XVIV - O colíbri

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CASA. Jimin iria finalmente para casa, e aquele foi o vigésimo amanhecer que assistiu acontecer, e mais uma vez deixou todo esplendor o encher de perguntas. O que havia acontecido naquele tempo em que esteve internado? Seu corpo ainda estava dolorido, precisava tomar uma série de medicamentos e evitar movimentos bruscos.

— Park Jimin? — a enfermeira entrou no quarto e o olhou direto nos olhos. Tinha um rosto redondo e suave, sem linhas de expressão e o cabelo preso de improviso. — Estão esperando por você.

— Quem?

— Seus pais.

Ainda era difícil se acostumar com isso, depois do seu sumiço, agora eles pareciam estar em toda parte tentando desesperadamente corrigir os erros que cometeram. Haviam levado roupas para que saísse do hospital, mas não usava calças quadriculadas a cinco anos.Deslizou a mão devagar no tecido, e sentiu saudades. Aquilo precisava ser daquela forma? Não conversavam direito, sempre que seus pais estavam por perto mantinha o silêncio.

— Está pronto? — a voz macia cortou seus pensamentos.

— Sim. — mentiu.

Escorregou para fora da cama, e coçou o queixo enquanto saiam juntos, a barba por fazer e o cabelo crescido estava incomodando. A enfermeira o acompanhou o tempo todo, até mesmo na saída das catracas, e assim que chegou ao hall de entrada ficou impossível não reparar na limousine estacionada na rua, assim como em Kim Taehyung parado na frente enquanto conversava com seus pais. Apesar do cansaço, sentiu forças para correr.

Saiu de mansinho e foi até o ponto de táxi, encontrou dois parados esperando alguém para a corrida, e não demorou em entrar. Imaginou que os deixaria contente ao se livrar dele. No caminho já estava começando a se arrepender em não ter ido com eles, e não pela companhia, mas notou que todo seu dinheiro iria embora naquela viagem. Acabou rindo de nervoso, e antes que o taxista perguntasse o motivo, mordeu o lábio inferior, praguejando mentalmente.

Jimin imaginava que deveria estar feliz em voltar para casa, havia sobrevivido a dois tiros e finalmente não seria mais perseguido, mas não sentiu prazer ao rever as ruas da cidade que conhecia tão bem. Estava em um beco sem saída, não tinha mais um emprego e não estava em condições físicas para trabalhar, e apesar disso, nada doía mais do que a ausência de Jungkook. A ideia de que jamais veria Jungkook novamente era devastadora, não era como se Anpanman tivesse partido para viver uma vida próspera e feliz, a sua liberdade era cruelmente arrancada, e não havia nada que pudesse fazer para mudar essa situação angustiante. A sensação de impotência o consumia.

Contou as notas de won e entregou ao taxista, descendo do carro em seguida. Avistou o humilde prédio em que morava, e como sempre seu vizinha lotou o corredor de roupas no varal. Andou com lentidão, e dessa vez foram os remédios, tantos dias na maca o deixaram mais sedentário ainda.

Três lances daquela escadaria de ferro nada confiável, e então chegou no corredor. O cheiro do amaciante foi perceptível enquanto desviava das roupas ainda molhadas, abriu a porta e uma lembrança engraçada voltou em sua mente quando derrubou a chave: a penitência do destro. Seu braço direito estava imobilizado, os tiros no ombro eram a causa disso.

Pegou o molho de chaves no chão e conseguiu abrir. Esperou encontrar uma bagunça, mas estava tudo arrumado. Além disso, na mesinha central da sala havia vários envelopes. Fechou a porta e se aproximou, surpreendendo-se com todas suas contas pagas: um bilhete ao lado menciona que o feito era de Yuna e Jiun, e o telefone na linha de baixo. Então eles haviam mantido as coisas em ordem desde seu sumiço? Volta para a cozinha e pendura sua bolsa na cadeira, encontrando uma cesta de frutas e mais um bilhete, agora parabenizavam o retorno de Jimin do hospital. A geladeira, os armários, até mesmo os produtos de limpeza: estava tudo abastecido e no lugar. Nem mesmo quando morava sozinho as coisas ficavam tão certas.

Os olhos inundaram e se segurou no balcão, permitindo-se chorar. Seus pais haviam feito isso por ele, e não havia sentimento mais genuíno. Por tantos anos esperou por isso, e agora inesperadamente eles voltavam, trazendo um gosto amargo e o medo de uma criança abandonada que tudo que desejava era o colo dos pais outra vez.

Queria se trancar no quarto na mesma intensidade que desejava que eles o abraçassem.

Enquanto chorava como uma criança, escuta um som na sala que o assusta, fazendo imediatamente as lagrimas cessarem, restando apenas o fungar do nariz.

— Quem está ai?

O coração antes acelerado, se acalma ao ver Pan trotando rapido em sua direção para alcançar seus calcanhares e se esfregar neles. Miava e ronronava, e parecia feliz em revê-lo. Jimin sorriu, e se agachou para acariciar o pelo macio.

— Oras, então não se esqueceu de mim? Hmm, eu posso acariciar sua barriga, mas por que está tão grande, Pan? Andou comendo muito... — reparou, alisando-a com um sorriso calmo nos lábios — Sim, eu voltei... Voltei para casa...

Pan se revirava exigindo carícias de recompensa, e depois de tantos dias solitários, Jimin se sentiu feliz com aquela companhia. 

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora