Não sei qual de nós está mais estático, á procura de um movimento no outro para disparar argumentos. Os olhos do Harry estão arregalados e os lábios dele parecem ser a única coisa que os dedos dele estão interessados.
-Não estás a sério? Estás?- Ele parece perdido e sento-me ao lado dele, a preparar as armas.
-Claro que estou.- Digo-lhe e sorriu. É uma criança, uma criança é sempre uma dádiva.
Ele levanta-se de repente e esfrega a cara com as mãos, de repente parece que acabei de cometer um crime e que dizer-lhe isto foi um grande erro. É muito para pensar e atirei-lhe isto de chofre, como se fosse fácil. Coço os olhos e suspiro, por entre os dedos vejo-o a olhar para mim. As pernas que nunca acabam, a camisa bonita, as tatuagens a espreitar por entre os botões soltos, os lábios rachados, e aqueles lindos olhos atormentados.
-Não podes fazer isso.- Ele acaba por dizer.
-Claro que posso.- Levanto-me. Sinto o meu coração a bater descompassadamente, e é uma daquelas situações em que só quero que a tempestade se aprece para o sol brilhar mais depressa.
-Tu pensaste sequer em como isso me ia fazer sentir?- Ele avança até mim, preciso de inclinar o pescoço para olhar diretamente para ele, tão perto que ele está, o seu perfume a rodar á minha volta.
-Foi antes de voltares a aparecer Harry.- Devia ter dito isto?
-Ah então nunca te passou pela cabeça depois de voltarmos falares-me nisso?- Ele afasta-me do caminho e anda até á janela da sala.
-Achei que depois de a conheceres tinhas entendido.- Murmuro.
-Mas não entendi, porque nunca falas comigo!
-Estou a falar agora...- Porque é que me sinto tão culpada.- Tu não...não queres adotar?
Ele vira-se de repente e arregala os olhos como se estivesse a perguntar-me se estou a brincar com ele.
-Não!- Ele cospe e parece que todo o meu corpo estremece.
-Porque não? É uma criança Harry!- Ele não quis dizer mesmo isto.
-Não quero adotar agora, não quero ser um pai agora.- Ele volta a vir para mim.
Imagens de todas as vezes em que falou com crianças, em que mencionou ter filhos, casar. Para onde foi tudo isso? Onde está o homem amoroso? Não lhe estou a pedir nada do outro mundo...ou estou?
-Tu querias ter filhos, quando estávamos juntos á três anos.- Murmuro.
-Sim, mas não naquela altura, tinhas dezoito anos, agora tens vinte e um, continua a não ser uma idade conveniente. Era só uma maneira de falar.- Ele parece exasperado.
-Mas querias casar?- Avanço para ele. Estou a ficar irritada, a Sam é uma criança adorável e merece amor como qualquer outra.
-Sim, e ainda quero, mas não podes comprar estar casado e ter um filho. Mal consegues tomar conta de ti Sophia, mal te lembras de que precisas de almoçar!
Sei que ele tem razão, sei mesmo que tem...mas aquela menina, ela foi o meu apoio por estes três anos e agora deixa-la ir? Sem mais nem menos.
-Para além disso quero um filho, um filho meu.- Ele orgulhosamente diz.
-Podias ter.- Viro-me e ando até á casa de banho, quando tento fechar a porta a bota castanha fica entre a barreira que me separar dele.
-Não fujas! Estamos a conversar.- Ele inclina a cabeça para me ver e quero mesmo dar-lhe um pontapé por ser tão incessível.
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Vision 3 - The Sentence
FanfictionSentado, numa cama de hospital, sozinho, ele lembra-se da ultima vez que se sentiu assim, abandonado. Fecha os olhos e lembra-se da mãe, depois reage como sempre reagiu. Com raiva. Porque se ela se tinha ido embora, ele tinha ficado, e se ela achava...