16.

169 14 4
                                    

CHRISTOPHER

Não posso deixar de rir. Isso é típico do Poncho.
Ele está tentando jogar charme e ganhar a afeição da minha colega de apartamento até da prisão.
Kay se apoia no meu ombro, lendo o bilhete.

  Kay: Estou vendo que o Poncho continua o mesmo.
Fico tenso.
Ela sente e fica tensa também, mas não nega o que disse nem pede desculpas.
  Eu: Ele está tentando deixar as coisas mais leves. Fazer as pessoas rirem. É o jeito dele.
  Kay: Bom, e a Dulce está disponível?
  Eu: Ela é uma pessoa, não uma sala, Kay.
  Kay: Você é tão cheio de princípios, Christopher!
É uma expressão, "disponível".
Você sabe que não estou tentando empurrar a coitada para o Poncho.
Há algo de errado com essa frase, mas estou cansado demais para saber o quê.
  Eu: Ela está solteira, mas ainda apaixonada pelo ex.
  Kay, interessada: É mesmo?

Não consigo entender por que ela se importa agora — sempre que menciono Dulce, ela me ignora ou fica irritada. Na verdade, esta é a primeira vez que viemos ao meu apartamento nos últimos meses.
Kay tinha a manhã de folga, então veio me ver na hora do "cantar", antes de eu dormir.
Ficou irritada com os bilhetes pendurados em todos os cantos, por algum motivo.

  Eu: O ex parece normal.
Muito pior do que o pedreiro que virou...
Kay revira os olhos.
  Kay: Pode parar de falar da droga do livro do pedreiro?
Ela não me julgaria tanto se tivesse lido.

• • •

Algumas semanas depois e temos aquele típico dia ensolarado que só costuma acontecer no exterior.
A Inglaterra não está acostumada com tanto calor, especialmente quando chega de forma tão repentina. Ainda é junho, o verão não chegou. Os passageiros dos trens correm pelas esquinas, a cabeça baixa, como se chovesse, camisas azul-claras manchadas de suor. Adolescentes tiram as camisetas até haver braços e troncos brancos e cotovelos ossudos em todos os cantos. Mal posso me mexer sem ser confrontado por uma pele queimada de sol e/ou calor corporal incômodo vindo de um homem de terno.
Estou voltando da visita à sala de pesquisa do Museu Imperial da Guerra, depois de seguir a última pista na minha busca por Johnny White.

Na mochila, tenho uma lista com oito nomes. Encontrei os endereços deles depois de vasculhar sem parar o registro, entrar em contato com parentes e procurar na internet, então nada é garantido, mas são um começo — ou, melhor, oito começos.
No fim das contas, o sr. Prior me deu muitas informações para embasar a pesquisa. Basta fazer o homem falar para que se lembre de muito mais do que diz lembrar.
Todos os homens da lista se chamam Johnny White. Não sei por onde começar.
Escolho o Johnny favorito? O que mora mais perto?

Pego telefone e mando mensagem para Dulce.
Contei a ela sobre a busca pelo Johnny White do sr. Prior mês passado. Fiz isso depois de receber uma carta comprida sobre as vantagens e desvantagens de um livro sobre crochê.
Eu obviamente estava com vontade de contar coisas. É estranho. Como se o jeito compulsivo de Dulce compartilhar tudo fosse contagioso. Sempre fico meio envergonhado quando chego à casa de repouso e lembro o que acabei revelando no bilhete daquela noite, escrito enquanto tomava café antes de sair de casa.

Oi. Tenho oito Johnnies (sing. Johnny). Como escolher por qual começar?
Christopher

A resposta chega cinco minutos depois.
Ela está trabalhando sem parar no tal livro da autora maluca do crochê e parece ter péssima concentração. Nenhuma surpresa. Crochê é uma coisa estranha e chata. Até tentei ler parte do manuscrito quando ela deixou na mesa de centro, para ver se não era como o livro do pedreiro, mas não.
É só um livro com instruções detalhadas para a criação de peças de crochê, com resultados que parecem muito difíceis de alcançar.

PÓS-IT | Vondy - AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora