( Narrado por Florence )
Queria poder dizer como foi a viagem de avião, mas eu dormi o vôo inteiro. Nós já estávamos na Itália e eu tinha acordado tinha uns dez minutos. Meus olhos estavam pesados por ter dormido por horas, meu cabelo eu não tinha ideia do estado e meu vestido estava completamente amassado.
Foi estranho para mim usar um vestido colorido para ir a um funeral. Digo, eu ainda não fui e iria trocar de roupa, já que o funeral seria só no dia seguinte, mas eu estava indo para o país no intuito de velar uma pessoa. Eu ia de preto, mas a mãe de Carson me proibiu. Disse que seu pai queria que seu velório fosse um espelho da pessoa que era, que não queria preto ou lágrimas, mas, sim, roupas de cores vivas, vinhos de qualidade e música. Ela me disse para levar apenas roupas coloridas e foi isso que fiz. O vestido que eu estava usando era de um tom verde pastel. Ele tinha umas flores pequenas de cor branca por todo o comprimento e agora estava completamente amassado.
ㅡ Eu preciso ir ao banheiro ver o meu estado. ㅡ Carson me mostrou o banheiro e enquanto eu ia ver minha aparência, ele foi com sua família buscar as malas.
Eu ainda estava meio desacordada quando me encarei no espelho do banheiro do aeroporto. Digo, não exatamente desacordada, quero dizer que eu não estava raciocinando. Parecia que minha alma não tinha voltado pro meu corpo.
Dei uns tapinhas na minha bochecha e joguei água. O sequei com papel toalha e soltei o meu cabelo da trança que tinha feito com pressa de manhã. Ele estava ondulado por conta disso.
Retoquei um pouco da pouca maquiagem que uso no dia a dia, porque não sei me maquiar direito, e encarei o meu reflexo. Foi quando meu corpo terminou de acordar. Eu sorri. Sorri porque percebi que estava na Itália para uma viagem sem os meus pais. Uma viagem de última hora. Uma viagem com alguém que eu gostava.
Todas as viagens que fiz sem meus pais, que foram as por impulso, como o dia que fui para o Canadá do nada, foram boas. Mas, agora, a sensação era diferente. Eu não estava sozinha, por mais que gostasse de viajar sozinha, ir com alguém que eu gostava me deixava mais animada, mais nervosa, com mais expectativas.
E com tudo isso eu me sentia ainda pior por estar feliz numa viagem que o motivo era o falecimento de uma pessoa.
Saí do banheiro já me preparando para ficar igual uma louca procurando pelo Carson no meio daquele aeroporto cheio de pessoas, mas ele estava parado perto da porta esperando por mim. Nossas malas estavam com ele e ele estava escorado numa coluna. Quando me viu, seus lábios abriram um sorriso ladino que me derreteu.
ㅡ Vamos? ㅡ Perguntou.
[...]
Eu meio que já sabia o que esperar de Toscana, afinal, meus pais tinham uma casa na Itália. Eu nunca cheguei a vir com eles e, se vim, eu era muito pequena. Porém, já vi muitas fotos das viagens deles pra cá. Sabia que era um lugar de altos campos verdes e bonitos. Sabia que tinha cidades medievais feitas de pedra e que tinha muito vinho e muito queijo. Meus pais sempre voltavam pros Estados Unidos com vinhos e azeites finos que eu não sabia dizer qual era a diferença dos que vendiam nos mercados da minha cidade.
Só que mesmo já sabendo o que esperar, eu fiquei surpresa. Fiquei surpresa e de olhos admirados vendo a paisagem pela janela. Sei lá, os campos pareciam ser mais verdes do que nas fotos. O céu mais azul e as cidades ainda mais bonitas. Eu me senti num daqueles filmes italianos com vibe boa onde as pessoas comem pizza e provam vinhos caros.
O carro seguiu pela estrada que cortava o campo verde até entrar numa das residências mais lindas que já vi, e olha que o que meus pais mais tem são casas bonitas por esse mundo a fora. Mas, sei lá, aquela era especial. Parecia ter vida. Era grande, paredes de tijolos, portas e janelas de madeira, uma plantação de lavanda ao lado e um caminho cercado por Ciprestes italianos.
ㅡ Como faço para não sorrir vendo isso tudo? Isso aqui é perfeito. ㅡ Perguntei para Carson logo antes do carro estacionar em frente a casa.
ㅡ Do que ta falando? ㅡ Ele abriu a porta e saiu. Logo depois deu a volta e abriu a porta para mim.
ㅡ É uma ocasião triste. ㅡ Sussurrei para somente ele escutar. Havia um homem vestido de branco na porta da casa. Ele parecia um pouco com Carson, mas seus cabelos eram claros, quase que um loiro escuro. Suas roupas pareciam tão claras.
Logo atrás de nós vinha o carro onde estava os pais e o irmão de Carson.
