Griffin Jones estava na minha primeira aula do dia. Nos sentamos em cantos opostos da sala de aula, e eu mantive meus olhos colados no professor de Literatura, não ousando desviar por um segundo.
Era como se eu resistisse a um campo magnético.
Eu queria olhar para ele. Queria percorrer cada centímetro de seu rosto para ter certeza de que eu não tinha como saber se o garoto do bar era mesmo o Griffin Jones das cartas de Marissa.
Ainda assim, mesmo seu comportamento aqui, na escola, era tão diferente do garoto de guarda baixa que eu havia conhecido no meu primeiro dia na cidade. Quando uma parte de mim ainda era Samantha Ward.
Quando eu ainda era eu.
O sinal tocou, anunciando o fim da minha tortura, e eu fui caminhando erraticamente pelos corredores até o meu armário. Antes que pudesse chegar até ele, no entanto, cruzei um corredor e dei de cara – ou melhor, de costas, já que ele estava virado na direção oposta – com o objeto dos meus pensamentos recorrentes. A garota loira que estava com ele mais cedo estava em sua frente.
Eu me apressei em correr e me esconder atrás da parede perpendicular ao corredor antes que um dos dois me visse. Mesmo que eu não quisesse ouvir a conversa, aquele era um d'Os Cinco. Precisava saber, e era uma oportunidade perfeita.
Enquanto acalmava minha respiração, pude ouvir o que falava.
— Não é da sua conta, Ashley.
— Na verdade, — a voz dela soava teatral, como se ela estivesse esperando ser ouvida — é muito da minha conta. Sabe como é, eu não quero parecer idiota na frente de toda a escola se meu namorado está correndo atrás de outra garota pelos corredores.
Namorado.
— Eu não sou seu namorado. Já conversamos sobre isso.
— É mesmo? Não é o que pareceu no último fim de semana, quando você me levou para jantar e depois passou na minha casa para a sobremesa com meus pais. Não é o que pareceu quando, depois de se despedir da minha mãe com um beijo na mão, e cumprimentar meu pai, você deu a volta na minha casa para entrar no meu quarto pela janela que você sabia que eu ia deixar destrancada. Definitivamente não é o que pareceu quando você me disse que eu era a garota mais gostosa que você já tinha sentido. E eu preciso te lembrar que você ainda estava dentro de mim quando disse isso?
— Pare. — Griffin cortou, a voz consumida por agonia. Minha mente espiralava, tentando ligar os pontos. Ele estava mesmo muito arrumado para um barman. Tinha saído direto de um encontro com sua namorada para o seu turno no bar. Para poder flertar com garotas idiotas como eu.
O que me levou à próxima conclusão.
Eu era, mesmo, muito estúpida.
Aquele era o bar de Griffin.
Eu sabia que ele tinha um bar. O que só mostrava o quanto eu estava despreparada para aquelas pessoas, para o mundo que eu estava ingressando. Sabia pouco e arriscava muito. Não podia abaixar a guarda. Não podia me desviar de meus objetivos.
Quaisquer que fossem meus sentimentos por Griffin, eles precisavam desaparecer. Eu tinha que esquecer nosso encontro no bar, no cemitério, e tinha que apagar seu rosto do primeiro plano da minha mente.
Ele era um alvo agora, como todos os outros.
+ + + +
Então, eu conheci Logan Clive.
Ela estava me esperando do lado de fora da sala de aula, para me acompanhar até a cantina no horário do almoço. Quando se apresentou como presidente do Comitê de Boas-Vindas, isso e o uniforme de líder de torcida com a braçadeira de capitã entregaram sua identidade para mim.
Marissa a tinha descrito em suas cartas com tanta acuracidade, que era quase como se eu já a conhecesse. O único aspecto que parecia menos realista era a beleza de Logan. Sorrisos como aquele deviam estar na televisão, ou em anúncios de pasta de dente. Sua pele negra e aveludada era tão perfeita, que era como se nunca tivesse sido atormentada por um problema com acne, embora estivesse no auge da adolescência.
Notei a fita vermelha que adornava seus cachos escuros e bem definidos. Combinava com o uniforme, mas seria só isso? Eu não tinha visto aquelas fitas em outras líderes de torcida que passaram pelo meu caminho nos corredores.
Logan me convidou a me juntar aos amigos dela no centro da cafeteria, em uma mesa redonda que ficava bem à vista de todos os pontos do salão. Olhos me seguiam enquanto eu caminhava até lá, após receber um convite da rainha da Fort Valley High School para conhecer seu palácio.
Eu só não esperava que ela fosse tão gostável.
Minha experiência com garotas populares não era das melhores. Meninas mesquinhas que se achavam o centro do sistema solar, que mandavam e desmandavam em seus admiradores, faziam de tudo para ter o que queriam e obliteravam a concorrência sem perdão. Não era por isso que Logan era tão querida, no entanto. Eu percebi rápido demais, mas não devia ter ficado tão surpresa.
Marissa não a amaria, se ela não fosse digna.
Esse privilégio era de um garoto.
— Pessoal, essa é a Lauren. A novata.
Escondi minha reação ao ouvir meu nome falso saindo da boca de um de meus alvos; por mais que eu tivesse uma boa impressão de Logan, ela era no mínimo cúmplice, e no máximo responsável pelo que tinha acontecido com minha irmã. Eu sabia disso.
Havia quatro pessoas sentadas à mesa.
Apenas três cabeças se levantaram para mim.
E, então, eu conheci Hero Asher.
n/a: capítulo rapidinho e pouco movimentado, só para dar a vocês um pouco da perspectiva da sam naquela cena. acho que as reações dela fazem mais sentido agora que vocês sabem o que se passava na cabeça dela, não é?
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PONTO DE VISTA
Teen FictionTodos conhecem Os Cinco. O grupo de amigos tão unido quanto exclusivo, com destinos selados por um segredo. Cinco adolescentes com personalidades que deveriam ser antagônicas, mas convergem para um objetivo em comum. Um pacto, uma promessa de vida:...