IV - Diga sim

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O CORAÇÃO DE Jimin acelerou; ele sentia medo. Estava sozinho e poderia ser morto facilmente, visto que o Anpanman só havia segurado seu pulso e os ossos quase se quebraram; querer encará-lo agora não parecia ser uma ideia inteligente. Passou pelos estilhaços de vidro no chão e abriu a porta, deparando-se com fragmentos maiores — estes que encheram seu carpete com água. A jarra na cômoda era agora apenas uma lembrança.

Escutou passos na escada do terraço.

Jimin imaginou que mais nada o chocaria naquele dia, mas tinha se enganado. Não arriscou virar-se e ir até a sala, para encontrar seja lá quem estivesse ali. Ficou em silêncio, em uma mudez pesada. O ruivo não compreendia porque aquele sistema cibernético havia o escolhido. Pensou apenas que era um delírio a hipótese. O que havia acabado de decidir ao expulsar Taehyung dali? Encarar aquele robô enorme sozinho? Isso parecia uma escolha certa?

Respirou fundo e foi andando para sua sala, então encontrando o Anpanman sentado o mais imóvel que podia na poltrona, cuja respiração não-humana estava bem acelerada e seu rosto era o reflexo da vergonha que sentia, assim como também transmitia o esforço de alguém que parecia segurar lágrimas de raiva e frustração.

— Anpanman... — Jimin não conseguiu dizer algo a mais.

— Me chame de Jungkook, por favor. — Ele fungou o nariz, esfregando-o em seguida com as costas da mão ao travar os maxilares.

Park sabia o motivo da tristeza do IA, que provavelmente havia escutado as palavras de Taehyung antes que saísse. Todavia, sem importar o porquê e as razões, ele precisava resolver aquele problema, porém os músculos não respondiam. Permaneceu travado, sem deixar de olhá-lo um segundo sequer. Estava enfeitiçado outra vez em sua perfeição; não haviam palavras que descrevessem-no, pois tudo seria apenas dados. A realidade era assustadora e sua beleza era, sem dúvida, um encanto sobre-humano.

Literalmente.

Luvas para as palmas, calça e bota estilo coturno, de couro. Cabelos escuros e aparentemente macios.

— O-Oi... — Sentiu sua garganta travar.

Anpanman ergueu apenas os olhos em sua direção, mantendo-se perfeitamente imóvel, mas não como uma estátua, um robô ou um objeto: era humano. Sua respiração estava entrecortada e Jimin jurou sentir uma espécie de nervosismo ser refletido naqueles olhos vívidos.

Ficaram assim por mais de dois minutos, nos quais o humanoide não disse nada, apesar de ter invadido a casa alheia, quebrado a jarra de suco e um copo... Ah! O ruivo quase ia se esquecendo: deslocado-lhe o pulso.

Jimin pigarreou para quebrar o silêncio.

— Então não vai dizer nada?

— Eu não sei o que dizer...

— Poderia começar explicando o porquê de ter invadido a minha casa.

Anpanman abaixou a cabeça e ficou olhando para as próprias mãos entrelaçadas. Respirou fundo e finalmente abriu a boca:

— É que eu não tenho para onde ir...

— E achou que minha casa fosse uma opção? Tem pessoas que moram debaixo da ponte, ficam em casas de banho, mas nunca vi alguém decidir morar na casa de outra pessoa. — Sim, ele estava irritado. Ocorreram muitas coisas ruins em um dia e o culpado dos seus problemas apresentava-se bem na sua frente. — Preciso de uma resposta melhor, antes que eu mude de ideia sobre não ligar para Taehyung e pedir para que ele volte correndo com um batalhão de homens para te levar daqui.

Passou os dedos entre seus fios ruivos, fechando os olhos e tentando absorver alguma estrutura lógica. Porém, o que diabos estava pensando? Jungkook era um humanoide, não fazia sentido algum querer conversar ou considerar hipóteses sobre seus sentimentos artificiais.

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora