V - Você pode ouvir meu coração?

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Coreia do Sul, Busan, 14 de abril de 2027.

Eram dez da manhã. Faltavam apenas cinco minutos até que os sul-coreanos pudessem ouvir o que a repórter do canal popular tinha a dizer sobre as notícias do dia. Park Jimin conferiu seu relógio no mínimo umas treze vezes na última hora, como se isso fosse fazer o tempo passar mais rápido. Hoseok e Lyn, por outro lado, atendiam os clientes da fila que se encontrava enorme.

Ele esperou com o coração acelerado. Não sabia ao certo quantas vezes isso acontecia naquele mesmo horário e daquela mesma maneira. Nenhuma explicação fora dada pela TecVision acerca da interrupção em relação ao lançamento do Beta 2000, o que acabou causando uma comoção entre os investidores e no mundo.

Park sorriu, aliviado. Jungkook ainda estava a salvo, e o dia passou sem maiores novidades.

Coreia do Sul, Busan, 19 de abril de 2027.

Depois de jantar e acabar dormindo, Park Jimin acordou ao sentir uma dor em seu pulso, a qual não era pelo fato de ter deslocado a área, mas sim porque a porcaria da munhequeira o estava apertando. Sentou na beirada da cama e livrou-se do objeto de uma vez por todas, massageando o local levemente inchado.

Um misto de remorso e ansiedade tomou conta do ruivo naquela noite. Deveria ter deixado o Anpanman ficar, afinal o humanoide poderia estar sozinho assim como ele, sem entender a razão de sua existência e criando um amargo sentimento contra si próprio. A solidão era cruel.

O telefone tocou e foi como se o universo o respondesse com ironia, como se aquele sentimento fosse apenas uma escolha: Taehyung deixava mensagens, e quando procurava por Jimin, era esquecido batendo em sua porta até que fosse embora. Nas entrevistas que Kim dava e em algumas notícias que o ruivo conseguia ler, era nítido que a maior preocupação dele naquele momento era encontrar sua máquina de guerra. Jimin sentia raiva das verdadeiras intenções do Projeto 2000, e além disso, não conseguiria mentir por muito tempo, optando então por apenas ignorar sua chamada.

Não era capaz de fazer mais nada, nem de dormir. Sua mente estava povoada de ideias desencontradas. Uma coisa, porém, era certa e ele tinha plena convicção: o Anpanman era a coisa mais real que vira em sua vida.

Coreia do Sul, Busan, 28 de abril de 2027.

Park acreditava que as coisas mais inesquecíveis aconteciam, às vezes, em um breve e passageiro momento. Decidiu ir a pé até o trabalho naquele dia, mas na volta, usou o metrô.

As notícias sobre o Anpanman haviam diminuído, contudo, bastava apenas entrar em alguma rede social que conteúdos sobre o robô "mais incrível do mundo" apareciam. Ou talvez ele estivesse vendo tanta coisa sobre aquilo com frequência que seu algoritmo havia se tornado vítima de anúncios do tipo. Por que ainda pensava nisso? Por que continuava vendo todos aqueles vídeos até o final? O metrô estava vazio. Jimin se sentou e continuou perdido ao mexer na tela daquele celular.

A solidão o seguiu a vida toda, em todo lugar. Trabalho, casa, calçadas, em toda parte. Mas por que sempre sentia que alguém estava o observando?

Desceu do vagão e parou, surpreso. Jimin não piscava em frente à oitava maravilha do mundo: lá estava o Anpanman, em um outdoor preto e branco do metrô. O robô tinha mais estilo que ele, e claramente estava usando Calvin Klein. Aquilo era uma propaganda dupla? Leu a frase de efeito.

"CALVIN KLEIN E ANPANMAN, essas duas palavras não combinam à toa", e então "nova coleção, muito mais estilo, muito mais modernidade".

A parceria da nova campanha era com ele? Sentiu um arrepio na coluna ao analisar aquele olhar de soberania com a cabeça levemente erguida e combinado aos fios negros desalinhados na testa, enquanto o comprimento do cabelo um pouco acima da altura do ombro não dava a impressão de exagero graças ao corte. Além disso, também tinha a maneira com que o humanoide puxava a manga e exibia as tatuagens do braço direito.

ANPANMAN - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora