XII - Vícios

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NÃO É TÃO SIMPLES VIVER A VIDA. Às vezes ela te levará a caminhos imprevisíveis e inevitáveis, e não há nada que se possa fazer para mudar isso. Park Jimin abriu os olhos e a primeira sensação que teve foi medo, e não era pela dor em seu corpo e nem pelo lugar em que se encontrava — o qual sua mente ainda não havia recordado —, mas sim por temer que tudo tivesse sido um sonho.

Quando tentou se levantar, desistiu da ideia apenas pendendo a cabeça para o lado: novamente sozinho. Odiava tanto dormir em qualquer situação, e além dos sintomas de guerra, também sentia fome.

— Jungkook? — procurou pelo outro.

O quarto estava escuro, as luzes tinham sido apagadas. Havia uma brecha luminosa no vão da janela de madeira e ele entendeu que era noite. Será que a avó e o pai dele voltaram? Esfregou o rosto e choramingou; não importava o que fosse, teria mesmo que levantar da cama.

Impulsionado pela necessidade, conseguiu sair, mesmo cambaleando. Por que se sentia tão exausto? O importante era, ainda assim, estar movendo-se. Apenas o som das suas passadas marcava o ambiente. Tudo o que tinha que fazer era achar Jungkook naquela casa.

Saindo do quarto, ele virou-se para a esquerda. A luz da cozinha estava acesa.

E foi naquele exato momento que Jimin compreendeu que não estava pronto para encarar Jungkook, se sentindo um adolescente tímido e inseguro. Respirou fundo, tentando pensar no que poderia dizer e o que aconteceria, mas chegando ali não tomou atitude alguma...

... diferente de Jungkook.

O moreno não pediu e não desperdiçou tempo avisando o que faria, simplesmente envolveu o ruivo por trás com os braços e descansou o queixo no topo de sua cabeça, apossando-se implacavelmente daquele sentimento que precisava com apenas um ato. Park foi tomado de alívio. Sim, o sentimento estava mais forte, mais do que ele esperava. Àquele nível, se completavam. Não eram tão distintos agora: era o mesmo princípio.

— Você está bem? — A voz suave de Jungkook soou no silêncio.

— Estou, Anpan... e você? — Deslizou a mão no braço do mais alto, que estava ao seu redor.

— Pensei em ir embora. Pensei em desaparecer no meio dessa noite.

Jimin se virou abruptamente, momentaneamente confuso. Agora era Jungkook que sequer olhava em sua direção.

— Por quê?

Silêncio.

— Jungkook?

Notando que a respiração do moreno se acelerou, atordoado Jimin o fitou. Pela mistura de impaciência e preocupação de ter feito algo errado, ele segurou a mão grande com cuidado.

— É como se eu tivesse ultrapassado os limites da razão...

O ruivo entendeu de imediato o sentimento que o humanoide carregava, e quando imaginou que discutiria mais uma vez para que o moreno compreendesse que ele era tão real quanto outro ser humano, foi apenas incapaz de dar início ao debate. Entrou em um sentimento tão profundo, que sufocou o peito e fechou a garganta. Os olhos gentis se encheram de lágrimas de tristeza, pois a sensação era tão dolorosa que ainda não havia conhecido em sua vida algo parecido.

Não era capaz de sentir raiva dele agora, e percebeu tal coisa com aquele novo e estranho sentimento. Havia sentido o amor em todos os detalhes, desde os beijos bagunçados ao toque na pele: tudo inspirava paixão e romance. Não tinha mais dúvidas disso, mas agora nascera uma certeza tão cruel de que aquele homem era uma máquina, e que o próprio e nem o mundo jamais aceitariam suas condições reais. A dor de Jungkook estreou por debaixo da sua pele e cravou em seus ossos, aquela injustiça tão grande o fez pensar em ceder qualquer coisa em sua vida para que ele pudesse ter um coração que batesse.

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora