7.

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DULCE

Certo, o apartamento novo está muito... cheio. Aconchegante.
  — Entulhado — confirma Maite, parada no único espaço não ocupado do quarto. — Está entulhado.
  — Você sabe que meu estilo é eclético! — reclamo, ajeitando a linda colcha de batique que achei na feira de Brixton no último verão.
   
Estou me esforçando muito para manter uma atitude positiva. Fazer as malas e sair do apartamento de Justin foi horrível, a viagem de carro para cá levou quatro vezes mais tempo do que o Google disse que levaria, e carregar tudo escada acima foi uma tortura. Depois Kay quis ter uma longa conversa comigo enquanto me entregava as chaves, quando tudo o que eu queria era me sentar em algum lugar e ficar na minha até recuperar o fôlego. Não foi um dia divertido.

  — Você explicou isso ao Christopher? — pergunta Christian, equilibrando-se na ponta da cama. — Tipo, que você traria todas as suas coisas?
 
Franzo a testa.
Claro que eu traria todas as minhas coisas! Eu precisava explicar isso? Estou me mudando para cá — isso significa que minhas coisas têm que morar aqui comigo. Onde mais iam ficar?
Afinal, é minha casa também. No entanto, só agora cai a ficha de que meu quarto vai ser compartilhado com outra pessoa e de que essa pessoa tinha coisas que, até esse fim de semana, ocupavam a maior parte do aposento. Está sendo meio difícil espremer tudo aqui dentro. Resolvi alguns problemas colocando coisas em outras partes da casa — muitos dos meus suportes para velas estão alocados na beira da banheira, por exemplo, e meu incrível abajur de lava está em um canto ótimo na sala —, mas, mesmo assim, seria bom se Christopher fizesse uma limpeza. Ele provavelmente já deveria ter feito isso, na verdade. Seria o certo, já que eu ia me mudar. Talvez eu devesse ter deixado algumas coisas na casa dos meus pais. Mas a maior parte ficava guardada na casa de Justin e me senti muito bem tirando tudo das caixas na noite anterior.
   Anahi disse que, quando encontrei o abajur, parecia o Andy encontrando o Woody em Toy Story, mas, para ser sincera, me emocionei de verdade, por incrível que pareça. Fiquei sentada por um tempo no corredor, olhando para a bagunça multicolorida formada pelos meus pertences favoritos, que estavam empilhados no armário sob a escada, e senti, por um instante estranho, que, se as almofadas podiam voltar a respirar, eu também conseguiria.
Meu telefone toca. É Katherin. Ela é a única escritora que atendo aos sábados, só porque deve estar me ligando para contar alguma coisa hilária que fez, como tuitar uma foto inapropriada de si mesma nos anos 1980 com um político muito conhecido hoje em dia, ou fazer mechas californianas no cabelo da mãe idosa.

  — Como vai a minha editora favorita?
  — Acabei de me mudar para a casa nova! — conto, pedindo com gestos que Christian ponha água para ferver.
Ele parece um pouco irritado, mas coloca a chaleira no fogo mesmo assim.
  — Maravilha! Ótimo! O que você vai fazer na quarta-feira?
  — Trabalhar — digo, analisando minha agenda mentalmente.
  Na verdade, na quarta tenho uma reunião chata com a diretora de direitos autorais internacionais para falar sobre o novo livro que contratei ano passado, escrito por um ex-pedreiro que se tornou um designer famoso. O trabalho dela é vendê-lo para outros países. Quando comprei os direitos, falei muito (mas de forma vaga) sobre a presença internacional dele nas redes sociais, que na verdade era bem menor do que fiz parecer. Ela está sempre me mandando e-mails e pedindo "mais detalhes" e "informações específicas sobre o alcance por região". A situação chegou a um ponto em que não posso mais evitá-la, nem mesmo atrás da minha parede furtiva de vasos de plantas.
  — Perfeito! — diz Katherin, estranhamente entusiasmada. — Tenho ótimas notícias.
  — É sério?
Estou torcendo por uma entrega de manuscrito antecipada ou que ela tenha mudado de opinião sobre o capítulo sobre chapéus e cachecóis, que ela ameaçou tirar do livro. Isso seria um desastre, já que é a única parte que torna o livro vendável.
— O pessoal do cruzeiro remarcou a aula ao vivo de Como fazer suas próprias roupas de crochê com habilidade para quarta-feira. Então você vai poder me ajudar com o cruzeiro, no fim das contas.
Hum... Agora vai ser no horário de trabalho — e isso adiaria a conversa com a diretora de direitos autorais por pelo menos mais uma semana. O que será que prefiro: ser usada como modelo de coletes de crochê em um cruzeiro com Katherin ou levar uma bronca da diretora de direitos autorais em uma sala de reuniões sem janelas?
  — Tudo bem. Estou dentro.
  — Sério?
  — Sério — respondo, aceitando o chá de Christian.      — Mas não vou falar nada. E você não pode ficar me sacudindo como da outra vez.
Os hematomas demoraram dias para sumir.
  — São os problemas e as atribulações da vida de modelo, Dulce — retruca Katherin.
Tenho uma leve impressão de que ela está rindo de mim.

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