Quando desço para o pequeno-almoço pareço ligeiramente atrasada, o meu pai está a trabalhar na mesa de centro, Teddy e Mer a ver televisão, a minha avó deve estar na estufa e a minha cantarola qualquer coisa dentro da cozinha.
Esfrego os olhos e murmuro um bom dia. Todos me respondem em coro e riu-me. Olho para o relógio da sala e são quase meio dia. Dormi muito, mais do que geralmente faço, e enquanto ando até á cozinha Teddy segue-me para ir buscar um copo de água.
-Gostaste de sair ontem á noite Sophia?- A minha mãe sorri enquanto mexe alguma coisa numa panela. Suspiro e deito a cabeça no mármore frio da ilha.
-Ele teve um sumo de maçã e depois sentiu-se mal, e o resto... ela esteve bem?
Bem? BEM? Estive bem foi isso? Da última vez que me lembro de acordar a meio da noite, estava suada, quente e com a imagem de um par luminoso de olhos a fitar-me, verdes como uma floresta negra.
Estive muita coisa a noite passada. Bem não foi uma delas...
-O Harry encontrou-te? Ele telefonou á um dia ou qualquer coisa a perguntar se podia aparecer, como andavas tão cabisbaixa decidi fazer-te uma surpresa, é só estranho ele não te ter encontrado ontem, nem ter voltado para aqui.
A minha barriga contrai-se e o Teddy cospe parte da água contra o frigorífico, pega num pano e começa a limpar, mas os meus olhos estão vidrados nos da minha mãe.
-Sou tão burro!- Teddy bate com a cabeça no frigorifico, não fosse eu estar a tentar entender o que se passa, teria rido.
-O que é que se passa?- A minha mãe pergunta e levanto-me.- Sophia!
Suspiro com força e viro-me para ela. O som de uma música qualquer que ouvi num filme toca na minha cabeça, é uma maneira de evitar a raiva, lembrar-me de uma melodia suave e triste.
-Podemos falar sobre isto quando eu tiver algumas roupas no meu corpo?- Arqueio uma sobrancelha.
-Claro...pensei que ia ajudar, não sabia que ainda estavam zangados sobre.- Ela olha para o meu irmão como se ele não fosse suposto ouvir.
-Vou vestir-me.
No quarto visto uns jeans, calço umas botas e visto uma camisola quente, quando estou a sair do quarto a porta do quarto do meu avô está aberta e olho lá para dentro, ele está a sorrir para mim. Fecho os olhos, se for lá ele vai fazer-me as mesmas perguntas e vou magoar-me, tenho que responder constantemente que sou a Sophia, e depois de lhe dizer isso tantas vezes comecei a perguntar-me quem realmente é a Sophia...
-Olá.- Murmuro e entro no quarto.
-Olá, és Americana.- Yap, pois sou...
-Sou a Sophia, a sua neta.- Murmuro e sento-me na poltrona.
-Oh. És muito bonita.
-O senhor diz-me isso desde que tenho uns três anos.- Riu-me.
-Então deve ser mesmo verdade hum?- Sou assim tão bonita? Ou sou só bonita quando me sinto bonita por dentro?
-Talvez...- Encolho os ombros, antes o quarto tinha um cheiro agradável, agora cheira a hospital.
-Pareces triste Sophia.
-Estou triste.- Olho para ele, os olhos dele são exatamente iguais aos meus, é quase um espelho.
-Porque?
-Porque não consigo fazer ninguém ficar calado.- Encolho os ombros.
-Queres fazer as pessoas caladas? Costumava querer isso a toda a hora quando era mais novo.- Ele dá-me uma risada rouca e olho para ele por entre os fios de cabelo que me caem pela cara.
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Vision 3 - The Sentence
FanfictionSentado, numa cama de hospital, sozinho, ele lembra-se da ultima vez que se sentiu assim, abandonado. Fecha os olhos e lembra-se da mãe, depois reage como sempre reagiu. Com raiva. Porque se ela se tinha ido embora, ele tinha ficado, e se ela achava...