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DULCE


Justin me puxa do palco para as coxias.

Vou com ele porque, mais do que tudo, quero que o barulho e as luzes e a multidão desapareçam, mas, assim que passamos pela cortina, puxo a mão. Meu pulso está doendo muito; ele estava segurando com força. Estamos em um corredor estreito, coberto de preto, ao lado do palco, vazio a não ser por um homem vestido de preto com um walkie-talkie e muitos cabos em volta dos pés.

— Dulce? — diz Justin. A vulnerabilidade em sua voz é totalmente forjada, dá para ver.
— Que porra foi... — começo. Todo o meu corpo está tremendo; é difícil me manter de pé, especialmente com estes sapatos.

— O que foi isso?
— O que foi o quê?
Ele tenta pegar minha mão de novo.
entra pela cortina atrás de nós, tirando os sapatos.
— Dul... Dulce! Viro-me para ela enquanto Anahi corre na minha direção e deixo que me abrace com força.

Justin encara nós duas, os olhos semicerrados — vejo que está planejando alguma coisa, por isso viro o rosto para a massa de tranças de Anahi e me esforço muito, muito para não chorar.

— Dulce? — grita outra pessoa. É Cris.

Não consigo ver onde ele está.
— Seus amigos vieram dar os parabéns — diz Justin, benevolente, mas seus ombros estão rígidos e tensos.
— Cristian? — chamo.
Ele aparece atrás de Justin, passando pelas cortinas que nos separam da área principal dos bastidores.

Já sem paletó e com o cabelo bagunçado, como se tivesse corrido até ali.

Em um instante, ele está ao meu lado.

Atrás de mim, ouço Katherin no palco, valentemente tentando trazer o foco de volta para Crochê para a vida.

Justin olha para nós três.
Anahi ainda me abraça, e eu me apoio nela quando olho para Justin.

— Você sabe que eu disse não — digo, direta.

Os olhos dele se arregalam.

— Como assim?

Balanço a cabeça.

Sei o que é isso: lembro-me dessa sensação, da noção incômoda de estar errada.

— Você não pode me fazer acreditar em uma coisa que sei que não é verdade.

Um brilho passa pelos olhos dele.

Talvez Justin esteja pensando: Já fiz isso muitas vezes.

— Não mais — digo.

— E sabe como isso se chama, isso que você faz? Se chama gaslighting.

É um tipo de abuso.

Me dizer que as coisas não são como eu vejo. Isso o abala.

Não sei se Anahi ou Christian vão perceber, mas eu noto a pancada.

A Dulce que ele conhece jamais usaria palavras como "gaslighting" ou "abuso".

Vê-lo hesitar me deixa eletrizada, a mesma sensação de estar muito próxima da beira da plataforma quando o trem passa correndo.

— Você aceitou, sim — diz ele.

A luz do palco entra pelas cortinas atrás de nós, deixando uma grande faixa amarela nos traços escurecidos do rosto de Justin.

— Eu ouvi!

E... você quer se casar comigo, não é, Dulce?

Nós nascemos um para o outro.

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