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Eu odiava domingos

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Eu odiava domingos. Eram dias que pareciam ter duração infinita e nenhum desfecho satisfatório, em especial, porque o toque de recolher do orfanato soava mais cedo no primeiro dia da semana.

Era um dia que parecia nascer para acabar, enquanto esperávamos o começo de um que valesse a pena ser vivido.

Nenhuma das supervisoras queria ter o trabalho adicional de conferir as camas tarde da noite, e a brilhante solução que haviam encontrado para não ter que fazê-lo era nos trancafiar em nossos quartos e nos punir com a nossa própria liberdade – ou solidão – caso desobedecêssemos às regras.

Naquela semana, minha emancipação tinha sido formalizada. Era o primeiro domingo em que eu realmente podia fazer o que quisesse, em vez de ficar encarando as paredes encardidas do quarto onde eu dormia em um beliche que não era dividido com mais ninguém. Era o primeiro domingo em que eu podia escolher.

E eu tinha escolhido trocar de identidade com minha ex-namorada e cair na estrada, rumo à cidade em que minha irmã tinha vivido seu último dia.

Enquanto a distância entre mim e Fort Valley diminuía, me perguntei como teria sido o último domingo de Marissa. Se teria acordado em sua casa de dois andares, cheirando a biscoitos frescos, e recebido um beijo de sua mãe adotiva enquanto tomava café-da-manhã. Seus pais sairiam para uma caminhada e ela passaria a manhã ouvindo Taylor Swift em seu quarto, dançando com seus pompons de líder de torcida e parando somente para trocar mensagens com o garoto que fazia seu coração disparar.

Teriam os dois se encontrado secretamente naquela tarde? Teria Marissa aberto a gaveta sob sua escrivaninha e destampado sua caneta favorita – com tinta vermelha – para me escrever uma carta, enquanto eu, trancada no dormitório coletivo, aguardava ansiosamente por notícias dela?

Se dependesse dos pais de Marissa, eu nunca saberia.

Já era surpreendente o bastante que eles tivessem se dado ao trabalho de ir até o orfanato para me contar pessoalmente que, do mesmo modo que eles não tinham mais uma filha, eu não tinha mais uma irmã. Eles nunca foram muito fãs do nosso relacionamento. Seja por culpa, ou por receio de que Marissa fosse se tornar como eu.

A ironia não me escapou. Se eu também tivesse pais, talvez não tivesse me tornado quem sou hoje. Talvez eu estaria no meu quarto colorido, repleto de pôsteres de celebridades e coleções de vinis dos meus artistas favoritos, rodopiando em meus pijamas ao som de uma música cativante.

Mas eu não era essa garota.

Eu era a garota que estava dirigindo um carro velho até uma cidade em que eu nunca tinha pisado, com a identidade da minha ex-namorada no bolso e tinta de cabelo em uma sacola de farmácia no banco do carona.

Para descobrir a verdade sobre o que tinha acontecido no dia que Marissa Ward Pembleton faleceu.

Eu queria respostas, e as teria. Se minhas suspeitas se confirmassem, eu também queria que os culpados pagassem pelo que fizeram, e eles pagariam.

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