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  DULCE

   Acordo com a luz do sol, o que é muito mais agradável do que as pessoas fazem parecer. Não fechamos as cortinas ontem à noite. Viro de costas para a janela por instinto e percebo que o lado direito da cama está vazio.
   A princípio, parece absolutamente normal: afinal, acordo todo dia na cama de Christopher sozinha. Meu cérebro sonolento pensa: Ah, claro... Não, espere aí, mas o que...
   Há um bilhete no travesseiro dele.

Saí para comprar o café da manhã. Volto com doces.
Bjos

Sorrio e rolo de volta para o outro lado para conferir a hora no telefone, que deixei na mesa de cabeceira.
Merda. Vinte e sete ligações perdidas, todas de um número desconhecido.
Mas que p...
     Eu me levanto rápido, o coração disparado, e grito quando coloco o tornozelo no chão. Porra. Ligo para a caixa postal com uma sensação ruim no estômago. É como se... ontem tivesse sido bom demais para ser verdade. Alguma coisa horrível aconteceu... eu sabia que não deveria...

"Dulce, você está bem? Vi a postagem da Anahi no Facebook. Você quase se afogou?"

É Justin. Fico imóvel enquanto a mensagem continua.

"Olha, sei que você está chateada comigo. Mas preciso saber se você está bem. Ligue para mim."

Há outras mensagens como essa. Outras doze, para ser precisa. Apaguei o número dele depois de uma sessão de terapia particularmente encorajadora, o que explica o número desconhecido. Mas acho que eu sabia quem era. Ninguém nunca me ligou tantas
vezes seguidas, só Justin — normalmente depois de uma briga, ou de uma separação.

"Dulce, isso é ridículo. Se eu soubesse onde você está, iria correndo até aí. Ligue para mim, está bem?"

Eu estremeço. Isso parece... Eu me sinto péssima. Como se o dia que passei com Christopher não devesse ter acontecido. O que Justin faria se soubesse onde estive e o que andei fazendo?
Balanço a cabeça. Sei que não faz sentido. Estou ficando assustada de novo.
Digito uma mensagem.

Estou bem, só torci o tornozelo.
Por favor, não me ligue mais.

Em instantes, ele responde.

Ah, graças a Deus! Viu o que acontece quando não estou aí para cuidar de você? Fiquei muito preocupado. Vou me comportar e seguir as regras, nenhum contato até outubro. Só quero que saiba que estou pensando em você. Bjos

Olho a mensagem por um tempo. Viu o que acontece quando não estou aí...?

Como se eu fosse uma idiota. Ontem, Christopher precisou me tirar do mar, mas esta é a primeira vez em todo o fim de semana em que me sinto alguém que precisa ser resgatada.
Foda-se.
Aperto Bloquear e apago todas as mensagens da caixa postal.

• • •

   Vou mancando até o banheiro. Não é uma visão muito digna — as luminárias vagabundas das paredes balançam um pouco enquanto faço isso —, mas há algo de muito terapêutico nos passos pesados. Bam, bam, bam. Justin, babaca, idiota. Bato a porta do banheiro com uma força satisfatória.
   Ainda bem que Christopher saiu para comprar o café. Em primeiro lugar, porque ele não teve que testemunhar esta manhã horrível; e em segundo, porque vai voltar com alguma coisa extremamente calórica para fazer com que eu me sinta melhor.
Depois que tomei banho e vesti as roupas de ontem — que, por estarem cobertas de areia grossa e cascalho, talvez tire a esfoliação da minha lista de tarefas —, volto pulando e me jogo na cama, enterrando o rosto no travesseiro.
Aff.
Ontem foi tão legal e agora estou me sentindo terrivelmente suja, como se os recados tivessem deixado uma mancha. Mesmo assim, bloqueei o Justin, algo que nunca teria conseguido me convencer a fazer alguns meses atrás. Talvez eu deva ficar feliz com todas aquelas mensagens de voz por terem me levado a fazer isso.
    Uso os cotovelos para erguer o corpo e pego o bilhete que Christopher escreveu no papel de carta do hotel: Bunny Hop Inn está escrito em letras vistosas no rodapé. Mas a letra é a mesma de sempre — clara, pequena e redonda. Em um momento de sentimentalismo vergonhoso, dobro o papel ao meio e o guardo na bolsa.
Ouço uma leve batida na porta

— Pode entrar!
Ele está com uma enorme camiseta turística em homenagem a Brighton. Meu humor multiplica por mil. Nada como um homem em uma camiseta engraçadinha para alegrar uma manhã — especialmente quando ele está segurando uma sacola de papel muito promissora com Patisserie Valerie escrita na lateral.
— Uma das melhores da Babs? — pergunto, apontando para a camiseta.
— Minha nova estilista — responde Christopher.
Ele me passa a sacola de doces e se senta na beira da cama, passando a mão no cabelo. Está nervoso outra vez. Por que acho seu nervosismo tão fofo?
— Você conseguiu chegar ao chuveiro? — pergunta ele, por fim, indicando meu cabelo molhado. — Por causa do pé.
— Tomei banho que nem um flamingo — digo, recolhendo uma perna. Ele sorri. Ver um desses sorrisos tortos é como ganhar um jogo que eu nem sabia que estava jogando. — Mas a porta não tranca.
  Achei que você ia aparecer por lá, mas parece que o carma estava ocupado com outra coisa hoje.
Ele solta um hummm meio estrangulado e decide comer um croissant. Contenho um sorriso. Infelizmente, um dos efeitos colaterais de achar o nervosismo dele fofo é ser incapaz de resistir à possibilidade de dizer coisas que sei que vão deixá-lo incomodado.
— Mas, bom, você basicamente já me viu pelada — continuo. — Duas vezes. Então não seria uma grande novidade.
Desta vez, ele olha para mim.
— "Basicamente" — responde, enfático — não é a mesma coisa que "realmente". Na verdade, há diferenças importantes.
   Meu estômago se contrai. Seja lá o que tenha acontecido ontem à noite, com certeza eu não estava errada sobre a tensão sexual. O ar chega a estar pesado.
— Sou eu que deveria estar preocupado com a falta de novidade — diz ele. — Você realmente me viu pelado.
— Eu queria saber... quando peguei você no chuveiro, você estava...
Ele some no banheiro tão rápido que mal ouço a desculpa que dá enquanto anda. Sorrio quando ele fecha a porta e liga o chuveiro. Acho que já tenho minha resposta. Anahi vai adorar.

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