A sombra da manhã ainda pairava sobre as nossas cabeças quando sugeri irmos almoçar fora, eu estava a faltar a uma reunião muito importante, mas eu também sabia que Ave não seria capaz de a fazer ir a um médico, muito menos a um bom médico. O meu telemóvel não parou de vibrar no meu bolso e de cada vez que acontecia fechava os olhos, apenas para deixar o sentimento irritante de lado. Nas ultimas semanas tem sido recorrente quando estou com ela precisas de fazer trabalho extra e por muito que ela sorria e diga que não há problema, eu sinto o problema.
Enquanto eu estava na casa de banho a lavar as mãos e a olhar para a água a correr lembrei-me do telemóvel em cima da mesa onde a Sophia tinha ficada á minha espera, entretida com as possibilidades artísticas de guardanapo. Eu sabia que não deveria haver pequenas mentiras, ou no meu caso grandes mentiras, mas o meu trabalho tem um lado negro que eu prefiro deixar de fora da nossa vida, talvez um dia entenda melhor como lidar com isto, mas por agora é tudo o que tenho.
Quando chego á mesa há sopa fumegante nos nossos lugares, o meu telemóvel não está onde o deixei mas ignoro esse facto, não é como se ela me controlasse, vejo-me mais nesse papel, mas sei que provavelmente alguém ligou.
-Podias ter começado a comer.- Digo-lhe enquanto me sento á sua frente. Ela sorri-me e pega na colher.
-Tudo bem, preferi esperar.- Ela fracamente sorri.
Tudo o que posso ver é uma pequena rapariga pálida a remoer no que acabou de descobrir, as palavras dela sobre estar toda errada rasgam-me por dentro, mas não há nada que eu possa fazer sem ser arrasta-la para resolver o problema, tudo o que ela quer é tempo, mas quanto mais tempo passa, mais angustiados vamos os dois ficar.
-O teu telemóvel não parou de tocar.- Ela leva outra colherada á boca e sorri-me.
-Não parou de tocar a manhã toda.- Concedo-lhe.
Ela olha para baixo e larga a colher na borda do prato, repuxa a manga da camisola e depois olha para mim.
-Só gostava que soubesses que...mesmo quando bato o pé e te digo que não, aprecio o teu esforço em estares sempre a pensar em mim, e eu nunca tinha pensado que um homem pudesse ser assim, e ás vezes sinto que não te digo o suficiente o quanto gosto de ti, é tão forte que ocupa a minha mente a todo o momento e parece que estou sempre a dize-lo...- Ela coloca a cabeça nas mãos e abana a cabeça antes de a levantar e olhar para mim a rir, as bochechas vermelhas.- Eu amo-te.
E de cada vez que a palavra desliza pela sua boca bonita tudo o que eu consigo pensar é em concentrar-me na minha respiração, porque o meu coração colabora com a merda dos meus pulmões e o meu cérebro envia qualquer coisa á minha boca que esta tem vontade de saltar da minha cara.
-E eu a ti.- Sussurro.
Não há mais ninguém á nossa volta, somos só nós os dois, a olhar um para o outro a fazer uma analise louca ao quanto os nossos sintomas são parecidos, é tão beija-la, é tão bom ama-la que podiam tirar tudo de mim desde que ela continuasse aqui a olhar para mim.
Nós acabamos de comer relativamente rápido e quando chega a altura de pagar ela vasculha na sua mala, e atira a carteira vermelha para cima da mesa antes da minha poder fazer a viajem do meu bolso. Franzo as sobrancelhas e olho para ela.
-Espero que a tua carteira esteja confortável aí.- Sopro-lhe.
-Oh ela está Mr.Styles.
Abano a cabeça e pensamos os dois no mesmo, mas desta vez sou mais rápido e recolho a carteira para mim, ela ri-se e cruza os braços quando chamo o empregado. Ele rapidamente chega com conta e pago. Devolvo a carteira á rapariga amuada ao meu lado e ainda tenho direito a um empurrão de ancas. Tudo sobre ela é fascinante.
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Vision 3 - The Sentence
FanfictionSentado, numa cama de hospital, sozinho, ele lembra-se da ultima vez que se sentiu assim, abandonado. Fecha os olhos e lembra-se da mãe, depois reage como sempre reagiu. Com raiva. Porque se ela se tinha ido embora, ele tinha ficado, e se ela achava...