Ave falava sem parar de como a mãe a lhe tinha dito que estava tudo bem, e em como já tinha uma passagem para quando o bebé nascesse, e sinceramente eu esperava que ela nunca se calasse, era ótimo ouvir a felicidade na voz dela, a maneira suave como ela contava cada pormenor da viagem, e de como ela se tinha esquecido de que a Target tinha fechado á dois anos no Canadá...a voz dela acalma algo que eu nem sabia que estava a temer.
-E tu? Como foi?- Ela sorri.
-Bom eu tenho um monte de fotografias, tenho quatro brigas com o Harry, um irmão que vai ser pai...e claro a avó não gostou do Harry.- Sorriu-lhe e puxa a manta que cobre as nossas pernas mais para cima, o sofá foi esticado para cabermos quase deitadas e está a passar uma serie qualquer.
-É por isso que eu gosto tanto da Lily, ela sabe como meter os rapazes na linha.
-Não, não sabe, ela pensou que o Harry era...bom ela basicamente disse para eu tirar partido do meu cartão de credito pessoal, o que foi honestamente terrível de se dizer a alguém que namora outro alguém como o Harry, como se a cada esquina toda a gente me visse como uma colecionadora de cartões de credito.
-Deus! Visto dessa maneira faz-te parecer uma cabra.
-Honestamente? Acho que ela estava a tentar alertar-me para isso mesmo, foi uma forma carinhosa de demonstrar o que as pessoas acham.- Espreguiço-me.
-Bom as pessoas não podem achar isso de ti de qualquer maneira.- A Ave ri-se.
-Porque não?- Ela tem alguma na manga.
-Porque se fosse mesmo isso eu já andava a passear as tuas malas caras, e visto que não tens malas caras, não és de todo uma oportunista.- Ela levanta a mão e embato a minha na dela.
-Pensas sempre em tudo.
-Por acaso estava a pensar se não ias receber uma mala cara para o teu aniversário.- O sorriso dela é brincalhão, é por isso que gosto dela, sabe brincar sem ficar estranho, posso dizer praticamente qualquer coisa e tudo soa a piada nos ouvidos dela.
-Mais algumas coisa?- Ela pergunta.
-Matei o teu peixinho dourado.- Murmuro olhando diretamente para a televisão e mordiscando o comando.
Ela tira-me o comando da mão e olha para mim com seriedade.
-Estás a brincar?- Ela levanta-se rapidamente e vai até ao pequeno aquário no seu quarto, os passos no soalho de madeira são como patinhas de gato e riu-me quando oiço o suspiro de alívio. Todas as noites enquanto lavava os dentes e ia para a cama deitava alguma coisa na esfera de vidro onde descansa o pequeno peixe-dourado, que se chama literalmente "Peixinho Dourado" é incrível a originalidade.
-Mesmo assim ele tinha pouca comida.- Ela diz quando se volta a sentar ao meu lado e quando tento tirar-lhe o comando da mão ela desvia-o.
-Estou farta de te dizer que o comando não, de todo, em situação alguma, próprio para roer!
Sorriu e olho para ela.
-Senti a tua falta.- Riu-me.
-Ótimo anda comigo buscar o jantar!- Ela levanta-se e vai até á sapataria atrás da porta calçando as galochas. Está a chover desde que nós as duas nos sentamos no sofá.
-Não quero sair com chuva.- Volto a pegar no comando e começo a roê-lo olhando finalmente para a serie antiga de "Friends" que está a passar.
-Porque?!
-Ave eu posso tentar fazer o jantar se quiseres, não precisas de sair.
Ela não me pode ver, eu não a posso ver, mas sei que estou a sorrir de uma maneira mazinha e sei que ela tem uma expressão de nojo na cara.
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Vision 3 - The Sentence
FanfictionSentado, numa cama de hospital, sozinho, ele lembra-se da ultima vez que se sentiu assim, abandonado. Fecha os olhos e lembra-se da mãe, depois reage como sempre reagiu. Com raiva. Porque se ela se tinha ido embora, ele tinha ficado, e se ela achava...