Twenty-Fourth

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Narradora Point Of View

Seus pés se moveram com cautela para fora da cama, tomando cuidado para não fazer nenhum tipo de barulho e acordar Alfonso que dormia profundamente. Enrolou o corpo pequeno em um roupão de tecido leve, e após prender os fios castanhos em um coque no alto da cabeça caminhou para fora do quarto. Sua cabeça latejava, seu corpo tremia levemente e sentia como se um caminhão tivesse passado por cima do seu corpo.

Lembrava de tudo.

Não saberia dizer se fora um sonho, uma lembrança ou quem sabe um pesadelo... Mas lembrava-se de tudo. Cada respiração, cada cheiro, cada olhar, cada toque... Foi tudo tão real... Tão angustiante... Tão sujo.

_ Eu não posso passar por isso agora... Não agora.- Murmurou, os lábios trêmulos e encarou o teto como se fizesse alguma prece. Estava tão absurdameente feliz, que seria mesmo injusto se algo acontecesse para lhe roubar aquilo. Se moveu no escuro e seguiu para cozinha onde rapidamente preparou chá de frutos silvestres. Aquele era literalmente o seu favorito, embora Ian, irritante que era, passasse a vida dizendo que o gosto lhe lembrava xixi de recém nascido. Como ele conseguia identificar o gosto de xixi? Ninguém saberia literalmente responder.

Voltou a caminhar, dessa vez indo em direcção a varanda. Uma rajada de ar frio atingiu o seu rosto, balançando alguns fios do cabelo que insistiam em se soltar do coque, mas ela sequer se importou. Precisava daquilo... Precisava sentir que aquela era uma nova realidade... Uma nova vida. Alcançou o sofá médio, se sentando na famosa posição de índio, e pós-se apenas a observar. A imensidão azul correu pelo ambiente, observando o céu escuro sobre as montanhas ao longe, sobre o jardim bem decorado e sobre a sua alma. Quando chegou naquele lugar e ouviu muita gente se referir a ele como sendo o paraíso, achou uma verdadeira bobagem e talvez um puta exagero. Mas, estando ali, olhando tudo o que seus olhos não podiam alcançar... Sentindo o cheiro de terra... O vento frio batendo diretamente em seu rosto, entendeu o porquê.

Um lugar em que as almas perdidas poderiam muito facilmente encontrar o próprio caminho.

_ Olá, boneca.- O sorriso que ele lhe lançou fez a sua espinha gelar. Ela baixou a cabeça, se encolhendo no pequeno sofá.- Vim buscar você para o nosso primeiro passeio.

Seu coração errou uma batida. As lembranças surgiam em sua mente sem mesmo dar-se conta.

Aquele rosto.

_ E-eu... Eu ainda não fiz o dever da escola.- Respondeu, a voz saindo em um sussurro. Seus dedos apertavam discretamente a barra do vestido azul  que cobria o seu corpo.

Aquele olhar....

Era tão pequena.... Tão indefesa.

Só queria mesmo que alguém a protegesse.

_ Isso pode ficar para depois.- Dispensou.- Vamos lá.- Chamou, e sem esperar uma resposta segurou no braço pequenino e guiou-lhe para fora da casa."

Uma lágrima escorreu de seus olhos, e Anahí ofegou, se encolhendo ainda mais no sofá. Sentia-se tão pequenina... Tão diminuída. Não é como se o seu cerébro tivesse apagado tudo o que vivera quando era só uma simples garotinha, mas nunca, nem mesmo quando se esforçou, lembrou daquele rosto com tanta clareza.

Sua alma sangrou.

"- Meu marido está afíssurado em você. E eu o conheço bem o suficiente para saber que não vai desistir até conseguir o que tanto quer."

As palavras ecoaram na mente dela feito um mantra, causando uma dor absurda.

" Como disse mesmo que se chamava o seu marido? "

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