XXXV - Me liberte

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JIMIN OLHAVA AS ruas da janela do táxi como se estivesse sonhando acordado. Sentia a mão de Jungkook contornar a sua, acariciando levemente seus dedos. Foi inevitável como visualizou sua própria existência fora do corpo, e como tudo continuava mudando o tempo todo. Uma nova situação e uma nova adaptação. Antes, Jungkook havia prometido nunca mais tocá-lo daquela forma, mas o tempo provou que isso e muito mais aconteceria.

Medos que antes pareciam um pesadelo eram fúteis perto do agora.

Os piores temores iam se concretizando até serem banais.

O carro estacionou na frente do prédio de vinte andares, uma construção antiga e conservada. Após pagar o taxista, descerem juntos. Não conseguiu dar um passo em frente.

— É aqui? Chegamos? Quem está lá dentro?

" Você", pensa. Sim. Ele estava ali.

Vira de costas. Não queria continuar.

Não queria dar um passo naquela direção.

— Vamos embora...

Sentiu a mão enorme cobrir seu ombro, afagando de leve. Jungkook estava preocupado.

— O que foi? Por que não me diz o que está acontecendo?

Mordeu o lábio inferior e fechou os olhos na mesma intensidade. Como explicaria? Não existiam palavras para isso. Nem mesmo sua mente conseguia processar tudo corretamente, era uma bagunça sem fim. Um caos que o sufocava. Quanto mais as horas passavam, mais percebia que no fundo tudo que desejava era que Anpanman fosse apenas um robô que Jimin amou incondicionalmente.

Com um suspiro exasperado, virou-se.

— Vamos subir.

Foram liberados na portaria depois de cinco minutos. Seus joelhos quase falharam no caminho para o elevador, e conseguiu fingir que era apenas um tropeço. Tudo parecia acontecer lentamente em uma tortura infinita.

Se culpou por não evitar o quanto estava transtornado para Jungkook, o maior começava a acompanhar sua agonia sem fazer ideia do que o esperava. Apesar de tudo que havia feito aquela altura, a decisão final caberia apenas ao Anpanman, e teria que se conformar com isso.

O elevador se abriu e encarou a porta em silêncio.

Jungkook acompanhou o olhar.

— É aqui? — e apenas esperou dez segundos, quando viu que novamente não teria resposta alguma, farto de esperar, suspirou, decidido — Vou acabar com sua agonia.

O maior foi em direção a porta e bateu uma, duas e girou a maçaneta. A porta abriu, ele espia devagar e então entra no apartamento.

O corpo de Jimin se recusou a mexer, e sentiu que os pés estavam colados no chão. Escutou a exclamação, escutou as vozes reveladas pela porta entreaberta, E então o silêncio reinou pelos próximos minutos. As lágrimas desceram em seu rosto e sentiu a dor sufocando seu peito, diferente das que já havia experimentado até aquele dia.

Estava morrendo de medo, e morrendo de pena. Sentia tanta tristeza por Jungkook precisar enfrentar aquilo que, sem saber muito bem o porquê, odiava a si mesmo por não conseguir ajudá-lo. Queria gritar o quanto o mundo era injusto, e o porque Deus havia sido cruel, mas sabia que nenhuma divindade teria culpa. Ninguém, além das consequências inevitáveis.

Como poderia olhá-lo depois do seu coração ser partido em pedaços?

Jisso estava viva. Ele estava entre a vida e a morte pela razão do aparelho que o tornava uma máquina impecável e perfeita para um corpo frágil e danificado.

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora