32- Porta Aberta

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– Ninguém te fez de bobo, nós não tínhamos nada além de amizade...

– Nossa, fico muito mais aliviado em ouvir isso. – Disse, me interrompendo e sorrindo.

Eu ia completar a frase falando dos tempos atuais, mas como houve essa quebra, fiquei sem saber como continuar, até porque ela uma informação delicada de se passar, e nem sabia se era necessário, já que ainda não havia nenhuma definição do que iria acontecer com a gente depois daquela conversa... embora o assunto continuasse.

– Eu ainda não entendi o que você veio fazer aqui. – Falei, desfazendo um silêncio estranho que surgiu entre nós.

Guilherme se aproximou mais, sentando-se diante de mim e, segurando minhas mãos, olhou nos meus olhos, e disse:

– Vim pedir pra você voltar comigo.

Suas mãos estavam úmidas e frias e isso só me confirmava a sinceridade que havia na sua intenção, mas, antes que eu pudesse pensar, ou responder qualquer coisa, ele me puxou pra si e me beijou. O mais desesperador era que eu havia sonhado com aquele beijo por diversas vezes, mas agora não sabia o que fazer a respeito.

Num primeiro momento, por instinto, cheguei a corresponder, mas logo em seguida fui sentindo aquele sentimento se transformar em estranheza. Sabe quando alguém intimo agora parece mais um desconhecido? Pode parecer maluquice, mas esse era o meu sentimento e isso me deixou confusa e com medo, até porque acho que ele percebeu.

Guilherme recuou lentamente, como se refletisse sobre o que tinha acabado de acontecer, e me olhava com tensão, expressando a confusão que devia estar acontecendo dentro de sua mente. Não sei se pra outras pessoas é assim, mas acho que alguém não pode terminar do jeito que foi, sumir por dois meses e voltar achando que tudo vai ser como era antes... não é assim que funciona.

– Você não quer voltar? – Me perguntou ele.

– Olha, é complicado.

– Por que seria complicado?

– Tem uns dois meses que a gente terminou e muita coisa aconteceu de lá pra cá, inclusive comigo, sobre o que eu pensava e acreditava... eu mudei.

– Você não me ama mais? – Perguntou, confuso.

– Nem tudo se resume a amor, Guilherme. Você não pode sumir e reaparecer do nada achando que ta tudo bem. Quantos anos você tem?

Ele abaixou a cabeça em tristeza e isso me partiu o coração, mas me foquei ao fato de que o primeiro coração partido havia sido o meu e, sendo assim, precisava sustentar o que estava dizendo, embora não fosse fácil, confesso, porque, tê-lo ali, bem na minha frente, estava me deixando tão ou mais confusa do que ele poderia estar.

– Você tem razão, eu fui um moleque contigo. – Disse, em voz baixa.

– Você me magoou muito.

– Me perdoa. – Me disse, olhando nos meus olhos.

– Eu posso até te perdoar, mas não consigo simplesmente voltar com você... não é tão simples assim. – Falei pensando em Débora.

Será que aquilo era uma provação? Será que o Universo gerou aquela situação pra que eu tivesse certeza absoluta do que estava sentindo? Até porque não havia o porquê, do nada, ele aparecer na minha casa e simplesmente me pedir pra voltar depois de tudo que havia acontecido... o que tava acontecendo?

– Eu não quero desistir de nós. – Disse ele.

– Você já fez isso quando terminou comigo por mensagem de celular e me bloqueou em todas as suas redes sociais.

– Eu errei... eu sei.

– Que bom que você sabe, então espero que você também saiba que existem coisas que não são tão simples.

– Tipo o quê?

Às vezes eu fico impressionada com a dificuldade que algumas pessoas tem de entender coisas que parecem simples, pois eu havia acabado de dizer ótimos motivos e ele estava novamente me perguntando por motivos. Acho engraçado, porque quando eu precisei de motivos pra entender o porquê do término, acabei bloqueada em tudo, mas agora o "príncipe" queria mais detalhes.

– Guilherme, eu já expliquei. – Falei.

Será que minha impaciência era algum tipo de indicativo, ou resposta? Digo isso porque eu realmente estava ficando sem energia pra repetir o óbvio, mas dizem que existem coisas que só são claras pra nós e não pras outras pessoas. Eu deveria ter esse tipo de paciência com quem cagou pra mim?

– Me desculpa, é que não consigo aceitar que vou embora daqui sem te ter de volta. – Disse ele, mostrando que compreendeu sim, mas tava se fazendo de idiota.

Eu me levantei, fiquei em pé, parada, olhando pra ele e esperando que aquela ação fosse compreendida, mas, por via das dúvidas, só pra ajudar, disse:

– Eu acho que é melhor você ir embora.

– Mas por quê?

– Porque eu to apaixonada por outra pessoa.

Guilherme se levantou atordoado e, parado, ficou me olhando por um breve segundo. Não faço ideia do que passou em sua mente, até porque ele parecia estar em choque com o que havia acabado de ouvir, mas juro que, de todas as reações possíveis que se possa ter, aquela foi a que eu nunca imaginei que ele teria.

Do nada, por impulso, talvez, ele me puxou pra si novamente, me olhou nos olhos, e disse:

– Nenhum cara vai te fazer sentir isso.

Sem que eu pudesse pensar ou dizer qualquer coisa, como da outra vez, ele começou a me beijar, e havia tanta empolgação de sua parte, que dessa vez acredito que nem percebeu a minha falta de reciprocidade, mas, como dizem que tudo sempre pode piorar, o improvável aconteceu, de novo.

– Desculpa interromper, mas é que a porta tava aberta. – Era Débora, surgindo e nos vendo, bem na minha sala.


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