Eram quase meia noite quando o bar finalmente ficou vazio e eu me permiti sentar um pouco. Meus pés estavam doloridos, não só por ter ficado as últimas cinco horas e quarenta minutos em pé, andando de um lado para o outro nesse salão, mas também por ter rodado a cidade toda mais cedo.
Meus dedinhos estavam pedindo ajuda. Senti que eles podiam, a qualquer momento, saltar, desistindo de sustentar meus pés.
Maldito sedentarismo, passei o último ano sentada estudando e agora precisava ficar em pé.
Tenho que voltar a me exercitar.
ㅡ Ok, eu estou indo embora. ㅡ Ben apareceu no salão já vestindo outra roupa e com uma ecobag no ombro. ㅡ Foi bom te conhecer, Flor. Até amanhã.
Acenei para ele, sem forças de dizer um tchau decente. Ben deixou o bar e eu ergui meus pés, os girando, tentando amenizar a dor aguda que os atingia.
ㅡ Tire o lixo do salão e já pode ir. ㅡ Carson, que parecia lavar os últimos copos da noite, disse atrás do balcão.
Me levantei, retirei as sacolas de lixo e levei até lá na frente. Tinha um latão de lixo ao lado, na calçada, que eu não havia notado antes. Provavelmente ele ficava guardado e só era colocado para fora a noite, antes do caminhão de lixo passar.
Voltei para dentro e observei o bar novamente. Acho que sempre que eu entrasse ali, ficaria extremamente chateada com a aparência do lugar. Não era sujo, nem mal cuidado, só não era feliz.
ㅡ Qual a sua opinião sobre decoração? ㅡ Perguntei como quem não queria nada.
ㅡ Minha opinião não interessa. ㅡ Parei de encarar as paredes tristes e fiz uma careta para ele. Por um momento me esqueci com quem estava falando.
ㅡ Ai, credo, foi só uma pergunta inocente. ㅡ Peguei a minha bolsa, que já tinha deixado perto e coloquei sobre o ombro. ㅡ Obrigada, pelo emprego. ㅡ Meu tom não saiu muito grato.
Ele não respondeu, então saí do bar após revirar os olhos. Carson, apesar de ter me contrato, isso depois de ter me recusado, não parecia uma pessoa nada doce. Ele não sorriu uma vez se quer, nem para os clientes, também não disse uma coisa que não parecesse um fora. Acho que até se ele me elogiasse, iria soar mais como uma bronca do que algo bom. Isso sem contar o fato dele insistir em me chamar de Florence. Arg...
Meu celular começou a tocar enquanto eu caminhava pela calçada, voltando na direção do hotel.
ㅡ Diga, Sierra. ㅡ Atendi a chamada após ver que era minha irmã.
ㅡ Onde você está? O que aconteceu? Por que nossos pais receberam uma ligação dizendo que você foi expulsa da faculdade ontem e você não veio pra casa? Você está bem? ㅡ Minha irmã mais velha começou a falar assim que ouviu minha voz na linha.
ㅡ Eu estou bem, não precisa se preocupar. ㅡ Fitei as ondas se quebrando na areia. Apesar de já ser praticamente meia noite, ainda tinham pessoas pela praia. ㅡ Ta tudo bem. ㅡ Tirando o fato de que eu poderia ter desmaiado de fome e quase ter ido morar na rua.
ㅡ Tem certeza? Onde você está? Precisa de alguma coisa? Quer que eu vá te buscar? ㅡ Sierra era minha irmã mais velha por três anos, o que significa que ela já estava quase terminando a faculdade. Ela era tipo o exemplo de irmã perfeita e nos últimos anos, fiz de tudo para ser que nem ela, para agradar os meus pais.
Mas, para ser sincera, isso tinha me cansado. Mas, eu sabia que não era culpa dela. Ela era a pessoa mais responsável e cuidadosa que eu conhecia.
ㅡ Não, pelo amor de Deus. A última coisa que preciso agora é voltar pra casa e encarar os nossos pais. ㅡ Ajeitei a bolsa no meu ombro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um raio de Sol em minha vida
RomansaEla é distraída, impulsiva, esquecida e ama dias de sol. Ele é dono de um bar, não tem amigos, não gosta de pessoas, mora perto da praia, mas nunca põe os pés lá. Florence, que prefere ser chamada de Flor, chega à Santa Bárbara só com uma mala e a...