16- Quem Sabe

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Quando acordei, no dia seguinte, conferi meu celular e vi que Débora havia lido minha mensagem, mas não havia resposta. Respirei frustrada e fui pro banho. Eu não sabia o que esperava, mas era lógico que esperava alguma coisa, alguma reação, sei lá, qualquer coisa, qualquer palavra... mas não veio.

Fui trabalhar e passei meu dia tentando ignorar todos os meus sentimentos e confusões, foquei nas minhas tarefas, foquei em tudo que precisava fazer e consegui abstrair, ao menos em parte, todos os milhões de pensamentos que costumavam me assombrar.

Só a vi de longe, em um ou dois momentos, mas não nos falamos, o que seria normal em outros tempos, mas era engraçado como estava me incomodando aquela distância. Enquanto isso, Caio, pelo chat, tentava puxar assunto, mas, sinceramente, não me sentia com vontade de aprofundar nada com ele e não sabia como dizer isso, então acabava ignorando-o.

Voltei pra casa mais frustrada do que quando fui, porque nada do que gostaria que tivesse acontecido, aconteceu. O que eu gostaria que acontecesse? O que estava me incomodando em coisas que costumavam ser tão comuns? Era muito ruim me sentir daquele jeito, mas não tinha o que fazer, eu precisava esquecer... será?

Fui pra academia e foquei novamente no cárdio, porque ainda não me sentia pronta pra voltar pra musculação, e novamente me encontrei com o Flávio, que foi mais simpático do que costumava ser, assim como havia feito na noite anterior. Eu sabia de suas intenções e pensei nas poucas coisas que Claudinha havia me dito, por isso, de certa forma, percebi que meu comportamento era favorável a ele, mesmo que não quisesse tanto assim.

Novamente ele me chamou pra sair e pensei em Débora, pensei na noite que tivemos, por isso aceitei, pois se havia conseguido com ela, talvez conseguisse com ele também. Nós fomos pra um barzinho perto da academia e nos sentamos, ficamos conversando enquanto percebia ele mais inclinado na minha direção.

O que eu faço se ele tentar me beijar? – Pensava eu. Realmente não sabia, embora estava mais aberta a isso do que quando Caio o fez. Acho que o problema do Caio foi justamente esse, ele me pegou de surpresa em um momento em que ainda estava muito mais fechada pra isso. Mas será que já estava aberta o suficiente pra tentar de novo?

– "Ta por onde? Quer comer alguma coisa comigo? To saindo do escritório agora, queria ir numa pizzaria nova que abriu perto da sua casa." – Me perguntou Débora por mensagem.

– Tudo bem? – Me perguntou Flávio enquanto me olhava desconfiado.

– Tudo bem sim, por quê?

– Sua feição mudou quando você abriu o celular. É mensagem do seu ex?

– Não, não, é uma mensagem de uma amiga minha.

– Ah sim. – Voltou a sorrir e eu não entendi.

Uma coisa que muito acontece é quando o cara, que é hétero, não entende uma mulher bissexual, já que ele sabia da minha sexualidade, e digo isso porque a postura de Flávio foi de quem se tranquiliza pela mensagem vir de uma mulher e não de um outro homem, sendo que pra mim o efeito poderia ser o mesmo, independente do gênero, já que sinto atração pelos dois... enfim.

– Vou ter que ir. – Falei.

– Mas já? Sentamos aqui não deve ter nem uma hora.

– Pois é, mas vou ter que ir, desculpa.

– Fica mais um pouco, poxa. – Pediu.

– Não vai dar, tenho que encontrar a minha amiga.

– E sua amiga não pode esperar um pouco mais não?

– Não. – Fiz cara de triste.

– Ta bom então, mas você vai ficar me devendo outra saída dessa.

– Vou deixar isso registrado. – Brinquei.

Comecei a me levantar, nos despedimos e logo peguei um carro de aplicativo. Dentro do veículo fiquei pensando no meu comportamento e no porquê eu simplesmente me levantei e fui embora, só porque Débora me chamou pra encontrá-la. Como sempre não encontrei respostas, mas fui, até porque sabia que pizzaria era essa, apenas mandei mensagem dizendo que já tava a caminho.

Quando cheguei, ela tinha acabado de chegar. Foi engraçada a sensação que tive ao olhá-la ali, parada, me esperando, e ainda mais quando sorriu pra mim. Caminhei em sua direção e nos abraçamos. Beijei seu rosto, na bochecha dessa vez. Nos olhamos, sorrimos, e ela disse:

– Também tava com saudade de você.

Dei um tapa no seu braço enquanto ríamos disso, e disse:

– Agora que você me responde? Te mandei isso ontem a noite e só agora que você me fala isso.

– Perdão. – Sorriu. – O importante é que eu falei, não? Antes tarde, do que nunca.

– Vai nessa de antes tarde do que nunca mesmo, vai, faz isso até eu não me importar mais com a resposta. – Saí andando.

Débora me segurou pelo braço e me puxou, o que me fez voltar e acabei abraçando-a novamente. Nos olhamos, olho no olho, a pouquíssima distância de um rosto pro outro, enquanto ela sorria e aquilo me fazia me sentir estranhamente excitada. Ela beijou meu rosto com muito carinho, o que me paralisou, e disse:

– Gosto muito de você, sua doida.

– Eu também... – Sorri. – eu também.

– Vamos comer? To morrendo de fome. – Disse me soltando e me puxando pela mão.

Entramos, era um rodízio, nos sentamos, comemos, conversamos e rimos de coisas aleatórias, mas o papo tava tão bom, que eu nem me lembrava de ter saído pra beber com o Flávio, o que me fazia pensar, em algum determinado momento de lucidez... seria isso algum tipo de sinal? Quem sabe.


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