02_ Vai me contratar ou não?

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Aquele dia não tinha sido tão diferente do anterior. Igualmente na rotina de andar pela cidade toda e no fato de eu não ter conseguido nada.

Santa Bárbara pareceu tão cruel aos meus olhos naquele dia.

Depois de rodar o dia todo e me pegar vendo o sol se pôr, pensei que minha vida estava acabada. Sentei-me no meio fio, encarando o sol ser engolido pela água do mar. Tanta gente se divertindo e aproveitando aquele fim de tarde na areia e eu estava me deprimindo.

ㅡ O que tá fazendo? ㅡ Ouvi a voz de alguém e percebi um par de pés parados ao meu lado.

ㅡ Treinando para quando eu virar mendiga. ㅡ Respondi no automático e só aí me lembrei de que estava numa cidade onde não conhecia ninguém. Olhei para cima assustada, mas relaxei de volta quando vi quem era. ㅡ Ah, é você. ㅡ Resmunguei. ㅡ Já terminou de varrer sua calçada?

ㅡ Por que ta sentada no chão? ㅡ Ele voltou a perguntar.

ㅡ Porque não tenho um bar cheio de cadeiras para me sentar. ㅡ Encarei meu all star que era branco antes de eu andar o dia todo e mexi no cadarço.

Ambos ficamos em silêncio por um tempo até ele se sentar ao meu lado. Percebi que ele tinha uma sacola de mercado nas mãos.

O encarei com uma careta, sem entender o motivo da companhia.

ㅡ Por que precisa tanto do emprego? ㅡ Ele focou os olhos na praia.

ㅡ Porque não tenho onde morar, viver ou comer. ㅡ Ele olhou para mim com a primeira expressão do dia: como se eu fosse uma coisa esquisita.

ㅡ O que aconteceu com você? Fugiu de casa? ㅡ Balancei a cabeça voltando a olhar para a frente.

ㅡ Longa história, to cansada demais. Então, vai me dar o emprego ou não? ㅡ Ele arqueou uma sobrancelha com a minha ousadia.

ㅡ O que te faz pensar que mudei de ideia?

ㅡ A não ser que você seja uma pessoa horrível que sentou aqui comigo só para me dar falsas esperanças e depois ir embora como se nada tivesse acontecido, acho que você quer me dar o emprego. ㅡ Ele voltou a ficar sem expressão. Mais parecia um boneco de porcelana que não muda de cara. ㅡ E você não quer manchar sua consciência sabendo que deixou uma pobre garota ir morar na rua, não é mesmo? ㅡ Pisquei várias vezes.

Ele me encarou com aquela expressão de que nem devia ter consciência e muito menos ficaria com ela pesada por minha causa.

Um suspiro saiu por seus lábios.

ㅡ Tem experiência como garçonete? ㅡ Abri um sorriso no mesmo instante.

ㅡ Não e nem entendo nada de bebida! ㅡ Falei aquilo com um sorriso tão contente no rosto que ele estranhou. ㅡ Mas, aprendo rápido e sou esforçada. ㅡ Me levantei de maneira rápida pela empolgação, o que fez tudo ficar escuro por um tempo e eu pensei que fosse desmaiar.

ㅡ O que foi? ㅡ Ouvi a voz do cara, mas só consegui olha-lo depois que meus sentidos voltaram ao normal.

ㅡ Minha pressão... ㅡ Toquei minha testa. ㅡ Não comi nada hoje. ㅡ Ele ficou ali parado, olhando pra mim sem esboçar nada. ㅡ Ok, já estou bem. ㅡ Voltei ao meu ânimo. Eu tinha um emprego! Poderia ser horrível, mas eu tinha um emprego!

ㅡ Vamos. ㅡ Ele virou as costas e saiu andando. Me apressei para alcança-lo e só consegui parar de correr quando chegamos ao bar. Ô homem pra andar rápido, meu Deus... Acho que o fato dele ser bem alto ajuda. ㅡ Ben? ㅡ O homem chamou por alguém assim que entrou no bar. Ele foi direto para de trás do balcão e entrou numa porta, eu me sentei numa das cadeiras pra tentar recuperar o fôlego.

Um raio de Sol em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora