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DULCE

  — É o lugar perfeito para você, Katherin — diz Martin, animado, espalhando as fotos pela mesa.

Abro um sorriso encorajador. Apesar de, inicialmente, ter achado ridícula a história do salão enorme, estou começando a comprar a ideia.
Vinte vídeos do YouTube foram postados por diversas celebridades da internet usando roupas que elas afirmam ter tricotado a partir das instruções de Katherin. Depois de uma reunião tensa e inesperada com o diretor-geral da editora, na qual o chefe do setor de relações públicas conseguiu fingir que sabia do que o livro se tratava e ainda alocar orçamento para ele, o escritório inteiro da Butterfingers passou a saber tudo do lançamento e está animado.
Todos parecem ter esquecido que, semana passada, não davam a mínima para crochê. Ontem até ouvi a diretora comercial declarar que "sempre havia desconfiado que esse livro seria um sucesso".
Katherin está perplexa com tudo isso, especialmente com a história de Tasha Chai-Latte.
De início, ela reagiu como todo mundo reage quando vê uma pessoa qualquer ganhando muito dinheiro no YouTube. ("Eu poderia fazer isso!", anunciou ela. Sugeri que começasse investindo em um smartphone. Um passo de cada vez.) Agora ela está irritada por Martin ter roubado a conta de Twitter dela. ("Não podemos deixar isso na mão dela! Temos que manter o controle!", gritava Martin para Ruby hoje de manhã.)

   — Afinal, o que é um lançamento de livro? — pergunta Katherin.  — Tipo, normalmente fico bebendo vinho e conversando com as senhorinhas que se dão o trabalho de aparecer.
Mas como vou fazer isso com todas essas pessoas?
Ela aponta para a foto do enorme salão em Islington.
   — Bom, Katherin — começa Martin. — Que bom que você perguntou.
Dulce e eu vamos levar você a um dos nossos grandes lançamentos daqui a duas semanas.
Só para você ver como essas coisas funcionam.
   — Tem bebida de graça? — pergunta Katherin, se animando.
   — Ah, claro, muita bebida de graça — responde Martin, apesar de ter me dito que não vai ter bebida.

Olho para o relógio enquanto Martin volta a tentar convencer Katherin sobre o salão enorme. Ela está muito preocupada, achando que as pessoas no fundo não vão conseguir ver nada. Eu, por outro lado, estou muito preocupada com a possibilidade de não chegar à casa de repouso de Christopher na hora combinada.
É a noite da nossa visita.
Christopher vai estar lá, o que significa que hoje, depois de cinco meses e meio morando juntos, vamos finalmente nos encontrar.
Estou estranhamente nervosa. Troquei de roupa três vezes hoje de manhã, o que é atípico — em geral, não consigo imaginar o dia de outra maneira depois que monto meu look. Mas agora não tenho certeza de que fiz a melhor escolha. Disfarcei o vestido amarelo-limão plissado com uma jaqueta jeans, leggings e minhas botas de lírios, mas ainda estou vestindo algo que uma menina de dezesseis anos usaria no baile de formatura. Não sei por quê, mas tule sempre faz a gente parecer que está se esforçando demais.

  — Vocês não acham que a gente deveria estar indo para lá? — pergunto, interrompendo as baboseiras de Martin.

Quero chegar à casa de repouso na hora para encontrar Christopher e agradecer a ele antes de começarmos. Preferiria não repetir o que aconteceu com Justin, e Christopher aparecer quando Katherin estiver enfiando alfinetes em mim.
Martin olha para mim de cara feia, virando a cabeça para que Katherin não veja como o olhar que ele está me lançando é horrível. Ela, claro, percebe na hora, fica feliz com a situação e esconde o sorriso ao levar a xícara de café à boca. Katherin ficou irritada comigo quando cheguei porque eu havia (claramente) ignorado seu pedido para usar "roupas neutras".
Minha desculpa de que usar bege suga minha energia vital não foi levada a sério.

  — Todos temos que fazer sacrifícios pela nossa arte, Dulce! — disse ela, balançando o indicador.

Lembrei que, na verdade, aquela não era a minha arte, era a dela, mas Katherin pareceu tão magoada que cedi e tirei a anágua do vestido.
É bom ver que nossa antipatia mútua por Martin voltou a nos unir.

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