29.

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DULCE

Anahi está quase tremendo de animação.

   — Você só pode estar brincando! — diz ela, quicando na cadeira. — Não acredito que ele estava de pau duro!

Solto um grunhido e esfrego as têmporas, algo que às vezes vejo na TV e espero que melhore meu estado. Mas não funciona.
Por que Anahi está tão animada?
Eu estava certa de que ela tinha bebido quase tanto quanto eu.

  — Não é engraçado.
E eu disse que talvez ele estivesse.
Não estou dizendo que com certeza estava.
  — Ah, por favor!
Você não transa há tanto tempo que já esqueceu como é.
Três homens em uma noite!
Que sonho!

Ignoro.
O chefe do editorial, por sorte, achou engraçado eu estar atrasada, mas ainda tenho uma pilha de trabalho para fazer hoje e minha lista de tarefas não diminuiu porque cheguei mais de uma hora atrasada.

  — Pare de fingir que está conferindo essas provas — diz Anahi. — A gente precisa de um plano!
  — Para quê?
  — Bom, e agora? Você vai ligar para Ken, o eremita? Vai sair com o Justin? Ou entrar no chuveiro com o Christopher?
  — Vou voltar para minha mesa — respondo, pegando a pilha de provas. — A reunião não está sendo muito produtiva.

Ela canta "Sexual Healing" para mim enquanto me afasto.

• • •

No entanto, Anahi está certa sobre o plano. Preciso descobrir o que vou fazer sobre a situação com Christopher. Se não nos falarmos logo, corremos um grande risco de estragar tudo por causa dessa situação — e acabar com os bilhetes e as sobras de comida e restar apenas um incômodo silencioso e doloroso. Humilhação é como mofo: quando a
gente ignora, o lugar todo fica verde e fedendo.
   Tenho que... Tenho que mandar uma mensagem para ele.

Não.
Tenho que ligar para ele, decido.
Tem que ser drástico.
Olho o relógio.

Bom, Christopher já deve estar dormindo a essa altura — são duas da tarde —, então tenho gloriosas quatro horas sem poder fazer nada em relação à situação. Imagino que deveria usar esse tempo para revisar as provas do livro da Katherin, sobretudo agora que há um risco real de muitas pessoas realmente comprarem, com toda essa agitação nas redes sociais em relação ao crochê.
  Em vez disso, depois de uma noite longa e de uma manhã me esforçando para não fazer isso, penso em Justin.
Então, como não sou boa em pensar sozinha, ligo para Christian. Chris parece um pouco grogue quando atende o telefone, como se tivesse acabado de acordar.

  — Onde você está? — pergunto.
  — Em casa.
Por quê?
  — Você está esquisito.
Hoje não é o dia de folga da Maite?
  — É, ela está aqui também.
  — Ah.
É estranho pensar nos dois juntos sem mim.
É só que... não é uma combinação que funciona.

Desde a semana de calouros da universidade, Maite e eu somos inseparáveis. Pusemos Chris embaixo da nossa asa coletiva no fim do primeiro ano, depois de vê-lo dançando sozinho com muito entusiasmo ao som de Snoop Dogg e concluir que qualquer pessoa com aquele suingue todo precisava estar nas nossas saídas. Depois disso, fazíamos tudo em trio e, quando raramente saíamos em dupla, era sempre Maite e eu ou Chris e eu.

  — Pode colocar no viva-voz? — peço, tentando não soar petulante. — Só um segundo.
Oi, tudo certo.
  — Vou adivinhar — diz Maite. — Você se apaixonou pelo irmão do Christopher.
Paro.
  — Normalmente seu radar é muito bom, mas dessa vez errou feio.
  — Droga.
Pelo Christopher então?
  — Não posso ligar para bater papo?
  — Isso não é um papo — retruca Maite. — Você não liga às duas da tarde para bater papo.
Você manda mensagens no WhatsApp. — É por isso que ligo para o Chris.
  — E aí?
Qual é o drama? — pergunta Maite.
  — Justin — conto, cansada demais para discutir com ela.
  — Ah! Assunto velho, mas dos bons.
Reviro os olhos.
  — Você pode deixar o Chris contribuir com alguma coisa positiva, pelo menos de vez em quando?
  — O que aconteceu, Dulce? — pergunta Chris.
Conto a eles sobre a noite passada.
Ou pelo menos uma versão resumida: não menciono o incidente horrível sobre o beijo.
É drama demais para uma ligação, sobretudo enquanto estou tentando conferir números de páginas durante a conversa.
Além disso, tem toda a história de estar me esforçando desesperadamente para não pensar nisso.
  — Isso tudo é típico do Justin, Dulce — diz Chris.
  — Parabéns por ter dito não — afirma Maite, com um fervor surpreendente. — Já é muito estranho ele estar no cruzeiro e agora isso?
Eu queria que você visse como...
Ouço um ruído abafado, e Maite para de falar.
Tenho a sensação de que Chris a cutucou.
  — Eu não falei bem "não" — lembro, olhando para meus pés. — Falei "daqui a uns meses".
  — Isso é muito melhor que largar tudo e fugir com ele de novo — diz Maite.

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