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CHRISTOPHER


Não consigo pensar.

Não consigo pensar em nada. De alguma forma, recupero o controle dos pés e volto ao tribunal, mas a sensação de sonho ganhou uma aura de irrealidade.

De forma mecânica, sorrio para Poncho. Noto como seus olhos estão brilhando, como ele parece esperançoso. Não consigo sentir nada.

Provavelmente é o choque.

Vou me recuperar logo e voltar a me concentrar na audiência. Não acredito que algo conseguiu me distrair.

Fico furioso com Dulce de repente, por escolher hoje, entre todos os dias, para me largar e voltar para Justin, e não posso deixar de pensar na minha mãe, em como ela sempre voltava para aqueles homens, independentemente do que Poncho e eu disséssemos.

Parte do meu cérebro lembra que minha mãe não queria ficar com aqueles caras.

Ela achava que não tinha opção.

Ela achava que não tinha valor se estivesse sozinha.

Mas Dulce não estava sozinha.

Ela tinha Christian, Maite, Anahi e a mim.

Poncho. Pense no Poncho.

Poncho precisa de mim aqui e não vou perder meu irmão de jeito nenhum de novo. Não ele. Maite está encerrando.

Quase consigo ouvir — ela é tão boa que é impossível não acompanhar sua lógica. Então, com uma falta peculiar de alarde, acabou. Todos nos levantamos. Juízes saem.

Poncho é levado de volta, lançando um olhar esperançoso para mim. Atravessamos o tribunal em silêncio, Maite mexendo no telefone, minha mãe estalando os dedos sem parar. Ela olha para mim de soslaio quando chegamos à entrada.

Mãe: Ucker? O que houve?

Maite arqueja baixinho.

Leva a mão à boca.

Olho para ela, impassível, e noto que ela está assistindo ao vídeo no Facebook.

Maite: Ai, meu Deus.

Mãe, alerta: O que houve?

Eu: Dulce.

Mãe: Sua namorada? O que ela fez?

Maite: Ela jamais faria isso.

Eu: Faria, sim.

Você sabe que as pessoas fazem.

Voltam.

É difícil abandonar o que já se conhece.

Não é culpa dela.

Mas você sabe que as pessoas fazem isso.

O silêncio de Maite diz o bastante. De repente, mais do que tudo, preciso ir embora.

Eu: A gente não vai saber o veredito neste fim de semana, vai?

Maite: Não, só na semana que vem.

Eu ligo quando...

Eu: Obrigado.

E vou embora.

• • •


Ando sem parar.
Não consigo chorar, mas estou com a garganta seca e os olhos doloridos. Tenho certeza de que parte disso é medo por Poncho, mas só consigo pensar em Justin, os braços abertos, gritando "ela disse sim" para a multidão animada.
Relembro todas as cenas.
Os inúmeros bilhetes, Brighton, a noite comendo biscoitos no sofá, a festa de Holly, os beijos na cozinha. Meu estômago se revira ao lembrar como o corpo de Dulce ficava rígido quando ela pensava em Justin, mas me recuso.

Não quero sentir pena dela.

Por enquanto, só quero me sentir traído. Mas não posso evitar.

Não paro de pensar como seus joelhos tremiam.

Ah, pronto. Aqui estão as lágrimas.
Sabia que elas apareceriam em algum momento. 

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