Mon ou Armstrong?

1.7K 248 48
                                    

MON

Não sei do que exatamente estou fugindo, e muito menos para onde estou indo, o ar se faz falta em meus pulmões, minhas narinas não conseguem puxar o ar denso do corredor, meu estômago se revira, me causando náusea. Isso me remete á uma Mon, covarde, que nunca existiu. No entanto, quando o assunto é Samanun, tudo é diferente, minhas ações não correspondem ao que exatamente eu sou, e como devo agir. Até hoje de manhã, eu tinha certeza de que conversaria com Heng, e que o deixaria livre, mas agora, ao ouvir sobre Sam se casar com Nita, uma fúria toma conta do meu corpo, me dando a certeza de que o certo é continuar do lado dele. 

Escuto o som do líquido incolor em contato com a água do vaso sanitário, estou parada com a palma da mão espalmada no azulejo branco da parede do banheiro, e a cabeça abaixada, com o corpo um pouco inclinado para trás, para que não respingue nenhum resquício do vômito em minha roupa. Eu realmente queria entender como cheguei nesse ponto, o que me fez caminhar até esse momento, e o porque um casamento mexe tanto com meus sentimentos, e pior, com o meu corpo. Busco internamente respostas, que não exitem. Eu sequer consigo chegar á uma conclusão. Me vejo frágil e vulnerável, sei que meus pais nunca me julgariam por isso, porém, eu me julgo, eu me culpo, tudo é culpa minha, por que diabos eu a beijei? Por que não insisti na mudança de quarto? Entro cada vez mais num emaranhado quase que impossível de sair. Arrisco dizer que exista um imã invisível, me sugando vorazmente para Sam.

Pego meu celular no bolso traseiro da calça jeans preta que uso, com as mão trêmula tento buscar o contato da mamãe, eu preciso dela, do seu colo, e principalmente, dos seus sábios conselhos. Confio nela de olhos fechados, nunca me deixou na mão, sempre esteve ao meu lado e se me tornei a mulher forte que sou hoje, é por causa dos seus ensinamentos, e sei que não há ninguém melhor nesse mundo para me guiar e me tirar dessa escuridão que venho me enfiando. Com a mão ainda sobre o azulejo frio do banheiro, consigo desbloquear o aparelho com certa dificuldade, com a mão livre. Ao acessar os contatos, rapidamente, encontro o que tanto anseio, e nesse momento, me permito me desencostar da parede me equilibrando apenas nas pernas bambas, e digito com as duas mãos. 

"Mamãe, como você está? Preciso me encontrar com a senhora, o mais rápido possível. Te amo."

Suspiro pesadamente, piscando fortemente para recompor o desfoque da minha visão, e tentar ao menos, recompor também, a minha respiração. Não demora muito e o som do celular indica uma mensagem que acabou de chegar.

Não penso duas vezes em abri-la. 

"Oi meu amor, que saudades de você, como esta? Estou preocupada. Podemos nos encontrar amanhã?"

Tateio as teclas embaralhadas ainda pela minha visão turva, tentando digitar algo legível, mas outra mensagem aparece na tela. 

"Filha, não se esforce tanto, não se deixe chegar ao limite, nada vale mais do que a sua saúde mental, não se cobre, se algo estiver difícil me avise, nós acharemos outra forma, juntas."

Essa mensagem desencadeia uma pontada profunda no meu coração, não quero ser fraca, eu sou uma Armstrong, e uma Armstrong nunca desiste. Meus pais não desistiram. Não é atoa que estamos mais uma vez no ranked top dez das empresas mais bem sucedidas do país. Foram quase dezoito anos para recuperar esse feito, dezoito anos de luta dos meus pais, para que eu estrague dessa forma por algo tão banal, como uma mimadinha que está prestes a se casar, por dinheiro e título. Samanun não é diferente de Niran. Como são os únicos Anuntrakul's ainda existentes, me lembro que o seu dna, ainda é o mesmo que o desse verme, a fazendo ser igual á ele, e as vezes acho que até pior. 

Puxo o ar mais uma fez e o solto delicadamente, me recompondo aos poucos, parando de tremer, volto os dedos aos pequenos quadradinhos na tela do aparelho luminoso, digito a próxima mensagem, dessa vez mais confiante. 

A herança - MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora