XXII - A prova de balas

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OS OFICIAIS CONTINUAVAM empenhados e comprometidos em descobrir a capacidade do Projeto 2000. Era uma instalação bem iluminada, as paredes eram brancas e limpas, mas a porta de entrada era maciça e em sua frente estavam postos dois homens armados. Jungkook estava sentado em uma cadeira de concreto, em uma sala de observação com vidros a prova de bala, completamente preso por trancas de ferro nos calcanhares e punhos. Os soldados e oficiais ao redor estão vestidos com jalecos brancos, e nunca se sentiram tão felizes em estudar o que chamavam agora de "criação única".

— Repetição cinco, vamos para dez? — o homem arrasta o suporte com uma metralhadora engatilhada para dentro da sala.

— Dez eu enfrento, mais que isso eu hesito.

— Faremos cem, Ken. Cem disparos.

— Por que ele parece assustado?

— Você disse a palavra certa, amigo. — tira o gatilho — Ele só parece assustado. É uma figura humana, mas ele não é humano.

O seu companheiro engoliu em seco quando a porta foi fechada e o outro se aproximou do observatório, ativando os disparos da metralhadora. Os cartuchos iam se espalhando pelo chão, algumas balas ricocheteiam, o peito coberto de uma pele perfeita e intacta começa a se arrebentar e revelar o brilho do metal, cada vez mais marcado pelas balas.

— Perfeito. — o homem sorriu, impressionado com a resistência do humanóide.

— Veja, ele está sofrendo... — Ken puxou a manga do casaco.

— Impressionante...

Jungkook contraia o rosto, os dentes trincados enquanto seu corpo recebia os impactos consecutivos pela quinta vez. Não havia destino mais cruel, imaginou, e mesmo se tentasse não tinha forças para se soltar. Sabia que deveria resistir, e abafou os gritos no fundo do peito enquanto seu corpo era rasgado, sua pele artificial se desprendeu finalmente, e sentiu que se fosse mortal, com toda certeza morreria.

O torturador continuou pelo resto do dia, concluindo a cada sucesso que não havia nada capaz de parar aquela criação única. As coisas ficaram mais difíceis de serem evitadas, os rugidos de dor se transformaram em gritos raivosos, Jungkook num repente quebrou a paz, e Ken não conseguia simplesmente ignorar isso.

— Deve haver um comando que o faça parar. — comenta ao seu superior.

Depois de uma sessão de tiros e exposição ao fogo, Anpanman não se movia, pensaram de início que estava quebrado, mas suas condições internas estavam intactas. Tudo isso entraria no relatório, apesar da força descomunal e da resistência, o humanóide apresentava falhas: a semelhança com as reações naturais de um ser humano e a redução de prontidão nos comandos. O robô parecia estar "exausto", e apesar de surpreender a todos com a intenção de fazê-lo o mais real possível, estas caracterizações não eram o que o exército sul coreano procurava em uma máquina de guerra.

Ken, o assistente do oficial é o último a sair do laboratório. Tinha medo das sensações que o olhar daquela máquina o causava, e não conseguia esquecer os gritos que ainda ressoavam em sua cabeça. Ao adentrar a sala, se aproximou do projeto, haviam destroços em toda parte, aquela pele caída no chão, outrora uma parte integral da identidade do humanóide, substituídas pelo braço de metal que surgia, com fios internos quase brilhantes que se assemelha a veias cibernéticas pulsando com energia.

— Por favor... me ajude...

Ken parou, momentaneamente paralisado pela súplica e pelo olhar desesperado nos olhos de Jungkook.

— Me tire daqui... — fechou as mãos levemente em punho, observando com espanto seus dedos robóticos recém-revelados.

O tenente Ken, descrente se o que via era real ou apenas uma pegadinha de sua mente, não demora em sair da sala com pressa, deixando-o sozinho.

— Por favor... — sussurra no vazio escuro — Eu vou sair daqui...

É o único a escutar o eco de sua própria resistência, instalando-se o silêncio como uma mordaça.

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora