Conforto

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SAM

Ouço passos, que a cada segundo ficam mais distantes de mim, ainda estou sozinha no meio dessas arvores grandes, altas e robustas. A falta de luz me assusta, pela primeira vez.

Não consigo distinguir se tudo não passou de uma miragem, invenção da minha fértil mente, ou se eu realmente confessei meu sentimento, á alguém que eu sequer sei quem é. O pânico toma conta de cada centímetro de pele que há no meu corpo.  O que era um grito ensurdecedor, vira um despertar de lágrimas constante. Que não se cessa até que eu chegue novamente nos corredores ilumidados, da escola.

Abro a porta do quarto, com quase nada de coragem, não sei dizer se quero que ela ainda esteja acordada para me amparar, ou se prefiro que esteja adormecida, e que, me livre de ter quer explicar o que acabara de acontecer. 

— Sam... — A voz dela se arrasta, seus olhos estão mais vermelhos que o normal, mesmo eu estando quebrada, consigo notar que, ela também está. E que, ela também extravasou, e o seu lado da cama bagunçado, travesseiros jogados ao chão, alguns objetos quebrados, indicam que, a mesma tempestade que me possuiu, também se apossou do corpo sentado a minha frente. — Meu Deus, o que houve com você? — Mon diz, já está de pé na minha frente, tateando cada pedaço de pele do meu braço. Aqui percebo que, não importa o quanto está arrasada, ela deixou de lado a sua dor e veio até mim, e sei que, vai cuidar do meu pânico até o amanhecer. 

— Mon... — Choro, e não me sinto mal por isso, de todas as pessoas que me cercam nessa vida, ela é a primeira e única, que me contempla derramando lágrimas. Seus braços, abraçam o meu corpo, deito meu rosto na curvatura do seu pescoço, inalando o mais cheiroso, dos perfumes que já inspirei. O arrepio da sua pele exposta que o ar abafado das minhas narinas tocam, me deixa confusa, no entanto, é aqui que, compreendo que há uma chance, uma mínima chance, mas ainda sim uma chance, de a conquistar. 

— Coloque para fora, não guarde para si. — Diz, convicta. Suas mãos delicadas, afagam minhas costas, enquanto a ponta do meu nariz, traça linhas inimagináveis no seu longo e alvo, pescoço. Por alguns breves segundos, esqueço de tudo que havia acontecido. O calor do seu corpo, afasta qualquer resquício de sentimentos ruins dentro do meu coração, é como se houvesse um novo caminho, uma nova historia, um recomeço, diferente, bom, e feliz. A tremedeira do meu corpo se dissipa, ela percebe, e é o momento que me solta delicadamente. Meus olhos suplicam por algum contato, ela entende, apalpa o meu rosto, com a  maciez dos seus dedos. Descanso os olhos e deixo que o carinho feito com o polegar, me permitam sonhar e visualizar um futuro bonito. — Compartilhe sua dor comigo. — Sussurra, e ao ouvir os sons da sua voz, em tom suave, sorrio. 

— Alguém está me acusando de algo ruim. — Falo, e essas palavras trazem um amargor ao meu paladar. Quero compartilhar a minha dor, no entanto, não quero dizer do que fui acusada, não quero a assustar. Antes de confiar a ela tal acusação, preciso averiguar, preciso ter provas o suficiente que não me liguem á esse aborto. 

— E você fez o que te acusam? — Mon retruca, a firmeza em sua fala, demonstra que, ela não está me advertindo, está tentando me mostrar que, não devo entrar em pânico por algo que não cometi. Todavia, as lágrimas apoderam dos meus olhos, a tremedeira me aprisiona mais uma vez. Mesmo não tendo absolutamente nada a haver com essa atrocidade, o desespero de ser acusada de algo tão cruel, de saber que, uma vida inocente foi ceifada da maneira mais nojenta existente, toma conta do meu corpo. Cada célula dentro de mim, dói, arde, chora e rasga, é como se, uma parte estivesse morrendo no meu interior. Antes de ser tomada pelos seus braços mais uma vez, meneio a cabeça, respondo sua pergunta, negando, do jeito que dá, por que, as palavras não saem, se entalam fazendo um nó, na minha garganta. — Shiii... — Seus braços me pressionam fortemente, e a mensagem que chega até o meu cérebro, indicam que, estou segura agora. Uma segurança que nunca senti antes, nem com os abraços dos meus pais, é como se, agora realmente tivesse uma fortaleza, uma que eu nunca tive, em nenhuma fase da minha vida. 

A herança - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora