minha mente continuava a processar aquelas informações.

Quanto mais eu pensava, mais detalhes ressurgiam e me mostravam que fazia sentido tudo o que haviam me dito, tanto sobre a inexistência do meu relacionamento, quanto o comportamento diferenciado que eu e Débora tínhamos dentro daquilo que chamávamos de amizade, e quando falo assim, não é que não existisse uma amizade, mas é que me refiro ae detalhes que vão além disso, como olhares e gestos... coisas assim.

Sabe quando você flerta muito com alguém? Então, era como se fizéssemos isso com frequência, mas na minha cabeça isso era lido como uma brincadeira entre nós, mas depois de sentir a explosão de desejo que senti, essa ciência me faz me questionar sobre quando exatamente que tudo isso começou, inclusive sem eu perceber.

– Oi gata, ta sumida por quê? – Me perguntou Flávio, surgindo do nada, enquanto eu terminava meu exercício de pernas.

Me levantei, bebi um pouco de água da minha garrafinha, nos cumprimentamos como amigos, e respondi, dizendo:

– Não to sumida, é que as coisas ainda estão se ajustando pra mim, aí não deu pra vir esses dias. Entende?

Confesso que fiquei sem saber o que dizer, porque, na minha cabeça, meu motivo tinha nome e sobrenome, mas não queria tocar nesse assunto, ainda mais com alguém com quem eu tinha acabado de ficar e que, provavelmente, ainda não me veria como apenas uma boa amiga.

– Achei que tinha ficado chateada comigo por algum motivo. – Me disse ele. – Surgiram várias coisas depois daquela noite, acabei ficando muito longe do telefone e...

– Ué, mas por que eu ficaria chateada com isso? – Sorri e disse, cortando-o. – Por mim ta tudo bem, não tem pelo quê se preocupar.

– E quando a gente vai repetir aquele nosso lance? – Me perguntou com um sorriso safado. – Não sei você, mas eu gostei muito.

Fiquei sem graça, não sei o porquê, mas não tive a mesma reação que havia tido no almoço, como se uma negativa pudesse vir a chateá-lo, o que era bem estranho pensar desse jeito, tendo em vista tudo que se fala sobre homens, mas sei lá, eu sei como eles são, mas ao mesmo tempo não desconsidero o fato de que existe sentimento dentro deles.

Falando assim parece que são seres irracionais e não é assim que vejo, mas é claro que esse comportamento que eles tem também não ajuda muito, a questão é que, o que eu quis dizer é que eles também tem sentimentos e também não acho legal machucar por causa da forma como a maioria se comporta... sei lá, entende?

– Não sei, ainda to muito confusa com muita coisa. – Respondi, sem mentir.

– Sei como é, mas se mudar de ideia, fala comigo. – Piscou com um dos olhos. – Vou ali terminar minha série, a gente se fala na saída. Pode ser?

– Pode sim, tenho que terminar a minha também.

Não sei o que essa enrolação pode parecer, mas assim é a vida, ela é feita de altos e baixos, de certezas e incertezas, e mesmo que achem que só porque passamos dos trinta as coisas já deveriam ser mais simples, mas nós, que já temos essa vivência, sabemos bem que não é bem assim.

Pra ser ainda mais sincera, eu não queria encontrá-lo na hora de ir embora, justamente pra evitar que ele falasse de ir lá pra casa e eu tenha que negar, não só pela minha condição atual, mas também por falta de interesse mesmo, ainda mais com a minha cabeça do jeito que tava. Eu não tinha nem chamado a Débora pra ir lá pra casa, quanto mais o Flávio.

Por fim, terminei meu treino, tomei um banho por lá mesmo, juntei minhas coisas e comecei a sair da academia, mas fui percebida por ele, que me gritou quando eu já estava passando pela porta de saída.

– Espera rapidinho que eu só vou tomar um banho e a gente vai junto. – Me disse afoito, ao se aproximar.

– Eu to cansada, to doida pra chegar em casa, depois a gente se fala.

– Mas eu achei que a gente ia junto pra sua casa.

– Em momento nenhum eu disse isso. – Sorri, tentando ser simpática.

Ele ficou um pouco constrangido, mas minha resposta foi muito intuitiva, quando vi, já tinha falado, o problema foi que, depois disso, ele concordou, mas segurou em minha cintura e na minha nuca, se aproximou e, antes que eu pudesse pensar, começou a me beijar.

– O que ta acontecendo aqui? – Era a voz da Débora.


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