— Oi. — Lauren me cumprimentou, adentrando a porta e girando a cópia da chave que eu tinha deixado com ela. Nós tínhamos desenvolvido uma pequena rotina naquela semana. Ela chegava da escola, e eu já estava em casa. Sempre saíamos separados para não levantarmos suspeitas do grupo, e eu deixava Asher em casa para me certificar de que ele estaria lá.
Então, eu cozinhava o jantar para nós. Lauren ficava sentada na ilha de cozinha enquanto eu o fazia, e conversávamos sobre tudo. Eu tinha contado a ela um pouco sobre a minha infância. Sobre a minha mãe. Cheguei a mencionar o tempo que passei no internato. Era um assunto que eu evitava ao máximo, pois tinham sido os anos mais miseráveis da minha vida. Ela chegou a me perguntar sobre Ashley, que sempre fazia o maior alarde para falar comigo nos corredores da escola. Me empolguei ao perceber a nota de ciúmes que permeava sua voz quando ela disse o nome da garota.
Lauren me contava sobre a vida no orfanato, na cidade grande, e sobre seu relacionamento com Sam. Ela tinha tido uma vida difícil, sim, mas sempre me impressionava o fato de não parecer ter planos para o futuro. Eu imaginava que depois de sua emancipação, as coisas melhorariam. Ela poderia fazer faculdade, ou não. Poderia escolher onde morar. Não tinha raízes.
Naqueles momentos, nós fingíamos que o mundo porta afora não existia. Nos permitíamos viver na nossa própria realidade. Não falávamos sobre Hero, sobre os outros. Eu não perguntava se ela já tinha conversado com ele, porque o assunto me incomodava – como deveria.
Eu tinha passado os últimos dias não só reunindo coragem para dizer o que precisava, mas também me despedindo. Eu sentiria falta dos beijos que compartilhávamos até dormirmos, lado a lado. Dos olhares que trocávamos sem dizer uma palavra.
Me convenci de que meu coração sobreviveria, e a cumprimentei.
— Oi.
— Vim só pegar minhas coisas. — ela explicou — Eu e as garotas vamos nos preparar juntas para o baile. Kennedy está muito empolgada para fazer meu cabelo. Aparentemente, eu não faço um bom trabalho sozinha.
A naturalidade em seu tom era punição para minha alma.
— O que houve? — Lauren perguntou, ao notar minha rigidez — Você está estranho.
— Lauren, eu... nós não podemos mais fazer isso.
Ela franziu o cenho para mim, uma pequena ruga se formando entre suas sobrancelhas. Seus olhos procuravam pelos meus, querendo saber se eu estava jogando algum tipo de jogo. Pela primeira vez desde que ela pusera os pés em Fort Valley, eu não estava.
— Asher... é como um irmão para mim. Você sabe.
— Como sei.
— Eu não quero fazer isso. — falei, mesmo sabendo que queria. Eu só não podia. Não quando ele estava tão convencido de que ela era a garota certa para ele.
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PONTO DE VISTA
Ficção AdolescenteTodos conhecem Os Cinco. O grupo de amigos tão unido quanto exclusivo, com destinos selados por um segredo. Cinco adolescentes com personalidades que deveriam ser antagônicas, mas convergem para um objetivo em comum. Um pacto, uma promessa de vida:...