ㅡ Você ouviu minha mãe dizer que meu avô queria um enterro mais como uma festa do que enterro. Não precisa esconder o seu sorriso. ㅡ Ele fechou a porta do carro, pegou as malas no porta-malas e o motorista logo deu partida e saiu, dando espaço para que o carro de sua família parasse no mesmo lugar. ㅡ Gosto dele. ㅡ De primeira pensei que ele estava falando do motorista e fiquei confusa. Carson gostar de uma pessoa? Mas aí me toquei que ele estava só completando o que tinha dito. Ele gostava do meu sorriso.
Abaixei a cabeça com um sorriso bobo no rosto, mas voltei a erguer a cabeça quando o homem que estava na porta da casa se aproximou. Parecia até cena de filme aquele homem com pinta de galã vindo na nossa direção com o sol sobre ele.
ㅡ Carson, Carson, quando minha irmã me disse, eu pensei que fosse mentira. ㅡ Ele se aproximou, exibindo o sorriso de homem rico e bonito que facilmente seria o protagonista de um romance adulto. ㅡ Você finalmente deixou de ser solitário e está com uma mulher? ㅡ Ele olhou para mim. ㅡ É um prazer conhecer a senhorita que amoleceu o coração do meu sobrinho estranho. ㅡ Ele me estendeu a mão. ㅡ Sou o Dante, tio do Carson.
ㅡ Florence. ㅡ Apertei sua mão.
ㅡ Não começa, Dante. ㅡ Carson revirou os olhos. A família de Carson saltou do carro atrás de nós e os três cumprimentaram o homem.
ㅡ Fizeram boa viagem? ㅡ Ele perguntou?
ㅡ Na medida do possível. ㅡ A mãe de Carson respondeu. Ela tinha os olhos inchados, de quem havia chorado a noite inteira.
ㅡ Entrem. Não sei se os outros membros descompromissados da família vão vir. A maioria deve aparecer só amanhã para ver o testamento. ㅡ Dante disse adentrando a enorme casa. ㅡ Os amigos do vovô devem aparecer ao funeral. Todos vem pra cá depois. Achei que ia gostar de organizar. ㅡ Olhou para a mulher.
ㅡ Obrigada, Dante. ㅡ Ela concordou. ㅡ Vou dar uma olhada na cozinha. Você leva as coisas pro quarto? ㅡ Perguntou ao seu marido. A voz dela mal estava saindo.
ㅡ Claro. ㅡ O homem respondeu. A mulher sumiu por uma porta e Dante apontou para a escada.
ㅡ Separei as suítes pra vocês. ㅡ Ele disse. O pai de Carson foi na direção da escada com Jason em seu encalço. ㅡ Deixei a suíte com a vista bonita pra vocês. Imaginei que ela fosse gostar. ㅡ Dante piscou para nós dois e saiu do cômodo.
Carson não disse nada sobre o fato de que ficaremos no mesmo quarto, apenas pegou nossas malas e seguiu pela escada. Eu fui atrás dele, para garantir que não me perderia. Subimos ao segundo andar. Tudo era tão bonito e limpo. Os móveis pareciam antigos, mas bem cuidados. Não se via uma poeira e o cheiro de lavanda tomava tudo.
Carson abriu uma porta de madeira maciça e lá estava um quarto grande e incrivelmente bonito. Paredes claras, sacada com vista para os campos, cômoda com espelho, um banheiro grande com uma banheira e uma bela de uma cama de casal ao centro do quarto. Ela parecia tão macia, tão quentinha. O quarto era tão lindo que mal tive tempo de pensar que só tinha uma cama.
ㅡ Esse lugar é... ㅡ Fui na direção da sacada e observei a vista. ㅡ É perfeito, Carson. Como consegue morar na Califórnia tendo parentes aqui?
ㅡ Não sei... ㅡ Ele se aproximou e parou ao meu lado. ㅡ Não sei se esse lugar tem muito a ver comigo.
ㅡ Ah, claro. Você gosta de cavernas e escuridão. ㅡ Me virei para ele e o vi rir.
Nós dois ficamos em silêncio. Ele olhou para dentro do quarto e coçou a garganta.
ㅡ Minha mãe fez questão de avisar ao Dante que eu viria com alguém e que esse alguém não podia ficar num quarto separado do meu. ㅡ Ele passou a mão na nuca parecendo meio desconcertado. ㅡ Mas, não precisa ser assim se não quiser. Posso ir para outro quarto.
ㅡ Não quero te dar esse trabalho. ㅡ Me virei para a vista para não olhar em seus olhos. ㅡ E não vai ser tão ruim. ㅡ Sorri.
•••
Continua...
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Um raio de Sol em minha vida
RomanceEla é distraída, impulsiva, esquecida e ama dias de sol. Ele é dono de um bar, não tem amigos, não gosta de pessoas, mora perto da praia, mas nunca põe os pés lá. Florence, que prefere ser chamada de Flor, chega à Santa Bárbara só com uma mala e a...