Bianca
A delegacia estava calma, parecia que não tinha muito acontecendo hoje. Alguns agentes atendiam os telefones, outros andavam pra lá e pra cá, e eu me sentia perdida. Parece que é a primeira vez que coloco os pés dentro de uma delegacia.
- Bianca. - Clara me chama e sorri quando nossos olhares se cruzam. - Seja muito bem-vinda. Nervosa?
- Obrigada Clara. - Devolvo o sorriso. - Na verdade, estou mais ansiosa do que nervosa. O tempo que fiquei parada faz parecer que é a primeira vez. - Acabo sendo sincera, já me sentia um pouco íntima de Clara do tanto que conversamos.
- Vem, vou te mostrar tudo com calma, e te entregar seu uniforme. Creio que seja o suficiente para sua ansiedade diminuir.
O dia foi calmo, passei a maior parte do tempo com a Clara, que me explicou as diferenças nas leis e na forma que operam. Como sou perita, ela me mostrou alguns casos que estão sendo trabalhados e alguns que eles pretendem reabrir. Como não estive na cena do crime de nenhum caso, ela preferiu não se aprofundar tanto, por mim teríamos feito algumas análises, mas por causa da minha ausência e de estar sendo investigado pelo Bruno (policial mais metido e insuportável do departamento. As palavras não são minhas) apenas fui apresentada aos fatos.
Não tivemos nenhuma chamada que exigisse a minha presença, então trabalhei o dia inteiro sentada atrás de uma mesa. O que não me agrada muito, a ação é a minha parte favorita. Mas não tinha o que fazer. Na hora do almoço tive um contato mais direto com o resto da equipe, e todos eles são consideráveis, alguns mais chatos do que outros, mas é sempre assim. Clara, Vanessa, Fernanda e Ethan, foram as pessoas que mais me dei bem e praticamente os únicos que falei alem do necessário o dia inteiro.
Encerrei o expediente ao cair da noite e me despedi de todos eles, após trocarmos números do celular. Cheguei em casa por volta das sete e meia da noite e fui direto para o banho, e aparentemente estou sozinha em casa.
Saio do banho e coloco o meu pijama mais confortável e aceitável de perambular pela casa, deixo meu cabelo solto para secar naturalmente e vou preparar o jantar, não sou tão boa quanto a Cassandra mas sei me virar bem. Faço o simples e típico do Brasil, Cassandra me apresentou as delícias de seu país, está na hora de apresentar as minhas. Arroz, feijão, purê de batata, salada e bife acebolado, e como nessa casa não tem nada além de álcool, o acompanhamento será vinho. Grande surpresa. Montei a mesa e coloquei tudo em travessas bonitas, como ela fez para mim e aguardei sua chegada, para não morrer de fome até lá, enganei o estômago com alguns petiscos.
Enquanto aguardava a ruiva, largada no sofá, respondi as mensagens do meu irmão, já que não tive tempo para responder pela amanhã, e quando percebi estava trocando memes e mensagens no grupo que Vanessa tinha feito, definitivamente tínhamos a mesma vibe.
- Já está em casa. - A voz surpresa da ruiva me faz tirar os olhos do celular. - E está um cheiro delicioso aqui.
- Fiz o jantar hoje. Estava te esperando. - Respondo com um sorriso e deixo o celular de lado, levantando do sofá e a acompanhando até a cozinha. - Bem-vinda ao típico do Brasil, arroz, feijão, purê de batata, bife acebolado e salada. - Apresento os pratos a ruiva que prestava bastante atenção, ela coloca suas coisas em cima do balcão, e vai até a pia com o vinho na mão.
- Parece delicioso, e eu estou quase caindo pra trás de tanta fome, vem, não vamos perder mais tempo. - Cassandra lava as mãos e pega as taças na cristaleira, lavo as minhas em seguida e sento á sua frente, pego o prato dela e coloco um pouco de cada coisa e a espero degustar. - O que? Vai devolver o desconforto que te fiz passar? - Pergunta rindo.
- Sim. - Assinto séria e continuo olhando para ela. - Primeiro quero te ver provar e depois irei comer.
- Certo, vamos ver se está tão bom quanto parece. - Ela leva o garfo vagarosamente até a boca e não esboça nenhuma reação, o que deixa levemente irritada, eu sei que está fazendo de propósito.
- Não vale usar suas habilidades em não demonstrar nada. - Deixo meu lado de menina mimada falar mais alto, o que a faz rir.
- Aiai, eu amo esse seu lado de garotinha mimada, mas não precisa se preocupar, está tudo uma delícia. - Ela toma um gole do vinho e o ar de riso permanece em seu rosto.
- Não tenho um lado de garotinha mimada. - Resmungo na defensiva e começo a comer, e realmente, tudo incrivelmente perfeito.
- Não? A voz levemente aguda, o nariz em pé, e o bico no seu rosto não são sinais de comportamento de garotinha mimada? - Ela analisa o meu rosto vagarosamente, sem pressa alguma e acabo revirando os olhos. Quem não tem um ladinho mimado que atire a primeira pedra.- Não sei do que você está falando. - Nego desentendida e saboreio um pouco mais da comida. - Como foi no trabalho? - Mudo de assunto e Cassandra ri, mas não mantém a provocação.
- Tranquilo, basicamente a mesma coisa de sempre. Fiquei sentada atrás de uma mesa o dia inteiro resolvendo o problema de uns e escutando desaforo de outros. - Ela da de ombros e preenche as nossas taças. Se já não a conhecesse o suficiente, acharia que está tentando nós embebedar mais uma vez. - E você? Como foi o seu primeiro dia na delegacia?
- Entediante. - Suspiro levemente envergonhada. - Não é que eu esteja desejando o mal de alguém apenas para me envolver em um caso, mas ser a novata e ficar de fora da maioria das investigações, por que primeiro há outro investigador na delegacia e ele é um arrogante e segundo, alguns me trataram como se eu fosse realmente uma novata, parece que foi literalmente o meu primeiro dia como agente. Pode soar prepotencia, mas eu me senti meio mal, não mais do que empolgada por estar no ambiente de trabalho outra vez, é claro, mas ainda sim, um pouco deslocada e desconfortável. - O efeito Cassandra Mancini me fez confessar realmente o que senti e não contei para ninguém, contar a parte boa pra todo mundo é fácil e as coisas saem de uma forma que eu nem sinto, mas com a Cassandra é diferente, ela tem um jeito que sempre me faz acabar confessando o que realmente estou sentindo e eu nunca entendi isso de fato, é um pouco estranho, mas no fundo eu acabo gostando, não preciso fingir nada com ela.
- Principessa, é completamente normal, não tem motivo para se sentir envegonhada ou mal com isso, você está longe de casa, em um ambiente novo, onde não conhece ninguém, vai levar um tempo para você e as outras pessoas se adaptarem. Principalmente se já chegou nos ouvidos dos seus colegas que eles estão lidando com uma policial famosa no antigo ambiente de trabalho dela. - Ela se debruça sobre a mesa, olha para os lados e coloca a mão na lateral da boca, como se fosse contar um segredo. - Adultos quando lidam com alguém melhor do que eles no trablho, conseguem ser piores que adolescentes mimadas do colegial. - Não consgo conter a risada, principalmente por saber que é verdade. Adultos são mais mimados que adolescentes de filme.
- Isso eu tenho que concordar, na antiga delegacia, havia agentes que pareciam ter 12 anos quando alguém era melhor do que eles. - Ela semicerra os olhos e abre um sorissinho sarcástico.
- Alguém, no caso você, certo? - Nego ainda rindo, mesmo sendo um pouquinho verdade.
- Bom... as vezes, não vou negar algo que é mérito meu.
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A Sombra Da Máfia
Roman d'amourEntre despedidas dolorosas e expectativas altas, Bianca deixa para trás sua vida familiar para se juntar à polícia italiana. Apesar da desaprovação dos pais e do coração partido do irmão caçula, Pedro, ela encontra apoio em Cassandra, uma italiana m...