CHRISTOPHER
Nunca me esforcei tanto para escrever os bilhetes. Era muito mais fácil quando só rabiscava ideias aleatórias para a amiga que ainda não tinha conhecido. Agora estou pensando em mensagens com cuidado para a mulher que ocupa a maior parte dos meus pensamentos.
É horrível. Eu me sento com caneta e Post-it e de repente esqueço todas as palavras. As mensagens de Dulce são atrevidas, provocantes e irritantes como ela. Esta foi a primeira depois do fim de semana em Brighton, presa à porta do quarto:Bom, oi, colega de quarto. Como está sendo a transição de volta para a vida noturna de sempre? Vi que Roberta e a família reviraram as lixeiras de novo enquanto a gente estava fora — são umas raposinhas mesmo.
Queria escrever para agradecer de novo por você ter me tirado do mar. Lembre-se de cair em uma grande porção de água em algum momento para que eu possa retribuir o favor, sabe, em nome da igualdade. E também porque acho que você ia ficar ótimo com aquele visual de sr. Darcy saindo do lago. BjosAs minhas são formais e excessivamente pensadas. Escrevo quando chego do trabalho, depois reescrevo quando saio pela manhã, depois passo a noite me arrependendo delas na casa de repouso. Até chegar em casa, ver a resposta e me sentir bem de novo. E o ciclo se repete.
Por fim, na quarta, tomo coragem para deixar esta mensagem no balcão da cozinha:Planos para o fim de semana?
BjosFiquei paralisado, em dúvida, assim que saí do prédio e me afastei o máximo possível para a volta ser inviável. Pensando bem, o bilhete foi muito curto. Curto demais para o significado ter ficado claro? Talvez ofensivamente curto? Por que isso é tão difícil? Mas agora estou me sentindo melhor.
Bom, vou ficar sozinha em casa este fim de semana. Quer vir para cá e preparar seu estrogonofe de cogumelos para mim? Só comi requentado e aposto que fica ainda melhor fresquinho.
BjosPego um Post-it e rabisco minha resposta.
Bolo de sobremesa? Bjos
Poncho: Você está nervoso, não está?
Eu: Não! Não, não.
Poncho bufa.
Ele está de bom humor — e tem sido assim nos últimos tempos. Liga para Maite a cada dois dias para saber do progresso da apelação. Tanta coisa para falar, ligações a cada dois dias pelo jeito são essenciais. Provas reexaminadas.
Testemunhas surgindo. E, por fim, imagens da câmera de segurança obtidas.
Eu: Está bem. Estou um pouco nervoso.
Poncho: Vai dar tudo certo, cara. Você sabe que ela gosta de você. Qual é o plano? Hoje é o dia.
Eu: Claro que não. Rápido demais.
Poncho: Raspou as pernas por precaução?
Não me digno a responder. Poncho ri.
Poncho: Eu gosto dela, cara. Você arrumou uma das boas.
Eu: Não sei se "arrumei" nada ainda.
Poncho: Por quê? Você acha... O ex?
Eu: Ela não ama mais o cara. Mas é complicado. Estou um pouco preocupado.
Poncho: Ele era babaca?
Eu: Aham.
Poncho: Ele machucava a Dulce?
Meu estômago se revira só de pensar.
Eu: De certa forma. Ela não fala muito sobre isso comigo, mas... tenho um mau pressentimento em relação a ele.
Poncho: Que merda. A gente está lidando com uma mulher traumatizada aqui?
Eu: Você acha?
Poncho: Você está falando com o rei dos suores noturnos. Não sei, não conheço a Dulce, mas, se ela ainda estiver processando alguma coisa que enfrentou, tudo que você pode fazer é estar presente e deixar que ela decida quando vai estar pronta para seja lá o que for.O trauma do julgamento e do primeiro mês na prisão pegou Poncho umas seis semanas depois da sentença. Mãos trêmulas, terrores repentinos, lembranças intrusivas, pânico ao menor barulho. Este último era o que mais o incomodava — ele parecia pensar que esse tipo de transtorno pós-traumático devia ser exclusivo de pessoas que realmente sofriam traumas relacionados a barulhos altos, como soldados.
