96ºCapitulo

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-Harry...- Ela suspira e depois coça os olhos, como se estivesse demasiado presa em alguma coisa e a tivesse assustado.

Ela parece demasiado absorvida para se ter dado conta daquilo que lhe disse, e agora que as palavras me escaparam pelo lábios sinto que fui brusco demais. Ela não está a fazer nada errado, pelo menos eu acho.

-Não ias sair com os teus colegas?- Pergunto-lhe.

Ela aponta para o lugar ao lado dela e sento-me, ela mexe a palhinha dentro do copo e depois olhar para mim.

-Eles foram sair, mas não me apetecia lá muito festejar.- Ela murmura e tenho vontade de lhe acariciar a bochecha como faço quando ela parece triste. Será que ainda está a pensar no contrato? No entanto há alguma coisa que me impede de falar, como se estivesse á espera que ela me contasse o resto, ou como se ela me estivesse a tentar dizer alguma coisa, mas eu precisasse de estar muito atento para ouvir.- A Sam foi levada hoje, a diretora do orfanato ligou-me, quando eles me avisaram do pedido de adoção pediram-me para me manter afastada, e fiz isso até agora, mas depois de ir a casa trocar de roupa... passei lá, e ela não estava no sitio de costume, e percebi que nunca mais a ia ver sentada num banco a olhar para o relógio.

Ela murmura com uma respiração sufocada e pressiona a almofada do polegar contra o olho. O tom dela faz-me sentir impotente contra a tristeza dela, e chateia-me que uma parte de mim se sinta aliviado pela pequena criança que ela nunca mais ver. Havia algo irracional em mim, ciúmes estranhos, não por mim, mas pelos filhos que quero ter com ela.

Passo-lhe o braço á volta dos ombros e beijo-lhe o cabelo.

-Nem sequer sabia que ia sentir um vazio tão grande, pensei que ia ficar triste, mas não desamparada, como se me tivesse tirada alguma coisa cujo meu maior medo seria perde-la.- Afago-lhe o cabelo.

-A tua ideia de a adotares...Sophia és muito nova para criares uma criança, deixas-te a ir foi uma decisão muito altruísta, ela está numa nova casa e tem uma mãe que pode tomar conta dela.

Ela ergue a cabeça e olha para mim com o olhar em chamas, os olhos ainda mais verdes pelas lágrimas acumuladas.

-Eu tomei conta dela.

-Eu sei, mas tu não estavas a tempo integral com ela, educar uma criança é uma tarefa para a vida, não pode ser feito como a maioria das coisas na tua vida "quero isto, então vou fazer agora".

Quero consola-la, mas quero que ela entenda que não havia maneira de eu a deixar adotar uma criança, pelo menos não agora, ela mal consegue manter-se em pé por mais de algumas horas, ela tem que ser lembrada de quando comer, o que comer, quando se deitar e do tempo que faz lá fora. Ela vai ser uma mãe adorável, mas não agora.

-Uma criança não é uma coisa Harry, eu sei o que implica.- Ela agarra na mala e levanta-se, olha para mim, como se a perguntar " vens ou não?". Sei que este é um ponto delicado para ela, aquela miúda estava lá quando eu não estava e de alguma maneira eu sei que ela canalizou alguma coisa para a criança, um poço de amor.

Á medida que caminhamos ela recebe uma mensagem e verifica-a. Olho de relance e ela olha para mim.

-Quem é?- Pergunto, embora já saiba a resposta.

-É Ky, ficaram preocupados porque não fui com eles.- Graças a Deus por isso!

-Hum.- Agarro a mão dela e sinto-a fria, muito fria.- Estás gelada.

-Não trouxe casaco.- Ela suspira e reviro os olhos. Claro que não trouxe, se ela não pode nem lembrar-se do próprio casaco poderia fazê-lo com uma criança.- Achas que posso visita-la em casa?

Vision 3 - The SentenceOnde histórias criam vida. Descubra agora