Um raio de Sol em minha vida

14_ Sou sua namorada agora?

Florence me fez assistir ao desfile inteiro. Completo. Todo. Integral. Total. Quando finalmente voltamos para o bar com Sasha e ela conversando a beça sobre tudo o que viram, quase deitei e beijei o chão. Parecia que eu tinha ficado fora cinco dias. As músicas ainda estavam na minha cabeça.

Elas duas continuaram conversando no portão. O tal do David desapareceu no meio do desfile e eu não o vi mais.

Avisei que subiria e as duas continuaram no portão. Passei pelo corredor, subi as escadas e estranhei minha porta estar aberta. Eu tinha deixado ela aberta antes de ir?

Me aproximei e me assustei quando vi o vulto de alguém passando na minha cozinha. Procurei pela sala algo que pudesse me defender, mas não tinha nada. Fui andando devagar pelo corredor até chegar a porta da cozinha. Quando vi quem era, meu corpo relaxou.

ㅡ O que pensa que está fazendo aqui? ㅡ Perguntei. O homem que abria uma das cervejas que estava na minha geladeira, virou-se para mim e abriu um sorriso.

ㅡ Tomando uma cerveja. ㅡ Ele deu um gole e voltou a sorrir. Logo depois deixou a cerveja sobre a pia e veio até mim me dar um abraço. ㅡ Como você está? Não tem vivido triste e na escuridão igual ao Batman, certo? ㅡ Olhei no fundo dos olhos dele e não segurei o sorriso.

ㅡ Eu estou bem, cadê a mãe? ㅡ Ele voltou a pegar a cerveja e eu escutei um barulho no meu quarto. Meu pai ergueu a lata já indicando onde ela estava.

ㅡ Ele tem as mesmas roupas de um ano atrás. ㅡ Minha mãe apareceu no corredor. ㅡ Oi, filho! ㅡ Ela sorriu e me abraçou. ㅡ Onde estava?

ㅡ No desfile. ㅡ Os dois me encararam.

ㅡ Desfile? Você? ㅡ Minha mãe riu. ㅡ Viu só, Richard? Eu disse que ele estava bem. Está até indo a desfiles.

ㅡ O que vocês estão fazendo aqui? Não deviam estar em outro continente? ㅡ Minha mãe bateu a mão no ar como se viajar para outro país num dia aleatório fosse uma coisa simples e comum.

ㅡ Seu pai tinha uns dias de folga e nós estávamos com saudade. ㅡ Minha mãe respondeu. ㅡ Também trouxemos o Jason.

ㅡ Cadê ele? ㅡ A porta do banheiro se destrancou e o meu irmão adolescente de quinze anos saiu de dentro dele, com a cara enfiada no celular na horizontal, provavelmente jogando algo. ㅡ Ai, essa fase não passa?

ㅡ Não, ele só fica nessa geringonça o dia inteiro. ㅡ Minha mãe revirou os olhos.

ㅡ Fala aí. ㅡ Foi o que ele disse, após olhar para mim por uns mínimos dois segundos e voltar a olhar para o celular. Como se nos víssemos todos os dias. Não nos vemos faz um ano.

ㅡ Fala aí. ㅡ Repeti.

ㅡ Tem sabonete de mulher no seu banheiro. ㅡ Ele disse antes de seguir para a sala.

Seu comentário atraiu o olhar de meus pais para mim. Principalmente o da minha mãe. Minha mãe trabalha com casamentos, é cerimonialista. E o grande sonho dela sempre foi casar um de seus filhos. E, claro, eu sou o primeiro da lista dos mais esperados, afinal, Jason só tem quinze anos e Claire... Bem, não vai acontecer.

Toda vez que nos vemos, minha mãe toca no assunto e, quando vejo, ela arrumou umas cinco pretendes na cidade pra mim. Amo quando eles vem me visitar, mas odeio essa parte.

ㅡ Tem é? ㅡ Minha mãe se levantou quase que correndo para ir até o banheiro. Ela olhou da porta mesmo e seu sorriso virou na minha direção. ㅡ De quem é esse sabonete, Carson?

ㅡ Como vai Paris? ㅡ Mudei de assunto, fugindo para a sala.

ㅡ Linda e romântica. ㅡ Ouvi os passos apressados de minha mãe me seguindo. Parei perto da porta tentando pensar num jeito de fugir do assunto.