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DULCE

Sexta de manhã cedo. O grande dia.

Christopher está na casa da mãe — eles vão para o tribunal juntos. Anahí e Christian estão na minha. Christian vai conosco ao lançamento; por causa de tudo que fiz para este livro, nem Martin poderia me negar um acompanhante. Maite aparece com Christian para me dar um abraço rápido e conversar sobre o caso de Poncho. Ela já está usando a peruca ridícula de advogado, como se estivesse imitando um quadro do século XVIII. Christian está de smoking, muito bonito. Adoro quando Christian se arruma. É como ver aquelas fotos de cachorrinhos vestidos de seres humanos. Ele claramente não está à vontade e dá para notar que está louco para tirar pelo menos os sapatos, mas, quando estende a mão na direção dos cadarços, Maite rosna e ele recua, ganindo.

Quando Maite vai embora, ele fica muito aliviado.

— Só para você saber, Christian e Maite com certeza estão transando — diz Anahí, me passando a escova de cabelo.

Eu a encaro pelo espelho. (Não há espelhos suficientes neste apartamento. Deveríamos ter nos arrumado na casa de Anahí, que tem uma parede de armários espelhados no quarto, desconfio que por algum motivo sexual, mas ela se recusa a deixar Maite entrar lá desde a festa de aniversário de Anahí, quando Maite comentou que estava tudo bagunçado.)

— Christian e Maite não estão transando — respondo, pegando a escova.

Estou tentando transformar minha juba em um penteado chique de um dos nossos livros. A autora me prometeu que era fácil, mas estou no segundo passo há quinze minutos. São vinte e dois no total, e eu só tenho meia hora.

— Estão, sim — repete Anahi, sem titubear.

— Você sabe que eu sempre sei.

Tento me segurar e não lembro a Anahi que Maite também acha que "sempre sabe" quando um amigo está dormindo com alguém.

Não quero que isso se transforme em uma competição, especialmente porque ainda não transei com Christopher.

— Eles moram juntos — digo, a boca cheia de grampos.

— Estão mais à vontade um com o outro do que antes.

— A gente só fica tão à vontade assim quando dorme junto pelado — insiste Anahi.

— Isso é estranho e nojento.

Seja como for, tenho quase certeza de que o Christian é assexual.

Só então confirmar para ver se a porta do banheiro está fechada. Christian está na sala. Ele passou a última hora com cara de paciente ou de entediado — dependia se achasse que estávamos olhando ou não.

— Você quer pensar isso porque o considera um irmão. Mas ele com certeza não é assexual. Ele deu em cima da minha amiga Kelly em uma festa no ano passado.

— Não posso lidar com esse tipo de revelação agora! — exclamo, cuspindo os grampos. Eu os peguei cedo demais.

São apenas o quarto passo, é o terceiro está me deixando nervosa.

— Deixa que eu faço — sugere Anahi.

Solto um suspiro.

Graças a Deus.

— Você estava me deixando passar sufoco — digo, enquanto ela pega a escova, ajeita os danos que causei até aqui e folheia as instruções do penteado com uma das mãos.

— De que outro jeito você vai aprender? — retruca ela.

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