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Depositei vinte dólares sobre o balcão do florista no cemitério público de Fort Valley, saindo de lá com um arranjo feio de flores amarelas em uma das mãos

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Depositei vinte dólares sobre o balcão do florista no cemitério público de Fort Valley, saindo de lá com um arranjo feio de flores amarelas em uma das mãos. Não tínhamos muitas opções. Os amigos abastados do meu pai não costumavam enterrar seus entes queridos na cidade justamente pela falta de elegância do único cemitério que tínhamos. O que era uma noção escrota.

Era um cemitério. Não era para ser algo moderno e divertido.

Minha mãe quis ser enterrada na cidade. Um de seus últimos desejos foi que meu pai não me submetesse a viagens longas e desnecessárias quando eu precisasse conversar com a minha mãe – embora, sem interlocução, eu não achava que podíamos chamar aquilo de diálogo.

Eu fiz o caminho que já sabia de cor, entre as lápides simples e planas. Danielle Marie Jones estava gravado em pedra em uma fonte sofisticada, bem como as datas que evidenciavam seu curto período de vida. Minha mãe tinha acabado de completar quarenta anos quando partiu.

Podia ser pior, eu sempre tentava me convencer, enquanto caminhava pelos outros túmulos. Alguns filhos sequer tiveram a oportunidade de conhecer as próprias mães. Mas eu tive dez sólidos anos com a minha, e pagaria o preço da dor de perdê-la em mil vidas, se eu tivesse que escolher. Não trocaria meu tempo com ela por nada.

Lá pelos dezesseis anos, as lágrimas pararam de cair. Meu terapeuta dizia ser preocupante, mas eu achava bom. Assim, conseguia visitar o túmulo da pessoa que eu mais amava no mundo sem que outros visitantes do cemitério sentissem a necessidade de consolar o filho do magnata da tecnologia que todo mundo queria puxar saco para conseguir algo.

Arrumei as flores na cabeceira da lápide, sorrindo para ela. Minha mãe sempre me lembrava de colocar um sorriso no rosto, e eu gostava de pensar que ela estava vendo.

Uma compressão no meu peito tornou a minha respiração irregular, e eu tive que olhar para frente. Só porque eu não chorava mais, isso não significava que era fácil encarar a frase "amada mãe e esposa" abaixo do nome dela no mármore.

Foi quando meus olhos pousaram em uma garota de cabelos cor de fogo, parada poucos centímetros à minha frente. Eu a reconheci pela jaqueta e deduzi que tivesse pintado o cabelo. Antes que pudesse controlar o impulso, caminhei até ela. Não me preocupei em estar sendo inconveniente. A garota não saía da minha cabeça.

— Dia difícil? — perguntei, desesperado pela resposta, e para que ela se virasse para me olhar. Eu tinha memorizado seu rosto, mas queria ter a certeza de que ela estava ali. De que eu não a havia imaginado.

— Vida difícil. — a garota respondeu, abrindo um frasco que trazia consigo e dando um longo gole. Ela estendeu o frasco para mim, e eu aceitei, sem saber o que fazer com as mãos.

Vodca antes das dez da manhã. Devia ser, mesmo, difícil. O que quer que ela estivesse passando.

— Quer falar sobre isso?

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