Os olhos de Sam parecem desesperados, grandes, com medo e se me concentrar parece que consigo sentir a dor e a angústia que emana dela. Acaricio a bochecha redondinha e beijo-lhe o cabelo. Por muito que a queira, e quero, não me vão dá-la, tenho vinte dois anos, ainda mal ganho para mim, seria uma irresponsabilidade. Sou tão burra! Dei sempre como garantido o facto de ninguém querer ficar com ela, quando era óbvio demais que seria fácil alguém cair apaixonado pelo pequeno anjo loiro.
-Preciso de falar com algumas pessoas Sam.- O nó na minha garganta cresce com o peso do coração dela.
-Eu não quero ir com eles.- Ela abraça-se a mim com tanta força que quase fico sem ar, as lágrimas ardem-me nos olhos, mas se chorar á frente dela, ela vai perceber que algo está definitivamente mal.
-Tudo bem.- Murmuro, não posso dizer-lhe que ela tem poder de escolha, porque não tem...
-Vais falar com o Harry?- Ela olha para mim e parecem facas a espetar-se no meu coração.
-Vou.
Vou mesmo? Vou mesmo dizer ao Harry que quero adotar uma menina para ele dizer que sou louca? E se lhe contar o que lhe vou dizer? Vamos ter uma filha? Como é suposto isto resultar? Se fosse só eu seria tão mais fácil.
Sam adormece em meia hora no meu colo e antes de a tapar e de pedir às outras meninas para fazerem menos barulho paro para pensar na responsabilidade que uma criança traria á minha vida...eventualmente eu teria acabado por adotar a pequena menina, quando tivesse vinte e cinco ou vinte e seis, um trabalho estável e pudesse sustentar uma casa, mas agora?
-Sophia?- Viro-me e Miss.Forman está á minha frente.- Receio que a Sam já lhe tenha contado.
Aceno com a cabeça e começamos a caminhar lado a lado.
-Sei que queria muito ficar com ela, mas este casal é adorável e vai dar-lhe uma vida excelente. A Sam teve muita sorte, para além disso com o seu feitio difícil geralmente os pais tendem a desviar-se, mas o Brandon e a Ivy são pessoas amorosas, apaixonaram-se assim que a vira.- Ela fala como se fosse descabido alguém querer a Sam, mas ela tem razão no feitio difícil, os pais que vem para adotar querem uma criança que seja fácil de lidar e amorosa.
-Não posso parar o processo de adoção.- Estou a fazer uma afirmação mas á espera que ela me contrarie e diga que posso.
-Não. Na realidade não pode, é demasiado jovem para adotar, em alguns estados apenas á pouco tempo é que legal para beber...é uma pena eu sempre pensei que ela acabaria por ir consigo um dia.- Ela encolhe os ombros.
O meu telemóvel vibra dentro da minha mala mas ignoro-o, só consigo pensar no que vou dizer á Sam sobre isto, em como depois de ela ir vai ser quase impossível vê-la se os seus pais não quiserem. Não vou ter mais ninguém para visitar no fim da tarde. Não mais de vestidos e brincadeiras engraçadas, não mais de geleia espalhada pela cara. O meu coração dobra-se e uma lágrima teimosa escorre pela minha bochecha. Tenho uma corda a sufocar-me. Limpo-a rapidamente e tento falar num tom normal.
-Sei que talvez seja pedir muito, mas posso conhecer essas pessoas?- Viro-me e olho no fundo dos olhos castanhos.
-Não sei Sophia, a Sam falou com eles, e disse-lhes que já tinha uma mãe, eles podem vê-la como um entrave na relação com a Sam.- Ela está a tentar ser gentil, mas cada palavra pisa um pouco mais a minha esperança.
-Eles parecem ser bons? O perfil deles?- Por favor alguma coisa que me garanta que ela vai ficar bem.
-Ivy perdeu um bebé á dois anos e nunca mais conseguiu engravidar, ela vai ser uma criança muito desejada pelos pais. O Brandon pareceu perdeu-se de amores por ela, e a Sam gostou dele, deixou-o leva-la ao colo... eles são pessoas boas Sophia, mesmo com todos os problemas eles ainda estão disposto a amar alguém que não é do sangue deles e isso revela quanta bondade há numa pessoa.
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Vision 3 - The Sentence
FanficSentado, numa cama de hospital, sozinho, ele lembra-se da ultima vez que se sentiu assim, abandonado. Fecha os olhos e lembra-se da mãe, depois reage como sempre reagiu. Com raiva. Porque se ela se tinha ido embora, ele tinha ficado, e se ela achava...