XXXV - A verdade não dita

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JIMIN EMPURROU O travesseiro que usava para evitar a luz do amanhecer que entrava pela janela. Por que continuava descansando? Se arrasta para fora da cama e sente dor em cada cantinho do corpo. Suspirou e esperou despertar por completo. Sem trabalho, sem dinheiro e sem ninguém para confiar. Não podia pensar em dizer isso aos seus pais, sempre desejou que eles o encontrassem em uma situação boa: digna de orgulho. Naquele momento era tudo que não era.

Encontrou uma muda de roupas no pé da cama, assim como um bilhete: "tome um banho e vista isso. Sairei mais cedo da TECVision, então me espere no almoço". Em um tempo de tecnologia, os únicos recados que Jimin costumava receber eram bilhetes. Imaginou como Taehyung deveria ter demorado para escolher as palavras, relendo, levando a caneta entre os dentes. Deveria comprar logo um celular, mas como faria isso? Estava arrependido de ter jogado o seu no mar.

Ficou um tempo no chuveiro, e quando saiu vestiu a roupa sem se importar. Era menor que Taehyung, mas o maior era magro, então as roupas serviram bem. Olhou novamente para a janela, finalmente o sol nascia em Seul, dissipando toda a neblina. Seria um dia quente?

Pensa em beber água, mas sua ansiedade em ver Jungkook era maior. Leva um susto ao dar de frente com uma senhora ao lado da cama hospitalar. Estava acima do peso, mas parecia ter uma saúde boa. Os cabelos pintados não escondiam alguns fios grisalhos.

— Quem é você? — exclama.

Aquela situação não era um mistério de duas pessoas, e com Jimin, três?

Escuta uma risada descontraida, e a mulher se vira devagar para olha-lo.

— Você é Park Ji-min? — indagou com incerteza na pronúncia.

— Como sabe meu nome?

— Você me disse.

Jimin a olha, alarmado.

— Não lembro...

Outros passos chamaram atenção. Jisso estava com uma bolsa intravenosa na mão, e sorriu curto para Jimin.

— Você está com uma aparência melhor, Jimin.

O Park não respondeu, apenas a assistiu continuar com aquilo. Seu estômago revirou e não sentia mais fome, de dia podia enxergar melhor as marcas arroxeadas que se formavam na pele pálida em casa introdução de agulha espalhada no corpo inerte.

— Ele está reagindo melhor... — a senhora acaricia a mão de Jungkook com cuidado. — Talvez ele melhore de uma vez. É um garoto forte.

— Mãe... Eu não quero pensar nisso. Eu não quero imaginar o pior.

Jimin esfrega o braço esquerdo com a mão direita. De repente sentiu muito frio.

— Mãe? Você é a mãe de Jisso? Avó de Jungkook?

— Sim, eu sou. Realmente não se lembra de mim, garoto? Você foi na minha loja e comprou algumas coisas.

— Senhora... — ele fica um minuto pensando, a testa franzida ao procurar nas proprias lembranças — Senhora Nabi Cho?

— Senhora Nabi Choo. — corrige, sorrindo — Se eu soubesse que estava com meu neto tão perto de mim, não teria deixado que fossem para a casa de Jeon... Desde a tetraplegia de Jungkook, ele mudou completamente.

— Eu... Eu não acredito... Então era a senhora? Você... Você sabe de tudo isso?

— Sei. Eu também acreditei que o milagre poderia acontecer, acreditei que Jisso havia criado a maquina mais magnifica do mundo... Mas, acho que não a nada que possa modificar as coisas de Deus por muito tempo...

Choo contorce os lábios e olha para o neto.

Jisso terminou o que fazia e olhou para Jimin.

— Jungkook está sofrendo infecções variadas, e os medicamentos não estão reagindo como antes. — diz em bom tom.

— É isso que tem nos preocupado tanto. Além de meu neto estar enfiado naquele lugar perigoso, as emoções que pode passar ali só irão piorar sua saúde... As vezes eu queria que tudo não passasse de um sonho.

Jimin balançou a cabeça.

— Mas é real. — afirma, ainda enjoado. — Então isso tudo... Está custando sua vida?

As duas mantiveram silêncio, e não retribuiram o olhar.

Jimin insistiu.

— É isso?

Jisso fixou os olhos em Jimin.

— Sim...

O olhar de Jimin percorreu o enorme painel atrás de Jungkook, e então o seu corpo cheio de fios interligados em poucos espaços centimetros. Tornar-se Anpanman era mortal, o Projeto 2000 era um milagre temporario em direção a morte.

— Eu não sabia dessa decisão de Jisso, mas ela me procurou vinte cinco dias depois do seu desaparecimento, e pediu que eu aceitasse. Foi difícil no princípio, mas ao assistir as notícias na TV, saber que ANPANMAN seria uma estrela brilhante e admirada... Tudo isso era melhor do que pensar que Jungkook viveria dentro de seu corpo sem poder fazer nada. Absolutamente nada.

Jimin abaixa o olhar, mas não mexe o corpo. Aquilo estava mesmo assombrando seus pensamentos, e entendeu que duas coisas aconteceram. Primeiro, descobrir que Jungkook era de fato humano o trouxe a prova de que nunca esteve errado no que via em Anpanman: uma alma verdadeira, alguém real, e queria mostrar isso a ele. Segundo, descobrir que Jungkook era de fato humano o fez sentir medo, pois agora ele não era forte ou invencível, era frágil e indefeso.

No fim, de alguma forma ou de outra, parecia estar fadada a perdê-lo, e isso dilacerava meu coração em uma dor profunda e insuportável.

Como poderia amar um castelo de areia?

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora