Voltei a mim quando a mulher chamou pela próxima pessoa, que era eu. Entrei na sala e a coisa foi bem mais rápida do que pensei que seria. Ela só perguntou a modalidade que eu queria, perguntou se eu já tinha feito uma aula experimental, assinou umas coisas, me fez assinar umas coisas e disse que se eu me apressasse, conseguiria pegar a aula daquele dia. Foi quando saí de sua sala e rumei para ala de artes, que só agora descobri que existia.
Bati duas vezes na porta já aberta para chamar a atenção da professora, que ligo abriu um sorriso quando me reconheceu.
ㅡ Oh, você voltou! ㅡ Ela veio me receber na porta e já me puxou para dentro. Haviam alguns alunos lá dentro, ninguém estava pintando, eles estavam apenas conversando e rindo entre si. ㅡ Escolha um lugar que já já começamos.
Olhei em volta procurando por algum lugar vago. Percebi que o mesmo lugar que me sentei da última vez estava vago, então rumei até ele. Até porque o lugar era ótimo e tinha uma bela visão do meio, onde costumavam ficar os alvos das pinturas.
Me sentei no lugar e observei a tela em branco na minha frente. As tintas estavam logo ao lado e tudo aquilo me deixava extremamente animada. Me fazia sentir nostalgia. De quando eu ficava horas dentro do quarto fingindo estar estudando para o vestibular, quando na verdade estava pintando.
Gostava de me expressar assim. O que mais gostava de fazer era decorar, mas eu não tinha muita oportunidade ou lugar para fazer isso. Tirando o meu quarto, eu não podia mexer em nada na minha casa. Já joguei tudo quanto é jogo de decorar casas no computador, pintar era o meu segundo dom favorito e o único que eu ainda podia fazer, mesmo que escondido.
Por anos tive telas escondidas embaixo da cama para não dar muito na cara que eu passava horas fazendo isso.
ㅡ Olha só quem voltou... ㅡ David apareceu. Ele se sentou na cadeira a minha direita e sorriu para mim. ㅡ Sabia que tinha gostado da aula.
ㅡ É, eu gostei. ㅡ Sorri apoiando as mãos no meu colo. ㅡ Você faz aula aqui a muito tempo?
ㅡ Tem uns seis anos que estou aqui, mas nessa aula em específico, só um ano e meio. Eu não sou muito bom nisso, só quis tentar algo novo. ㅡ Ele passou a mão em seus cabelos castanhos lisos. David era a cara daqueles tiktokers que fazem vídeos dançando ou cantando em estacionamento. ㅡ E você? A quanto tempo se dedica a ser o próximos Van Gogh? ㅡ Ri de sua comparação.
ㅡ Tirando o da última aula, o último quadro que pintei fazia uns três ou quatro anos. ㅡ Observei enquanto a professora arrumava o meio da sala. ㅡ Não faço isso com tanta frequência mais.
ㅡ Que bom que decidiu voltar a fazer. Você tem talento. ㅡ Ele piscou. Piscou enquanto sorria.
Eu revirei os olhos com um sorriso. Achava engraçado a capacidade dos caras que se acham bonitos, acharem que podem conseguir quem quiser passando a mão no cabelo e dando uma piscadela.
ㅡ Vai fazer algo depois daqui? ㅡ Ele perguntou tentando parecer sem pretensão alguma.
Olhei para a cara do bonitão e abri um sorriso.
ㅡ Não sei, meus planos dependem do meu namorado. ㅡ Segui na mentira. Eu não queria um cara como ele no meu pé e essa mentira era bem conveniente.
ㅡ Namorado? ㅡ Ele pareceu surpreso. Como se fosse um Brad Pitt levando um fora. Como se eu tivesse humilhado ele dizendo que não sairia com ele mesmo que fosse o último cara da face da terra.
ㅡ É. ㅡ Observei a pilha de livros antigos que a professora colocou na mesa do centro.
