Toque

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SAM

Se eu disser que essa ligação do papai não mexeu comigo, eu estaria mentindo. Tudo em minha vida não fazia mais nenhum sentido, eu tinha que agir conforme as pessoas ao meu redor queriam, não tinha mais uma opinião própria, atitudes próprias, ou poderia tomar decisão das coisas. Isso estava mexendo comigo e com a minha cabeça, mais do que eu achava que suportaria. Viver uma vida sem poder ser dona de suas decisões, ou ser quem você realmente é, é totalmente exaustivo, e era exatamente isso que eu estava vivendo á anos. Amo o meu pai, mas o jeito que ele controla as coisas, controla a minha vida, minhas falas, com quem devo ou não me relacionar, me machuca. Aqui, sentada diante a pequena mesa redonda preta, nesse dormitório sem cor, agora preenchido com o pouco do rosa que incendeia meus olhos, e trás um pouco de vida ao quarto monocromático e frio, me permito cair em lagrimas, me desmontar pela primeira vez em anos. Não me importo com a presença da Barbie no banheiro ao lado. Não me importo se no momento em que sair ela veja minha vulnerabilidade, amanhã a mascara vai ser colocada de novo, e eu fingirei que nada aconteceu. Mas hoje eu preciso me desfazer desse peso em meus olhos.

Ela não demorou muito no chuveiro, logo ouço a aguá para de correr, e o barulho das gotas cessar, em menos de alguns poucos minutos a porta vai ser aberta e ela vai me ver, frágil.

O trinco foi destrancado e a porta entreaberta em uma pequena fenda. - Vira de costas, por favor, eu esqueci minha roupa de novo. - Ela falou e eu nada respondi. - Ouviu? - Permaneci calada, na intenção de prolongar a demora dela lá dentro, o que foi inútil. - Estou saindo. - Ela avisou, e assim que ouvi seus pés pisarem fora do banheiro abaixei a cabeça na mesa, envolvendo-a com uma conchinha feita com os braços. - Meu Deus, Sam, o que foi? Você está passando mal? - Ela perguntou, e eu continuava de cabeça baixa e sem dizer uma palavra sequer. Foi inevitável a fungada alta e pesada sair de minhas narinas. - Você esta chorando? - Ouvi os seus passos se aproximando, um toque suave e quente a minha pele. - O que foi Sam? Fala comigo. - Eu não conseguia dizer nada, ela já sabia que eu estava chorando, então me permitir chorar mais alto. Mon não disse mais nada, apenas se ajoelhou ao meu lado e ficou fazendo um carinho suave nos fios do meu cabelo, e com a outra mão também fazia um carinho em um dos meus braços ainda escondendo o meu rosto. Pela primeira vez alguém apenas me ofereceu o seu silêncio, sem querer me aconselhar, sem me dizer o que eu deveria fazer, apenas sua companhia, carinho e o seu perfeito e agradável silêncio.


MON

Não sei o que foi dito nessa ligação, mas algo mexeu profundamente com a garota que chorava sem parar á minha frente. Por mais que eu achasse ela uma idiota, não conseguiria ignorar essa cena, fingir que nada havia acontecido. Sabia que ela não iria dizer nada, então apenas ofereci um o meu silêncio e um carinho aconchegante. Não sei se ajudaria em algo, mas aos poucos com a minha mão acariciando os fios escuros, lisos e macios, ela foi se acalmando.

- Vou pegar um copo de água pra você. - Disse, e ela estava em soluços, o choro havia cessado, porém parecia se sentir mais confortável em deixar o rosto ainda escondido. Acho que ela não queria que eu a visse tão vulnerável. Me levantei até um pequeno bebedouro no quarto e enchi o copo. - Vamo Sam, beba um pouco. Eu não quero saber o que aconteceu e também não perguntarei nada, apenas beba. - Apoiei o o objeto com o líquido tranparente na mesa e finalmente ela levantou a cabeça me olhando, seus olhos estavam vermelhos e inchados, não sei à quanto tempo estava chorando, mas foi tempo o suficiente para seu rosto ficar marcado. Segurei seu queixo com a mão e afastei os fios soltos do cabelo que grudaram na sua testa e bochechas. Ela olhou pronfudamente aos meus, parecia enxergar minha alma, da mesma forma que eu estava enxergando a sua, que nesse momento indicava profunda tristeza e dor. - Apenas beba. - Dei um sorriso simpático e me afastei, deixando que ela consumisse o que estava dentro do copo. Peguei minhas roupas e voltei para o banheiro.

A herança - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora