30 - Paixão

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- Eu não sei se isso é certo. - Murmuro me afastando, ignorando toda a minha vontade de viver o perigoso.

- Isso, o que Bia? - Cassandra nos mantém próximas, me olhando nos olhos e atenta em todos os meus movimentos.

- Isso. - Aponto para nós duas. - A gente, essa proximidade, tudo isso não é certo. - Me sinto começando uma DR, e sequer temos algo. - Aquilo foi algo do momento, calor da emoção, estávamos bêbadas, não devia ter acontecido. - Passo as mãos no cabelo exasperada, eu vou surtar.

- Não devia ter acontecido? - Ela parece magoada e me odeio por isso, mas no fundo, lá no fundo, eu sei que não devemos dar continuidade ao que quer que seja isso.

- Não, não devia Cass. Eu vim aqui a trabalho, relacionamentos são complexos e complicados.

- Se você estivesse no Brasil, não permitiria se apaixonar por alguém? - Sua voz soa acusatória e doída.

- Não, eu não me permiti, nunca aconteceu. Acho que nunca achei alguém em que sentisse confiança. - E agora eu entendo o motivo de finalmente ter me deixado ser tocada, em me expor e confiar esse maldito segredo, eu estou apaixonada. Não, eu não estou, não posso estar.

- Você queria e quer tanto quanto eu, você sabe disso. - Cassandra eleva um pouco a voz, permitindo se expor, assim como eu.

- Não... - Sinto os meus olhos marejarem. - Isso não vai dar certo. Estaríamos pulando etapas, sendo precipitadas. Saímos de amigas para casadas? É loucura demais. - Corto nossa proximidade, indo para o outro lado da sala, na tentativa de conseguir pensar melhor com a distância, e de fugir da chateação em seus olhos.

- Talvez desse certo, você confia em mim, gosta de mim! E eu, caralho, eu sinto a mesma droga de coisa. Não pense que é fácil pra mim, por que não é Bianca, eu não costumo me apaixonar a muito tempo. Isso não é pra mim, mas... com você é diferente, e eu quero, Bianca, você não tem ideia de como eu quero me permitir sentir isso com você. - Nego com a cabeça, encarando a parede evitando seu olhar.

- Acho que não devemos confundir as coisas Cassandra. Estávamos bêbadas, e confundimos as coisas, foi só isso. - Me senti uma covarde em sequer conseguir dizer isso olhando em seus olhos. Mas é exatamente isso que eu sou, a porra de uma covarde fudida.

- Eu não acredito que você está dizendo isso. - Ela sorri no meio da fala, mas não o sorriso bonito que sempre gostei de admirar, não, ela está machucada, assim como eu.

- Não quero que as coisas fiquem entranhas entre nós, ou que sei lá, eu precise ir embora. Mas o que aconteceu não vai e não pode acontecer novamente Cassandra, nunca mais. - Limpo a lágrima que tanto segurei para não cair.

- Certo. -Ela funga, limpa embaixo dos olhos e levanta a cabeça. - Eu te garanto Bianca, isso nunca mais vai acontecer, pode ter certeza.

E então ela saí, me deixando sozinha com as minhas dores.

Cassandra

Sinto a minha garganta fechar, meus olhos arderem e um sentimento desconhecido crescer dentro de mim. Eu já me apaixonei algumas vezes, sim, isso já aconteceu, e todas as vezes acabaram de formas dolorosas, foram uma lição a ser aprendida. Eu não devia me deixar levar, por um lado ela tem toda razão, não é certo, mas apesar de saber disso, ainda dói, e dói muito. Saio de casa sem saber ao certo para onde vou e o que vou fazer, eu sequer tenho um rumo para ir. Não quero estar dessa forma na frente de ninguém, ao mesmo tempo que preciso colocar todo esse sentimento pra fora.

Pego o celular e digito algumas mensagens pra várias pessoas, mas acabo não enviando nenhuma, eu não sei pra onde ir, eu não tenho para onde ir.

Bato incerta na porta de Julian, não sei se deveria estar aqui dessa forma, mas eu preciso de alguém, não quero passar por isso sozinha, e não devia, certo? Apesar do estilo de vida que levo, eu ainda sou humana

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Bato incerta na porta de Julian, não sei se deveria estar aqui dessa forma, mas eu preciso de alguém, não quero passar por isso sozinha, e não devia, certo? Apesar do estilo de vida que levo, eu ainda sou humana.

- Cassandra? - Meu amigo parece surpreso ao me ver em sua porta sem te-lo avisado. - Tá tudo bem? -Ele coloca a mão em minhas costas, me conduzindo para dentro de sua casa. Raras foram as vezes em que ele me viu chorando.

- Acabou. - Murmuro me encolhendo. - Ela sequer me deu uma chance e já acabou tudo. - Deixo as lágrimas caírem.

- Bianca? - Pergunta com pesar e concordo. - Vem cá. - Seu rosto está sério, mas ele abre os braços e espera a minha iniciativa, que não demora muito. Me afundo dentro de seus braços e não ligo de demonstrar fraqueza.

Essa desgraçada entrou na minha vida como um maldito furacão, jogou tudo para o ar, me deixou completamente sem rumo ou racional. Eu sequer sabia o que estava sentindo por ela, até agora, até ela simplesmente jogar na minha cara que "não era certo".

- Ela disse que não era certo, que não devíamos confundir as coisas. - Murmuro depois de um longo tempo em silêncio. - Eu sequer sabia o que estava sentindo, apenas me deixei levar, e agora ela olha na minha cara e diz que confundimos as coisas por causa da porra da bebida. - Elevo meu tom de voz, começando a ficar irritada.

Agora, nesse momento, eu sei exatamente o que preciso.

- Mas você sabia que não devia se apaixonar por ela. - Ele fala devagar, incerto se deveria arriscar me dizer o óbvio.

- É, eu sei que não devia sentir uma unidade de sentimento por essa desgraçada! - Rosno em sua direção. - Mas sabe de uma coisa? EU SOU HUMANA, JULIAN! EU SINTO AS COISAS! EU TAMBÉM SINTO COISAS BOAS, e eu mereço ser amada também. - Grito a plenos pulmões. - Toda a minha vida é cercada de desgraça, dor, sangue. Eu não sou uma pessoa boa, e eu sei disso! Mas eu continuo sendo humana, porra. - Minha voz falha, eu estou exausta.

- Meu anjo, olha eu sei, entendo...

- Não, você não entende. - Respondo ríspida. - E sabe por que? A sua vida inteira você for cercado por pessoas amorosas, você sempre amou, porra Julian, você pôde amar quem você quisesse. Sabe o que aconteceu com as pessoas que eu amei? Elas foram mortas, brutalmente assassinadas na minha frente, porque eu não devia amar ninguém, não devia ter fraquezas.

- Cassandra....

- Mas eu estou livre agora, entende? - Interrompo sua fala com a voz chorosa. - Todos eles se foram, os meus pais estão mortos, o desgraçado do meu avô sumiu, eu estou no comando agora. Todo esse lugar pertence a mim, e ninguém tem o poder de me dizer o que posso ou não fazer, apenas eu mesma! - Meu corpo inteiro começa a formigar de ódio. - E mesma estando livre, eu ainda não posso amar ninguém.

Pego a primeira coisa no alcance de minhas mãos e jogo na parede, não percebo se quebrou ou não, mas o barulho do impacto acalentou algo dentro de mim.

- Você não vai por esse caminho Cassandra, não vou permitir. -A voz de Julian saí séria completamente ríspida, ele se aproxima.

Ignoro suas palavras e começo a jogar tudo que vejo pela frente no chão ou na parede, em minutos a sala está uma completa zona. Eu sei que vou ter que limpar essa bagunça, e pagar por ela. Mas a sensação é boa demais para simplesmente parar. 


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