ㅡ Ta, vamos começar. ㅡ Segurei a bolsa em meu colo. Estávamos em seu carro, que eu nem ao menos sabia que ele tinha. Estávamos a caminho do restaurante, havíamos acabado de sair.
ㅡ Começar o que? ㅡ Carson perguntou sem olhar para mim. Ele estava dirigindo, guiando o volante com uma mão e com o outro braço apoiado na janela aberta.
ㅡ A combinar as coisas. Quer chegar lá no restaurante sem combinar antes o que dizer? E se quiserem saber a história detalhada de como nos conhecemos? E se perguntarem como começamos a namorar? E sobre mim? Eu posso ser sincera sobre tudo sobre mim?
ㅡ Pode. Não precisa mentir sobre você. ㅡ Ele fez uma curva. ㅡ Pode dizer que chegou aqui na cidade perdida igual uma maluca e que te dei um emprego. Se perguntaram seus hobbies ou coisa parecida, pode ser sincera.
ㅡ Sua mãe faz o tipo que pergunta muito?
ㅡ Faz. ㅡ Assentiu. ㅡ Ela não é do tipo que faz perguntas para ter certeza se você serve pra mim, ela faz perguntas para ter certeza de que nada te impede de ficar comigo. Tipo algum ex que pode te procurar, ou algum sonho seu que te faça ir para longe ou alguma outra coisa que te faça repensar. Já falei como ela é desesperada para me casar? ㅡ Ri concordando.
ㅡ Não acho que eu tenha algum empecilho. Nem metas futuras eu tenho. ㅡ Suspirei e olhei para a janela. Não tinha ideia de onde estávamos, a cidade ainda era bem desconhecida para mim. ㅡ E ex... Puff... ㅡ Balancei a cabeça. ㅡ Meu ex estuda na Columbia. Estávamos namorando quando ele foi pra lá e continuamos bem até o dia que fui visita-lo. Ele tinha feito uma nova amiga. Uma nova melhor amiga. Eles juravam de pé junto que não sentiam nada um pelo outro, mas admitiam passar muito tempo juntos. Tínhamos amigos incomuns que estudavam com ele e esses amigos me disseram que eles dois viviam agarrados e que todos pensavam que eles eram um casal. Ela ia até o dormitório deles e dormia no quarto deles depois de uma noite de jogos, não ficavam, mas ela estava lá. ㅡ Agarrei a bolsa. ㅡ O pior é que ele sempre foi muito sincero e uma pessoa incrível. Ele não mentia, mesmo se sua vida estivesse em perigo. Eu conseguia ver a sinceridade no rosto dele quando ele dizia que não rolava nada entre eles e eu acreditava, mas, mesmo assim... Eu terminei com ele. Eu não queria namorar um cara que tinha uma melhor amiga que não era eu. Que passava horas com ele, que dormia no quarto dele, que almoçava com ele e que todos pensavam que eram um casal de tão juntos que andavam. Por mais que acreditasse que ele não me trairia, eu sabia que morreria de ciúmes sempre que os vissem ou sempre que nossos amigos mandassem fotos deles juntos.
ㅡ E ele entendeu quando terminou com ele?
ㅡ Ele não concordou, disse que eu estava com ciúmes atoa, porque não rolava nada entre eles. Tive que explicar que não é só de beijo que se tem ciúmes. Eu teria ciúmes se ele almoçasse com ela todos os dias quando a gente mal se via uma vez por mês. Eu teria ciúmes se ela dormisse no quarto dele quando eu só tinha entrado lá uma vez. Eu teria ciúmes das horas que eles passavam juntos conversando quando ele mal tinha tempo para me ligar. ㅡ Tentei engolir o nó na garganta. ㅡ Namorada para mim não é só a pessoa que o outro beija. Namorada é a companheira. E essa garota era a companheira dele. Quando ele precisasse de ajuda, era ela que ele procuraria. ㅡ Suspirei novamente e olhei para Carson. ㅡ Concorda comigo?
ㅡ Não entendo muito de relacionamentos.
ㅡ Mas... O que você acha? Acha que eu exagerei? Que joguei uma boa relação fora?
ㅡ Não. ㅡ Ela parou no sinal vermelho e se apoiou na janela. ㅡ Acho que se eu tivesse uma namorada e convivesse com você da maneira que tenho convivido, ela teria razão em sentir ciúmes. Te dei um emprego, uma casa, você já entrou na minha, já tomou banho lá, tomou café, me fez ir a um desfile, jantou comigo... Quando o armário do meu banheiro estava caindo na minha cabeça, foi você quem me ajudou. ㅡ Ele me olhou. ㅡ Você tem sido a minha companheira.