Poncho: E não tente tomar nenhuma decisão por ela. Não assuma que a Dulce pode não estar se sentindo bem. Isso é da conta dela.
Eu: Você é um cara legal, Alfonso Uckermann.
Poncho: Diga isso aos juízes daqui a três semanas, maninho.• • •
Chego ao apartamento por volta das cinco. Dulce está com Chrisrian e Maite. Estranho estar aqui no fim de semana. É a casa dela agora.
Não raspo as pernas, mas levo um tempo estranhamente longo me aprontando. Não paro de pensar em onde vamos dormir hoje. Vou voltar para casa da minha mãe ou dormir aqui? Já dividimos a cama em Brighton...
Penso em mandar mensagem para dizer que vou ficar na casa da minha mãe hoje, para demonstrar boa vontade. Mas concluo que isso é fechar uma porta antes do necessário e é um exemplo de tomar decisões por ela, coisa que Poncho pediu que eu não fizesse, então deixo para lá.
Chave na porta. Tento sair rápido do pufe, mas seria impossível até para uma pessoa com coxas de aço, então Dulce entra e me encontra meio agachado, tentando me levantar.Dulce, rindo: Parece areia movediça, não parece?
Ela está linda. Blusa azul justa e saia cinza longa e leve, com sapatos cor-de-rosa que ela começa a tirar, se equilibrando na perna boa.
Eu me aproximo para ajudar, mas Dulce me afasta com um gesto da mão, sentando-se no balcão da cozinha para facilitar o trabalho. O tornozelo dela parece menos rígido — bom sinal. Pelo visto, está melhorando.
Ela ergue as sobrancelhas para mim.
Dulce: Está olhando para os meus tornozelos.
Eu: Meu interesse é puramente médico.
Ela sorri para mim, descendo do balcão e mancando até o fogão para examinar a panela.
Dulce: O cheiro está ótimo.
Eu: Ouvi dizer que você gosta de estrogonofe de cogumelo.
Ela sorri de novo, dessa vez olhando para mim por cima do ombro, e eu quero parar atrás dela, pôr meus braços em sua cintura e beijar seu pescoço. Resisto à vontade, por ser muito presunçosa e pouco apropriada.
Dulce: Falando nisso, olha o que estava no escaninho lá embaixo.
Ela aponta para um pequeno envelope branco no balcão da cozinha, endereçado a mim. Eu abro. É um convite, escrito com letras cuidadosas e um pouco tortas.Caro Christopher,
Vou dar uma festa de aniversário no domingo porque vou fazer oito anos. Venha, por favor!!
Traga sua amiga Dulce, a que gosta de tricô. Desculpa mandar o convite tão em cima da hora. Minha mãe disse que uma enfermeira péssima do St. Marks perdeu o convite de verdade e depois eles disseram que não podiam dar seu endereço, mas avisaram que iam mandar isto por mim, então espero que você receba a tempo. Bom, venha, por favor!
Bjooooooooooooos, HollySorrio e mostro para Dulce.
Eu: Talvez não seja o que você tinha planejado para amanhã...
Dulce, parecendo encantada: Ela se lembra de mim!
Eu: Holly estava obcecada por você. Mas a gente não precisa ir.
Dulce: Você está brincando? Claro que a gente vai. Por favor. Só se faz oito anos uma vez, Christopher.
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PÓS-IT | Vondy - Adaptação
RomanceDepois de três meses do fim do seu relacionamento, Dulce finalmente sai do apartamento do ex-namorado. Agora ela precisa encontrar o quanto antes um lugar barato onde morar. Contrariando os amigos, ela topa um acordo bastante inusitado. Enrolado com...