ㅡ Não sabia que tinha namorado. ㅡ Ele se ajeitou na cadeira. ㅡ Bem... Bonita como você, não sei como não deduzi. ㅡ Olhei para ele novamente. Seu tom era o mesmo daqueles caras que chegam na gente perguntando onde está o namorado só para dizermos que não temos.
Não respondi, só foquei nos livros que eu provavelmente teria que pintar.
ㅡ Ele é da sua cidade? ㅡ O encarei me perguntando como o papo do namorado não funcionou para que ele parasse de puxar assunto.
ㅡ Não, David. É daqui. O Carson. ㅡ O sorriso idiota que ele tinha nos lábios se desfez. David ajeitou a postura, coçou a garganta e uma expressão de medo apareceu em seu rosto.
Olha só, ele tinha medo do Batman.
A professora anunciou que começaríamos e David saiu de perto de mim, voltando para o seu lugar. Ri de seu medo e me preparei para começar a pintar.
[...]
ㅡ FLOR!! ㅡ Alguém pulou em mim, tocando meus ombros e aparecendo na minha frente com um sorriso. Era Sasha. Eu estava na porta da academia com a pintura enrolada em minhas mãos e esperando para ver se o sol dava uma trégua para eu voltar pra casa.
ㅡ Oi! Quase me matou. ㅡ Ri olhando para ela. Seus cabelos loiros estavam presos em duas tranças embutidas. Ela estava vestindo o uniforme dos funcionários do lugar.
ㅡ Se inscreveu? ㅡ Assenti. ㅡ Ai que bom!! ㅡ Ela me abraçou. ㅡ Pra qual? Pintura?
ㅡ Isso. Acho que é a única coisa que sei fazer que tem aqui. ㅡ Ri balançando a pintura.
ㅡ Ficou na turma do David, né? ㅡ Ela revirou os olhos.
ㅡ Infelizmente.
ㅡ Ele sentou do seu lado, te elogiou, passou a mão no cabelo, piscou pra você e perguntou o que ia fazer depois daqui, né? ㅡ Ela cruzou os braços e eu a encarei espantada. ㅡ Ele sempre faz isso. Não pode ver uma garota bonita que já quer " marcar território ". ㅡ Fez uma careta. ㅡ É um idiota. Não da bola pra ele.
ㅡ Eu disse que o Carson era meu namorado e ele praticamente fugiu de perto de mim. ㅡ Ela soltou uma gargalhada.
ㅡ Não tem um cara nessa cidade que não tem medo do Carson. ㅡ Ela olhou em volta, até que seus olhos se arregalaram e ela me olhou. ㅡ Espera aí, você ta namorando com o Carson?
ㅡ Er... ㅡ Fiquei na dúvida se contava para ela a verdade ou não, mas ela não me deu chance de dizer mais nada, só pulou em mim num abraço. ㅡ Isso é tão legal!! Parabéns! Vocês ficam lindos juntos. Aposto que você vai ser um raio de sol na vida dele.
Sorri para ela e olhei para a rua. O carro de Carson parou na frente da calçada e ele acenou pela janela, chamando por mim. Sorri novamente ao perceber que ele tinha vindo mesmo me buscar.
ㅡ Ui, seu bonitão chegou. Vou lá que eu tenho uma aula para dar. A gente se vê, Flor! ㅡ Sasha entrou na academia novamente e eu caminhei até o carro. Abri a porta e me sentei no banco do passageiro.
ㅡ Você não tinha um bar pra tomar conta? ㅡ Perguntei após fechar a porta.
ㅡ Pega o que está no banco de trás logo e para de palhaçada. ㅡ Fiz uma careta e olhei para o banco de trás.
Tinha um buquê pequeno ali atrás. Um buquê de lírios.
•••
Continua...
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Um raio de Sol em minha vida
RomansaEla é distraída, impulsiva, esquecida e ama dias de sol. Ele é dono de um bar, não tem amigos, não gosta de pessoas, mora perto da praia, mas nunca põe os pés lá. Florence, que prefere ser chamada de Flor, chega à Santa Bárbara só com uma mala e a...