Engoli em seco. Meu rosto ardeu e eu olhei para a frente para tentar evitar que ele visse o meu rosto completamente corado.
O caminho se seguiu em silêncio até chegarmos no restaurante. O lugar era chique, o que me deixou aliviada por ter me arrumado direito. Carson abriu a porta do carro para mim e logo já estávamos sendo levados pelo garçom até a mesa onde sua família já estava.
Eu pensei que ficaria nervosa, mas o fato de não ser de verdade me deixou tranquila. Se Carson fosse mesmo meu namorado, eu estaria entrando em pânico, criando várias teorias na cabeça sobre como eles me odiaríam e em como tudo poderia dar errado.
ㅡ Oh, aí estão vocês. Estão tão lindos... ㅡ A mãe dele logo veio nos cumprimentar.
ㅡ Desculpem se demoramos. ㅡ Sorri para ela. Richard, seu pai, nos cumprimentou também. Seu irmão não estava no celular, mas estava com a cara de mais tediado possível. Aquela cara de que a mãe lhe proibiu de mexer no celular durante o jantar.
ㅡ Não demoraram, nós que chegamos cedo. ㅡ Richard disse com os olhos fixados na esposa.
ㅡ Mamãe ficou ansiosa a tarde toda e fez a gente chegar meia hora antes. ㅡ O garoto resmungou.
ㅡ Mãe, pelo amor de Deus... ㅡ Carson disse, puxando uma das cadeiras para eu me sentar. Logo sua mãe voltou a se sentar e ele se sentou ao meu lado. ㅡ Assim ela vai pensar que estivesse a vida todo encalhado.
ㅡ O que não deixa de ser verdade. ㅡ Ela comentou, o que fez surgir uma careta no rosto de Carson. ㅡ Me fala, Florence, quero saber tudo de você. ㅡ Ela olhou para mim com expectativa.
Olhei para Carson me sentindo insegura, mas ele assentiu, dizendo que eu poderia ser eu mesma.
ㅡ Bem, as pessoas me chamam de Flor. Cheguei em Santa Barbara não tem muito tempo. Eu fui expulsa da faculdade por alguns motivos e vim parar aqui em Santa Barbara sem nem ter onde ficar. Carson me deu o emprego e me deixou ficar na casa ao lado da sua. ㅡ Sua mãe olhou para ele.
ㅡ No quarto da Claire? ㅡ Ela perguntou. Seu sorriso havia desaparecido de seu rosto.
ㅡ É. ㅡ Carson assentiu. ㅡ Estava vazio tinha anos, acumulado poeira e teias de aranha. Ela não tinha onde ficar, então deixei que ficasse lá.
ㅡ Oh, Carson... ㅡ A mulher nos encarou. ㅡ Fico muito feliz em saber disso. ㅡ Ela voltou a sorrir e seus olhos lacrimejaram. ㅡ Como se apaixonaram? ㅡ Fiquei sem saber o que dizer e encarei Carson de novo.
ㅡ Ah, eu quero muito ouvir a versão do Carson. ㅡ Jason sorriu para o irmão. Aquele olhar de irmão que adora ferrar o outro.
ㅡ É... ㅡ Carson pigarreou. ㅡ A princípio eu não suportei ela. ㅡ Olhei para sua cara de pau de dizer aquilo na minha frente. ㅡ Ela era impossível. Ainda é, na verdade. Falante, debochava de tudo, enchia o saco querendo decorar o bar, fiz ela decorar o cardápio e toda vez que alguém pedia algo, ela citava o cardápio todo pra mim, ficamos presos na dispensa uma vez por algumas horas e ela quase me deixou maluco, cantando alto e dançando o tempo todo. ㅡ Ri abaixando a cabeça. ㅡ Mas... Eu sentia algo estranho sempre que ela ia embora. ㅡ Meu coração começou a palpitar mais forte, mas não consegui olha-lo. ㅡ Ela me deixava doido, mas eu ainda queria estar com ela. Acho que até comecei a sentir ciúmes. ㅡ Olhei para ele devagar, mas ele não estava olhando pra mim. ㅡ Gosto mesmo dela, mesmo ela me enlouquecendo o tempo todo.
•••
Continua...
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Um raio de Sol em minha vida
RomanceEla é distraída, impulsiva, esquecida e ama dias de sol. Ele é dono de um bar, não tem amigos, não gosta de pessoas, mora perto da praia, mas nunca põe os pés lá. Florence, que prefere ser chamada de Flor, chega à Santa Bárbara só com uma mala e a...