VIII - O mundo em suas mãos

34 6 3
                                    

JIMIN ESTAVA distraído, olhando para a carne grelhada que fizera no almoço, cuja porção era o bastante para dois. No entanto, Jungkook não comia e havia se esquecido disso. Naquele momento, então, já tinha anoitecido e era o momento perfeito para que o Anpanman saísse sem ser visto.

Terminou de contar o dinheiro que seria necessário para a viagem e sentiu que ainda era pouco. Guardou a carteira no bolso e colocou as notas de wons na mesa, indo sentar-se no sofá da sala para esperar. Jungkook estava se trocando; suas roupas já estavam secas e passadas. Quando saiu do quarto, Jimin mal conseguia abrir os olhos.

— Dormindo de novo?

Depois da noite terrível e de uma tarde agradável, iriam se despedir.

Jungkook pediu o celular do ruivo, o qual apenas o entregou sem questionar, assistindo-o se fechar dentro do quarto com o aparelho. Cinco minutos. Cinco breves e estranhos minutos. Por alguma razão, a demora o deixou angustiado; era o que chamavam de premonição, sem dúvidas.

A porta se abriu e ele parou.

— Jungkook?

Silêncio.

O humanoide fitou o ruivo com uma intensidade duradoura.

— Tranque todas as portas.

— Ah, acha que sou criança?

— Isso é sério, Jimin. Isso é muito sério.

— Está mesmo falando sério?

— Apenas fique aqui.

— E quanto a você? Eu pensei que te levaria na rodoviária.

— Irei ficar bem. Prometo.

O moreno não desviou o olhar. Jimin não podia pensar, perdendo o fôlego.

— Então vai ser agora? Não vou te ver outra vez?

Naquele momento suspenso no tempo, Park queria dizer com toda a sua voz que iria aonde o outro fosse. Os olhos muito escuros ainda o encaravam.

— Não. — Arfou o outro.

Existiam autos que faziam Jimin não segui-lo: sua casa, não ser preso e ajudar uma máquina ultrapoderosa de bilhões de wons. Entretanto, a lágrima que lhe escapou lamentava aquela curta frase, dizendo em silêncio que essa era a sua verdade dura e fria. Jungkook pegou o dinheiro na mesa e pareceu relutar internamente em aceitá-lo; no entanto, sabendo que não tinha outra alternativa, colocou a quantia no bolso da frente de sua jaqueta.

Para o moreno, Park não podia deixar sua realidade e mergulhar naquilo; não era o certo. Não se ele não quisesse ser exilado numa prisão ou num manicômio por causa dele. Quanto mais permanecesse ao seu lado, mais fácil era envolvido pelo desejo de se convencer de que era tão humano quanto o ruivo.

Entretanto, para Jimin, havia o sentimento de perda: Jungkook estava desaparecendo de sua vida completamente.

O rapaz ficou triste por duas coisas: saber que a hora de Anpanman partir havia chegado e não poder ajudá-lo mais do que aquilo. Estava envergonhado de sua própria impotência em salvá-lo. Mas ficou contente por duas coisas também: pelo privilégio de conhecer o verdadeiro Anpanman e pelo último dia junto a ele ser contemplado com o prazer de criar uma bela lembrança.

Depois de um instante pesado de silêncio, Jungkook assentiu, firmando o maxilar. Antes que o ruivo pudesse dizer que sentiria sua falta, viu-o sair no momento seguinte, sabendo que aquele seria o adeus; algo sem um abraço, ou um aperto de mão...

Ou foi o que pensou que aconteceria.

Jimin ficou parado, entorpecido, e olhou a sala vazia, lutando para se concentrar e não se afogar no sentimento sufocante de abandono que crescia dentro de seu peito. Não era de agora que ele havia notado que o humanoide não era bom em despedidas; não poderia julgá-lo, seu costume de ser deixado para trás o impedia de mover um músculo para alcançá-lo e pelo menos abraçá-lo uma última vez.

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora