22- Eis a Questão

577 32 2
                                    

Tava pensando e talvez muitas pessoas discordem sobre o que falei a respeito de ser comum perder o interesse em ficar com outras pessoas e talvez eu esteja romantizando demais a ideia, mas é que, pelo que vejo por aí, é tão comum essa ideia que até vira "meme", o fato de queremos casamento já no primeiro encontro, então pode até não ser algo generalizado, mas me sugere que, ao menos, seja algo relativamente comum... eu acho.

Como já disse, não sou uma pessoa com muita experiência, pois relacionamento mesmo eu nunca tive com mulher, e nem sei dizer o porquê, já que me lembro de já ter me apaixonado mais de uma vez... acho que nunca dei essa sorte, na verdade, de encontrar sentimentos recíprocos que gerassem um relacionamento, isso sem mencionar a minha timidez e todo um preconceito de alguns anos atrás, que era maior... sei lá, só acho que houveram fatores além da minha vontade, porque desejo eu tive.

Acho que por isso eu estava me sentindo um pouco mais confusa sobre como me comportar, até porque não tínhamos um relacionamento, então era importante manter o que estava acontecendo em sigilo, principalmente dentro do nosso ambiente de trabalho, que já é um lugar complexo pra se relacionar entre si.

Sendo assim chegamos como estávamos fazendo das outras vezes, cada uma em um tempo diferente, separadas, pra não chamar a atenção das pessoas. Acho isso engraçado, porque somos amigas há algum tempo e cansamos de nos comportar com mais naturalidade, mas agora parecia que qualquer ação seria a revelação.

Me sentei em minha mesa e me sentia radiante, mesmo que ainda trouxesse várias aflições dentro, não só do meu peito, mas da minha mente também. Comecei a fazer minhas tarefas com tranquilidade, até que Claudinha comentou, dizendo:

– Você transou, não transou?

Fiquei atordoada com sua pergunta, e perguntei:

– Por que você ta perguntando isso?

– Você ta mais bonita hoje, sei lá, parece mais leve.

Fiquei em choque pelo meu sentimento estar sendo tão transparente e não sabia o que dizer, até porque sou uma mulher adulta, não tenho o porquê esconder, mesmo que não mencione nomes... até porque foi com mais de uma pessoa, então o plural até que cabe realmente nessa frase.

– Transei sim, mas você não conhece não, ele é um amigo da academia.

– Ah! Sabia! Bem que vi pela sua cara que algo tinha acontecido.

Tudo bem que, enfim, não era por causa do Flávio que eu estava com aquela aparência, mas pelo menos ele me serviu de desculpa sem precisar mentir, meu único medo foi daquilo chegar aos ouvidos de Débora, já que Claudinha não costumava ser o tipo de pessoa boa pra se guardar um segredo. De qualquer forma, pedi:

– Mas não saí por aí falando disso não, por favor.

– Mas por quê? Você ainda tem esperando do seu ex pedir pra voltar? E mesmo que aconteça, ele não tem amizade com ninguém daqui.

Aquela pergunta pareceu abrir um abismo dentro da minha cabeça. Será que eu tinha essa esperança, mesmo que de forma inconsciente? Não me lembro de já ter parado pra pensar, porque me parecia tão concreto o que nos aconteceu, no caso do término, e no caso de acreditar que ele tem outra pessoa, que não me lembro de ter tido esse tipo de esperança... mas era possível.

Nesse meio tempo o Caio surgiu, meio que do nada, nos deu bom dia, cortando o nosso assunto, e me perguntou:

– Almoça comigo hoje?

– Hoje? – Fiquei reflexiva. – Não dá, hoje vou almoçar com a Débora.

– Ah ta, beleza então.

Ele pareceu ficar meio sem graça com a situação e com a minha resposta, o mais complexo foi que, assim que ele se afastou, Claudinha, brincando, disse:

– Daqui a pouco vai se bandear pro lado de lá.

Eu a olhei incomodada, porque entendi o que ela quis dizer, e disse:

– Eu já sou do lado de lá, você sabe.

– Ah, amiga, você não tem perfil de quem gosta de mulher, desculpa.

– Eu acho melhor você tomar cuidado com esse tipo de comentário, porque ele é preconceituoso, e sim, eu TAMBÉM gosto de mulher.

Eu realmente coloquei uma ênfase na palavra "também", já que sou bi e é muito chato toda hora alguém ficar invalidando aquilo que faz parte de mim, independente de com quem eu esteja no momento. Ou seja, só porque tenho uma aparência tida como feminina quer dizer que não tenho cara de quem gosta de mulher? Ou então só porque estou namorando um homem quer dizer que sou hétero? Lógico que não, mas enfim.

– Desculpa. – Pediu parecendo sem graça. – O que importa é você estar feliz, até porque esse seu último namoro não parecia te fazer muito isso não.

– Gente, mas o que tinha demais no meu namoro pra parecer isso? Você não é a única a me dizer isso.

– Amiga, seu namoro parecia simplesmente não existir, tinha hora que eu nem lembrava disso, porque você sempre tava sozinha em tudo.

– Como assim?

– Pra tudo que você precisava fazer, você ia sozinha, ou com a Débora, e quando vocês se falavam pelo telefone, parecia como se estivesse falando com um parente, ou amigo, e você pode até justificar usando o tempo de namoro, mas sinceramente, você parecia mais solteira do que namorando e meio que sempre foi assim.

Mais uma vez ela estava abrindo um abismo na minha cabeça, porque aquelas eram coisas das quais já andava pensando a respeito. Será que eu só enxergava o que queria ver? Mas o que era exatamente que eu queria ver? Por que, antes, não conseguia ver o que as pessoas estavam me contando?

É como se o término estivesse abrindo a caixa da Pandora da minha relação, que não é que fosse uma relação ruim, ou tóxica, sei lá, mas é que ela simplesmente parecia não existir... enfim, essa era uma questão pra reflexão, só que aquela conversa me gerou outro problema... eu devia contar pra Débora a respeito do Flávio? Eis a questão.


Quer saber como termina? Esse livro já está inteiramente disponível pela Amazon, o link ta na minha Bio ;)

Curte, comenta e compartilha

Cap novo toda quarta

Me segue no insta: kakanunes_85

LGBT - Ao Meu LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora